A história das chuvas noturnas
No mar de cima, presenciei um amor celestial. Duas figuras gasosas se beijavam molhadamente, com o vento, o beijo se acendia ainda mais, dançando os rostos, os lábios. O rapaz só tinha o rosto e um bico de passarinho; a moça era a onda que eu antevia, enorme, grande rosto, cabelos e uma boca sedenta de amor. A grandiosidade de sua espuma me confundia se era grandeza ou peso, pois detrás de toda aquele enorme alvo deleite, havia um ser que não parecia ser amigo. Pensei que era um invejoso, e era, soprou o rosto quase apagado do rapaz e ele se foi, para sempre, com suas asinhas. A mulher se entregou à sua procura, mas em nada deu. Gaviões atrás de passarinhos. Outros olhos me contaram que viram outra coisa. O veludo branco era toda as desgraças da mulher que ela carregava para proteger o passarinho da enchente de caos, que ninguém soprou nada, o passarinho quis ir. A figura era uma criatura que se criou na mulher como um cordão umbilical eterno das inexplicáveis dores que aquela multidão de algodão pesava, tão água estava das lágrimas.