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O lobo do meu cérebro, que ainda pensava com clareza, me atinou pra ficar alerta: era aquele, o momento! Havia por ali algo além do descanso de uma enorme saudade... Acometeu-me uma dor gostosa no peito, quando senti-me no arco daquele abraço. Cerrei os cílios, segurei a respiração. Entre mim e eu mesma não havia mais nenhuma guerra interior, aliás, perdera a batalha contra a minha lucidez...

E lá estava eu nas profundezas daquele olhar - escurecido - mais por prazer do que por preocupação com o mundo que o cerca, estava óbvio... Naquele instante, toda a erupção dos meus desejos - os mais profundos - veio me abrasando as veias. Sentia que aquele momento era único. Talvez magia, pelas contagens de luas e estações que se alternavam em esperanças... ah! Meus lábios ressecaram-se mediante tamanha intensidade! Quando neles passei a língua, numa excitante e ao mesmo tempo inocente atitude, senti aquele olhar febril sobre eles. Ouvi um crepitar de fogo na lareira. Entretanto, ali não havia nenhuma!

Prontifiquei-me, num misto de ânsia e impudor: um beijo, enfim, o esperado momento para meu passaporte a caminho da plenitude...

... se não despertasse desnorteada, no sofá da sala, às altas horas da madrugada, e, nas mãos, uma folha de papel suado com uma poesia que falava de ilusão.

Editado (e ressignificado)

Luzia Avellar
Enviado por Luzia Avellar em 03/02/2025
Código do texto: T8256295
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