EM UMA ALDEIA CERCADA PELA VASTA FLORESTA, VIVIAM OS TUPINAMBÁS, UM POVO QUE RESPEITAVA A NATUREZA E ESCUTAVA SUAS VOZES. LÁ, O CÉU, AS ÁRVORES E OS RIOS ERAM VIVOS, CHEIOS DE HISTÓRIAS E SEGREDOS. NO CORAÇÃO DESSE MUNDO, REINAVA TUPÃ, O DEUS DO TROVÃO E DA CRIAÇÃO, QUE HABITAVA AS ALTURAS DO CÉU.
TUPÃ ERA PODEROSO, MAS TAMBÉM GENEROSO. ELE TROUXERA A LUZ ÀS NOITES ESCURAS, ESPALHARA SEMENTES PELA TERRA E ENSINARA AOS HOMENS COMO VIVER EM HARMONIA COM O MUNDO. MAS HAVIA UM SEGREDO SOBRE ELE QUE POUCOS CONHECIAM: O TROVÃO, SUA VOZ MAIS FORTE, ESTAVA ADORMECIDO.
DESDE TEMPOS ANTIGOS, TUPÃ SELARA O TROVÃO NO ALTO DE UMA MONTANHA SAGRADA. ERA UM SOM TÃO PODEROSO QUE SÓ PODERIA SER USADO QUANDO A NATUREZA ESTIVESSE EM GRANDE PERIGO. PARA MANTER A PAZ, TUPÃ CONFIOU À TRIBO UM PEQUENO AMULETO, CHAMADO PEDRA DO CORAÇÃO DO CÉU, QUE AJUDARIA A DESPERTAR O TROVÃO, SE NECESSÁRIO.
O PERIGO NA FLORESTA
UMA MANHÃ, KURI, UM MENINO CURIOSO DA ALDEIA, ACORDOU COM UM SOM ESTRANHO VINDO DA FLORESTA. ELE SEGUIU O SOM ATÉ ENCONTRAR UM GRUPO DE ANHANGÁS, ESPÍRITOS TRAVESSOS QUE ESTAVAM ARRANCANDO AS ÁRVORES E POLUINDO O RIO.
— O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO? — GRITOU KURI.
OS ANHANGÁS RIRAM.
— ESTE É O NOVO MUNDO! VAMOS LEVAR TUDO PARA NÓS!
KURI SABIA QUE PRECISAVA AGIR RÁPIDO. ELE VOLTOU CORRENDO PARA A ALDEIA E CONTOU AO PAJÉ O QUE VIU.
O PAJÉ SUSPIROU, PREOCUPADO.
— A FLORESTA ESTÁ EM PERIGO, KURI. CHEGOU O MOMENTO DE DESPERTAR O TROVÃO.
ELES PEGARAM A PEDRA DO CORAÇÃO DO CÉU E SUBIRAM JUNTOS A MONTANHA SAGRADA. A SUBIDA FOI DIFÍCIL, COM VENTOS FORTES E O RUGIR DOS ANHANGÁS ECOANDO PELA FLORESTA ABAIXO.
O DESPERTAR DO TROVÃO
NO TOPO DA MONTANHA, O PAJÉ SEGUROU A PEDRA E COMEÇOU A CANTAR UMA ANTIGA CANÇÃO QUE TUPÃ HAVIA ENSINADO À TRIBO. MAS O TROVÃO NÃO DESPERTAVA. KURI SENTIU SEU CORAÇÃO APERTAR. ELE LEMBROU DAS HISTÓRIAS QUE SUA AVÓ CONTAVA: "O TROVÃO SÓ RESPONDE À CORAGEM."
TOMANDO CORAGEM, KURI PEGOU A PEDRA E, COM A VOZ MAIS FORTE QUE CONSEGUIU, GRITOU:
— TUPÃ, PRECISAMOS DE VOCÊ! A FLORESTA ESTÁ EM PERIGO!
O CÉU COMEÇOU A SE ENCHER DE NUVENS ESCURAS. UM VENTO FORTE SOPROU, E DE REPENTE, UM ESTRONDO PODEROSO ECOOU. ERA O TROVÃO!
TUPÃ APARECEU NO CÉU, MAJESTOSO COMO UM RAIO DOURADO. ELE OLHOU PARA A FLORESTA E VIU O QUE OS ANHANGÁS ESTAVAM FAZENDO. COM UM RUGIDO, LANÇOU RELÂMPAGOS QUE ESPANTARAM OS ESPÍRITOS TRAVESSOS, RESTAURANDO A HARMONIA À FLORESTA.
A LIÇÃO DE TUPÃ
DEPOIS QUE TUDO VOLTOU AO NORMAL, TUPÃ FALOU COM KURI E O PAJÉ:
— O TROVÃO É PODEROSO, MAS NÃO DEVE SER USADO LEVIANAMENTE. HOJE, VOCÊS ME MOSTRARAM CORAGEM E SABEDORIA. LEMBREM-SE SEMPRE DE PROTEGER A NATUREZA, POIS ELA É O CORAÇÃO DO MUNDO.
KURI VOLTOU PARA A ALDEIA COMO UM HERÓI, E O POVO CELEBROU NÃO APENAS A VITÓRIA, MAS O COMPROMISSO DE SEMPRE CUIDAR DA FLORESTA. E ASSIM, O TROVÃO VOLTOU A DORMIR NA MONTANHA, ESPERANDO O DIA EM QUE O MUNDO PRECISASSE NOVAMENTE DE SUA FORÇA.