HÁ MUITO TEMPO, NA ALDEIA ONDE O GRANDE RIO CORRIA MAJESTOSO ENTRE AS ÁRVORES, VIVIA JANDARA, UMA ÍNDIA CURIOSA E SONHADORA. ELA ADORAVA CAMINHAR ÀS MARGENS DO RIO, ONDE PODIA OUVIR O VENTO ASSOBIANDO ENTRE AS FOLHAS E O SOM DAS ÁGUAS DANÇANDO SOBRE AS PEDRAS.
UM DIA, AO ENTARDECER, ENQUANTO RECOLHIA FLORES PARA ENFEITAR SEUS CABELOS, JANDARA OUVIU UMA MELODIA COMO NUNCA. ERA UM CANTO DOCE E SUAVE, QUE PARECIA VIR DO CORAÇÃO DO GRANDE RIO. CURIOSA, ELA SEGUIU O SOM, SENTINDO O PEITO PULSAR DE EMOÇÃO.
QUANDO CHEGOU A UMA CLAREIRA ESCONDIDA, JANDARA VIU YORIXIRIAMORI, O HOMEM DE CANTO MÁGICO. ELE ESTAVA SENTADO EM UMA PEDRA, COM OS PÉS TOCANDO A ÁGUA, E SUA VOZ SE ELEVAVA COMO UM SUSSURRO DE ESTRELAS. JANDARA FICOU ENCANTADA, COMO TODAS AS MULHERES QUE OUVIAM AQUELE CANTO. SEU CORAÇÃO PARECIA DANÇAR JUNTO COM A MELODIA.
A INVEJA DOS HOMENS
MAS NEM TODOS ADMIRAVAM YORIXIRIAMORI. MUITOS HOMENS DA ALDEIA O INVEJAVAM, POIS TEMIAM QUE ELE PUDESSE ROUBAR OS CORAÇÕES DAS MULHERES. ELES TRAMARAM UMA PERSEGUIÇÃO PARA CAPTURÁ-LO, ACUSANDO-O DE FEITIÇARIA.
AO SABER DISSO, YORIXIRIAMORI DECIDIU PARTIR. ELE NÃO QUERIA TRAZER CONFLITOS PARA A ALDEIA. NA MANHÃ SEGUINTE, QUANDO O SOL DOURAVA AS ÁGUAS DO GRANDE RIO, ELE CANTOU SUA ÚLTIMA MELODIA À BEIRA DO RIO. JANDARA ESTAVA ESCONDIDA ENTRE AS ÁRVORES, LÁGRIMAS NOS OLHOS, ENQUANTO OUVIA AQUELA DESPEDIDA.
DE REPENTE, UMA TRANSFORMAÇÃO MÁGICA ACONTECEU. YORIXIRIAMORI SE ERGUEU E, NUM BRILHO DE LUZ, TOMOU A FORMA DE UM PÁSSARO DE PENAS BRILHANTES, COM TONS DE AZUL E DOURADO. ELE VOOU PARA LONGE, SEU CANTO AINDA ECOANDO NO CÉU.
JANDARA E O GRANDE RIO
JANDARA FICOU TRISTE COM A PARTIDA DE YORIXIRIAMORI, MAS ALGO DENTRO DELA MUDOU. INSPIRADA PELA MÚSICA QUE OUVIU, ELA COMEÇOU A CANTAR, SUA VOZ DOCE COMO O MURMÚRIO DO RIO.
OS ÍNDIOS DA ALDEIA, QUE ANTES ESTAVAM DIVIDIDOS, COMEÇARAM A SE REUNIR PARA OUVIR JANDARA.
JANDARA CONTINUOU CANTANDO, E SEU CANTO TORNOU-SE TÃO BELO QUE AS ÁRVORES PARECIAM INCLINAR-SE PARA OUVI-LA, E OS PÁSSAROS SILENCIAVAM PARA DEIXAR SUA MELODIA PREENCHER O AR. SUA VOZ, EMBORA INSPIRADA PELO CANTO DE YORIXIRIAMORI, TINHA UM SOM ÚNICO, COMO O BRILHO DA LUA REFLETIDO NO RIO.
CERTA NOITE, ENQUANTO CANTAVA SOZINHA ÀS MARGENS DO GRANDE RIO, JANDARA OUVIU UM SOM FAMILIAR. ERA O CANTO DE YORIXIRIAMORI, SUAVE COMO O SOPRO DO VENTO NAS FOLHAS. ELA OLHOU PARA O CÉU E VIU, ENTRE OS GALHOS, O PÁSSARO DE PENAS BRILHANTES QUE ELE HAVIA SE TORNADO. ELE POUSOU EM UM RAMO BAIXO, OBSERVANDO-A COM OLHOS PROFUNDOS E LUMINOSOS.
– VOCÊ VOLTOU! – SUSSURROU JANDARA, SEM ESCONDER SUA ALEGRIA.
YORIXIRIAMORI, EM SUA FORMA DE PÁSSARO, CANTOU UMA NOTA LONGA E CLARA, E ENTÃO, PARA O ESPANTO DE JANDARA, RESPONDEU:
– NUNCA FUI EMBORA, JANDARA. EU VIVO NO SOM DO RIO, NO VENTO E NAS SUAS CANÇÕES. VOCÊ É O ELO QUE MANTÉM VIVA A MELODIA QUE COMPARTILHEI COM O MUNDO.
JANDARA FICOU SURPRESA AO PERCEBER QUE O ESPÍRITO DE YORIXIRIAMORI ESTAVA CONECTADO AO GRANDE RIO, COMO SE SUAS ÁGUAS E SUA VOZ FOSSEM PARTE DO MESMO ENCANTO.
O CHAMADO DO GRANDE RIO
MAS A PAZ NÃO DURARIA PARA SEMPRE. CERTO DIA, UMA SECA INESPERADA ATINGIU A REGIÃO, E O GRANDE RIO COMEÇOU A DIMINUIR. AS ÁRVORES QUE ANTES DANÇAVAM COM O VENTO ESTAVAM SECANDO, E OS ANIMAIS SE AFASTAVAM, EM BUSCA DE ÁGUA. A ALDEIA ENTROU EM DESESPERO.
JANDARA, DETERMINADA A SALVAR O RIO, DECIDIU PEDIR AJUDA A YORIXIRIAMORI. ELA VOLTOU À CLAREIRA ONDE ELE SE TRANSFORMARA PELA PRIMEIRA VEZ E CANTOU SUA CANÇÃO MAIS BELA, IMPLORANDO POR SUA ORIENTAÇÃO.
– YORIXIRIAMORI, POR FAVOR, ME AJUDE A SALVAR O GRANDE RIO – DISSE ELA, ENQUANTO AS LÁGRIMAS ROLAVAM POR SUAS BOCHECHAS.
O PÁSSARO DE PENAS BRILHANTES APARECEU NOVAMENTE, E DESTA VEZ, DESCEU ATÉ A MARGEM DO RIO.
– PARA SALVAR O GRANDE RIO, VOCÊ PRECISARÁ SER TÃO FORTE QUANTO O AMOR QUE SENTE POR ELE, JANDARA. HÁ UMA NASCENTE SAGRADA NO ALTO DA MONTANHA QUE ALIMENTA ESTAS ÁGUAS. ALGO A BLOQUEOU, E É LÁ QUE VOCÊ DEVE IR.
JANDARA RESPIROU FUNDO E DECIDIU ENFRENTAR A JORNADA.
A JORNADA À MONTANHA
SUBIR A MONTANHA FOI UMA TAREFA ÁRDUA. JANDARA ENFRENTOU PENHASCOS ÍNGREMES, TEMPESTADES REPENTINAS E O CANSAÇO QUE PARECIA QUERER DOMINÁ-LA A CADA PASSO. MAS SEMPRE QUE A FORÇA LHE FALTAVA, ELA SE LEMBRAVA DA MELODIA DE YORIXIRIAMORI E DE SUA CONEXÃO COM O RIO.
FINALMENTE, NO TOPO DA MONTANHA, JANDARA ENCONTROU A NASCENTE SAGRADA. UMA ENORME ROCHA ESTAVA BLOQUEANDO A SAÍDA DA ÁGUA, E AO SEU REDOR, RAÍZES SECAS ENREDAVAM-SE COMO UMA ARMADILHA. O PÁSSARO DE PENAS BRILHANTES APARECEU NOVAMENTE E POUSOU EM SEU OMBRO.
– USE SUA VOZ, JANDARA – DISSE YORIXIRIAMORI.
JANDARA RESPIROU FUNDO E COMEÇOU A CANTAR. SUA MELODIA FOI TÃO PURA E FORTE QUE FEZ O AR VIBRAR. AS RAÍZES COMEÇARAM A SE SOLTAR, E A ROCHA, LENTAMENTE, COMEÇOU A SE MOVER. COM UM ÚLTIMO ACORDE, UM SOM QUE PARECIA O PRÓPRIO CHAMADO DA TERRA, A ROCHA ROLOU PARA O LADO E A ÁGUA VOLTOU A JORRAR.
O RETORNO DO RIO
QUANDO JANDARA DESCEU A MONTANHA, O RIO JÁ COMEÇAVA A SE RENOVAR. AS ÁRVORES VOLTARAM A FLORESCER, OS ANIMAIS RETORNARAM, E A ALDEIA, QUE HAVIA PERDIDO AS ESPERANÇAS, CELEBROU O MILAGRE.
JANDARA CONTINUOU A CANTAR, MAS AGORA SUA VOZ PARECIA CARREGAR A FORÇA DO RIO, DO VENTO E DA TERRA. E EMBORA YORIXIRIAMORI CONTINUASSE EM SUA FORMA DE PÁSSARO, ELES SABIAM QUE SUAS MELODIAS ESTAVAM ENTRELAÇADAS PARA SEMPRE.
NAS NOITES DE LUA CHEIA, AS ÁGUAS DO GRANDE RIO BRILHAM COM UMA LUZ DOURADA, E OS ALDEÕES DIZEM QUE É O ESPÍRITO DE YORIXIRIAMORI CELEBRANDO A CORAGEM E O CORAÇÃO DE JANDARA, A MENINA QUE SALVOU O RIO.