NUMA CIDADEZINHA CERCADA POR MONTANHAS E PINHEIROS, TODO MUNDO ADORAVA O NATAL. TODO MUNDO... MENOS LUCAS.

LUCAS ERA UM MENINO DE OITO ANOS QUE, DIFERENTE DAS OUTRAS CRIANÇAS, NÃO ACHAVA O NATAL TÃO ESPECIAL ASSIM.

— POR QUE TODO MUNDO GOSTA TANTO DESSA ÉPOCA? — RESMUNGAVA ELE, CRUZANDO OS BRAÇOS. — É SÓ LUZES, MÚSICAS REPETIDAS E UM MONTE DE ENFEITES.

ENQUANTO SEUS AMIGOS ESCREVIAM CARTAS PARA O PAPAI NOEL E DECORAVAM SUAS CASAS COM GUIRLANDAS E ESTRELAS, LUCAS PREFERIA FICAR SOZINHO EM SEU QUARTO, DESENHANDO OU LENDO.

— LUCAS, VAMOS MONTAR A ÁRVORE? — CONVIDOU SUA IRMÃ MAIS NOVA, ANA, COM OS OLHOS BRILHANDO DE ALEGRIA.

— NÃO QUERO — RESPONDEU ELE, VIRANDO-SE PARA O OUTRO LADO.

ANA SUSPIROU, MAS NÃO DESISTIU:

— O NATAL É MÁGICO! VOCÊ SÓ PRECISA SENTIR!

LUCAS REVIROU OS OLHOS. MAGIA? PARA ELE, O NATAL NÃO PASSAVA DE UM DIA QUALQUER.

UMA VISITA INESPERADA

NA VÉSPERA DE NATAL, A CASA ESTAVA CHEIA DE RISADAS, O CHEIRO DE BISCOITOS DE GENGIBRE E A MÚSICA SUAVE DAS CANÇÕES NATALINAS. MAS LUCAS CONTINUAVA EM SEU QUARTO, OLHANDO PELA JANELA O CÉU ESTRELADO.

DE REPENTE, ALGO ESTRANHO ACONTECEU. UMA LUZ DOURADA COMEÇOU A BRILHAR DO LADO DE FORA, PERTO DA ÁRVORE DA PRAÇA. INTRIGADO, LUCAS DECIDIU SAIR PARA VER O QUE ERA.

QUANDO CHEGOU À PRAÇA, ENCONTROU UM VELHO HOMEM COM UM LONGO MANTO VERMELHO, SENTADO EM UM BANCO. ELE TINHA UMA BARBA BRANCA E OLHOS GENTIS QUE PARECIAM BRILHAR COMO ESTRELAS.

— OI, GAROTO — DISSE O HOMEM COM UM SORRISO. — O QUE FAZ AQUI SOZINHO NA VÉSPERA DE NATAL?

— NÃO GOSTO DO NATAL — RESPONDEU LUCAS, COM SINCERIDADE.

O HOMEM ARQUEOU AS SOBRANCELHAS, MAS NÃO PARECEU SURPRESO.

— ENTENDO. TALVEZ O NATAL AINDA NÃO TENHA MOSTRADO SUA VERDADEIRA MAGIA PARA VOCÊ.

LUCAS FRANZIU A TESTA.

— MAGIA? ISSO NÃO EXISTE.

— AH, MAS EXISTE SIM — DISSE O HOMEM, LEVANTANDO-SE. — VENHA COMIGO. VOU TE MOSTRAR ALGO.

O PASSEIO MÁGICO

CURIOSO, LUCAS SEGUIU O HOMEM PELA CIDADE. MAS ALGO ESTAVA DIFERENTE. AS LUZES DAS CASAS PARECIAM BRILHAR MAIS INTENSAMENTE, E A NEVE NO CHÃO CINTILAVA COMO DIAMANTES.

— VAMOS COMEÇAR AQUI — DISSE O HOMEM, PARANDO EM FRENTE À CASA DE DONA ROSA, A VIZINHA IDOSA QUE SEMPRE ANDAVA SOZINHA.

PELA JANELA, LUCAS VIU DONA ROSA RECEBENDO UMA CESTA DE BISCOITOS E UM ABRAÇO CALOROSO DAS CRIANÇAS DO BAIRRO. ELA SORRIA, COM OS OLHOS CHEIOS DE LÁGRIMAS DE FELICIDADE.

— VIU? — DISSE O HOMEM. — O NATAL É SOBRE ISSO: FAZER ALGUÉM SE SENTIR ESPECIAL.

LUCAS FICOU PENSATIVO, MAS NÃO DISSE NADA.

ELES CONTINUARAM ANDANDO ATÉ A CASA DE JOÃO, O AMIGO DE LUCAS. JOÃO ESTAVA DESENHANDO ALGO AO LADO DE SUA MÃE.

— O QUE ELE ESTÁ FAZENDO? — PERGUNTOU LUCAS.

— UM CARTÃO DE NATAL PARA VOCÊ — RESPONDEU O HOMEM. — PORQUE, MESMO QUE VOCÊ NÃO GOSTE DO NATAL, ELE GOSTA DE VOCÊ.

LUCAS FICOU SURPRESO.

— ELE FEZ UM CARTÃO... PARA MIM?

— SIM. PORQUE O NATAL TAMBÉM É SOBRE AMIZADE.

LUCAS COMEÇOU A SENTIR ALGO DIFERENTE NO PEITO, UMA SENSAÇÃO QUENTE E LEVE, MAS AINDA NÃO SABIA O QUE ERA.

A ÚLTIMA PARADA

POR FIM, O HOMEM LEVOU LUCAS ATÉ SUA PRÓPRIA CASA. LÁ DENTRO, SUA IRMÃ ANA ESTAVA AO LADO DA ÁRVORE DE NATAL, SEGURANDO UM PEQUENO EMBRULHO.

— ESTE PRESENTE É PARA O LUCAS — DISSE ELA, COM UM SORRISO. — MESMO QUE ELE NÃO GOSTE DO NATAL, EU GOSTO DELE.

LUCAS SENTIU UM NÓ NA GARGANTA.

— POR QUE ELA FARIA ISSO? — PERGUNTOU ELE AO HOMEM.

— PORQUE O NATAL É SOBRE AMOR — RESPONDEU O HOMEM SUAVEMENTE. — E O AMOR NÃO PRECISA QUE VOCÊ GOSTE DO NATAL. ELE SIMPLESMENTE EXISTE.

LUCAS OLHOU PARA O HOMEM, QUE AGORA PARECIA BRILHAR AINDA MAIS INTENSAMENTE SOB A LUZ DA LUA.

— QUEM... QUEM É VOCÊ? — PERGUNTOU LUCAS, COM OS OLHOS ARREGALADOS.

O HOMEM SORRIU E, COM UM PISCAR DE OLHOS, DESAPARECEU COMO A NEVE AO VENTO.

O DESPERTAR DO ESPÍRITO DE NATAL

LUCAS VOLTOU PARA CASA, AINDA SENTINDO AQUELE CALOR ESTRANHO NO PEITO. ENTROU NA SALA ONDE ANA ESTAVA, COM O EMBRULHO NAS MÃOS.

— É PARA VOCÊ — DISSE ANA, ESTENDENDO O PRESENTE.

LUCAS ABRIU DEVAGAR. DENTRO, HAVIA UM PEQUENO DESENHO: ELE E ANA JUNTOS, DE MÃOS DADAS, COM A FRASE ESCRITA EM LETRAS COLORIDAS: "VOCÊ É O MEU MELHOR PRESENTE."

LUCAS OLHOU PARA A IRMÃ E, PELA PRIMEIRA VEZ, SORRIU.

— QUER MONTAR A ÁRVORE COMIGO? — PERGUNTOU ELE.

ANA ARREGALOU OS OLHOS, SURPRESA, E DEPOIS DEU UM SALTO DE ALEGRIA.

— SIM!

NAQUELA NOITE, LUCAS AJUDOU A DECORAR A ÁRVORE, CANTAR CANÇÕES E ATÉ A PREPARAR BISCOITOS. PELA PRIMEIRA VEZ, ELE SENTIU QUE O NATAL NÃO ERA APENAS LUZES E MÚSICAS. ERA SOBRE ESTAR JUNTO, FAZER ALGUÉM FELIZ E SENTIR O CORAÇÃO AQUECIDO PELO AMOR.

E, QUANDO FOI DORMIR, OLHOU PELA JANELA E VIU, AO LONGE, A MESMA LUZ DOURADA BRILHANDO ENTRE AS ESTRELAS.

— TALVEZ O NATAL TENHA MESMO UM POUCO DE MAGIA — SUSSURROU ELE, COM UM SORRISO.

E NAQUELA NOITE, LUCAS SONHOU COM O NATAL MAIS MÁGICO DE TODOS.

 

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 29/11/2024
Código do texto: T8207978
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