NUMA ÉPOCA QUANDO O CÉU AINDA CONVERSAVA COM AS ÁRVORES E OS RIOS CANTAVAM HISTÓRIAS AOS VENTOS, VIVIA PERI, UM JOVEM ÍNDIO DA ALDEIA TUPANÃ. PERI ERA CURIOSO E CORAJOSO, SEMPRE EXPLORANDO AS FLORESTAS AO REDOR DE SUA CASA. SUA ALDEIA ACREDITAVA NOS ESPÍRITOS DA NATUREZA E RESPEITAVA OS DEUSES QUE HABITAVAM O MUNDO INVISÍVEL.
UMA MANHÃ, ENQUANTO PERI COLHIA FRUTAS NA BEIRA DO RIO, VIU ALGO BRILHANDO NO CÉU. ERA UM GAVIÃO BRANCO. SUAS PENAS PARECIAM FEITAS DE LUZ, E ELE VOAVA COM UMA GRAÇA QUE NENHUM PÁSSARO COMUM PODIA IGUALAR. INTRIGADO, PERI SEGUIU O GAVIÃO PELA FLORESTA, SEM PERCEBER QUE ESTAVA INDO CADA VEZ MAIS FUNDO, PARA UMA ÁREA ONDE POUCOS DA ALDEIA OUSAVAM PISAR.
O GAVIÃO POUSOU EM UMA ÁRVORE ALTA E, PARA A SURPRESA DE PERI, COMEÇOU A FALAR:
— PERI, JOVEM DA ALDEIA TUPANÃ, SEI QUE BUSCAS AVENTURAS E RESPOSTAS PARA OS MISTÉRIOS DO MUNDO. EU SOU ARAXÁ, O ESPÍRITO GUARDIÃO DO CÉU. ESTOU AQUI PORQUE PRECISO DE TUA AJUDA.
OS OLHOS DE PERI BRILHARAM COM EXCITAÇÃO. ELE NUNCA IMAGINOU QUE UM ESPÍRITO TÃO PODEROSO O CHAMARIA.
— O QUE DEVO FAZER, ARAXÁ? — PERGUNTOU O MENINO, SEM MEDO.
— UMA SOMBRA AMEAÇA NOSSA FLORESTA. O ESPÍRITO SOMBRIO ANHANGÁ, PROTETOR DOS CAÇADORES DESONESTOS, DESPERTOU E QUER TIRAR O BRILHO DO CÉU E A VIDA DA FLORESTA. SOMENTE ALGUÉM COM CORAGEM E UM CORAÇÃO PURO PODE ENFRENTÁ-LO. PRECISO QUE VOCÊ ENCONTRE A PLUMA DE LUZ, ESCONDIDA NA MONTANHA DO TROVÃO, PARA RESTAURAR O EQUILÍBRIO.
PERI ASSENTIU COM DETERMINAÇÃO. ARAXÁ ABRIU SUAS ASAS LUMINOSAS E DISSE:
— SUBA EM MINHAS COSTAS. TE LEVAREI ATÉ O INÍCIO DA TUA JORNADA.
O GAVIÃO VOOU SOBRE FLORESTAS DENSAS, RIOS CAUDALOSOS E MONTANHAS IMPONENTES, ATÉ CHEGAR À ENTRADA DA MONTANHA DO TROVÃO. ANTES DE PARTIR, ARAXÁ ADVERTIU:
— NESTA MONTANHA, O TEMPO E OS VENTOS SÃO TRAIÇOEIROS. USE SUA INTELIGÊNCIA E ESCUTE A VOZ DA NATUREZA. TE OBSERVAREI.
PERI SUBIU A MONTANHA, ENFRENTANDO DESAFIOS A CADA PASSO. PRIMEIRO, CRUZOU UM RIO DE PEDRAS VIVAS, QUE SE MEXIAM E BLOQUEAVAM SEU CAMINHO. ELE PERCEBEU QUE, AO CANTAR AS CANÇÕES QUE SUA AVÓ LHE ENSINARA, AS PEDRAS SE AQUIETAVAM, PERMITINDO QUE ELE PASSASSE.
MAIS ACIMA, ENCONTROU UMA CAVERNA GUARDADA POR UMA SERPENTE GIGANTESCA, COM OLHOS DOURADOS QUE BRILHAVAM NO ESCURO. PERI LEMBROU-SE DAS HISTÓRIAS DE SUA ALDEIA: A SERPENTE RESPEITAVA AQUELES QUE OFERECIAM ALGO PRECIOSO. O MENINO RETIROU UM COLAR DE SEMENTES QUE SUA MÃE O HAVIA DADO E COLOCOU-O DIANTE DA SERPENTE. ELA RECUOU, DEIXANDO-O ENTRAR.
DENTRO DA CAVERNA, A PLUMA DE LUZ BRILHAVA EM UM ALTAR DE PEDRA. QUANDO PERI A SEGUROU, OUVIU UM RUGIDO VINDO DA ENTRADA. ERA ANHANGÁ, O ESPÍRITO SOMBRIO, UMA CRIATURA COM CHIFRES DE FOGO E OLHOS VERMELHOS COMO BRASAS.
— O QUE FAZ AQUI, MENINO INSOLENTE? ESSA PLUMA É MINHA! — RUGIU ANHANGÁ.
MAS PERI NÃO RECUOU. ELE ERGUEU A PLUMA E LEMBROU-SE DAS PALAVRAS DE ARAXÁ: "ESCUTE A VOZ DA NATUREZA." O MENINO FECHOU OS OLHOS E SENTIU O VENTO, OUVIU OS SUSSURROS DAS ÁRVORES E O CANTO DOS PÁSSAROS. ELES LHE DISSERAM O QUE FAZER.
COM A PLUMA, PERI DESENHOU UM CÍRCULO DE LUZ NO AR. A LUZ BRILHOU INTENSAMENTE, EXPULSANDO A ESCURIDÃO DE ANHANGÁ, QUE FUGIU RUGINDO PARA LONGE. A FLORESTA VOLTOU A CANTAR, E A PAZ FOI RESTAURADA.
ARAXÁ APARECEU NOVAMENTE, AGORA AINDA MAIS BRILHANTE.
— PERI, VOCÊ PROVOU SER MAIS DO QUE CORAJOSO. É UM VERDADEIRO GUARDIÃO DA FLORESTA. LEVE ESTA PLUMA PARA SUA ALDEIA COMO SÍMBOLO DE SUA JORNADA.
PERI VOLTOU PARA TUPANÃ COMO UM HERÓI, E A PLUMA DE LUZ FOI GUARDADA COMO UM TESOURO SAGRADO. SEMPRE QUE A FLORESTA ENFRENTAVA DIFICULDADES, OS ANCIÃOS OLHAVAM PARA A PLUMA E LEMBRAVAM DA BRAVURA DE PERI, O MENINO QUE ESCUTAVA A VOZ DA NATUREZA.
E ASSIM, PERI E O GAVIÃO BRANCO SE TORNARAM LENDAS CONTADAS À LUZ DA FOGUEIRA, INSPIRANDO GERAÇÕES A RESPEITAREM E PROTEGEREM A FLORESTA.