A Divina Mente Visionária

Neste multiverso, há infinitos mundos, pois a imaginação divina é o único guia.

— Provérbio Hitaísta.

 

 

Assim, nos confins da antiga era, estrelas, planetas, cometas, asteroides, satélites e buracos negros, que davam acesso a outros mundos, verdadeiros escapes da imaginação divina, preencheram o tecido do espaço.

Num daqueles mundos, diziam os nativos, Hito e Hita, os Dois Que São Um, eram três.

Ao criar o homem do pó da terra, a referida Trindade pensou: ‘’Ele não se aquieta. Como vou fazer o acabamento?’’

E assim providenciou que a criatura dormisse. Ergueu-a diante do trono, extraiu dela uma moldura e, retirando o excesso de pó, transformou-a numa mulher.

Disse a si mesma, com um gesto apreciativo:

— Agora, sim! Agora, sim! Além do rascunho, já tenho a obra-prima finalizada!

E, a partir daquela primeira união, houve a extensa descendência.

Ao longo de milhares de anos, diversos homens, então, casaram-se com um exemplar desta obra-prima. Com sua outra metade, livre dos excessos de pó. Sua metade oculta de outrora que, quando desnudada, mostrou-lhes o melhor de si mesmos. Sua melhor versão. Sua melhor metade, parceira para toda a vida, em especial no seio das dificuldades, quando a desunião se revelava a mais onerosa das decisões, e a escala de qualquer conflito medida de acordo com a sua capacidade de destruição, prologando-se desde as muitas guerras historicamente travadas nesta terra aos períodos de pós-guerra que as sucederam, da mesma forma que em nosso mundo: homem e mulher, metade e melhor metade, síntese da união eterna entre Hito e Hita, sua mais elevada parte —, algo que eu, como historiador, pude constatar bem ao examinar, com a mais pura minúcia, toda a documentação disponível sobre os viajantes interdimensionais.

Acusaram-me de parcialidade total. Argumentaram que não nasci para ser historiador, pois meu viés sempre se sobrepunha ao método propriamente dito. Talvez fosse verdade, mas, para mim, já não importava mais. Decidi por assumir meu viés, evocando os versos de Danvil Scurzar, por si só, autoexplicativos:

 

VIÉS

 

Fracassei em tentar

não adotar

um viés.

 

Aqui estou eu de novo,

desprovido de neutralidade outra vez,

assumindo meu viés publicamente,

após falhar miseravelmente.

 

Meu viés é feminino,

sempre em prol de mulheres,

onde se assentam superiores:

mais inteligentes, mais belas

e fortes.

 

Já deu para perceber o que, muitas vezes, pode não ser,

mas aparenta

ou tem potencial para ser.

 

Meu viés, de fato, é a liderança no feminino,

então, imagino,

que esse é meu destino.

Não só meu, pois represento toda uma sociedade,

onde repousam os indivíduos —

todos do mesmo viés.

Alexandre Braga
Enviado por Alexandre Braga em 17/11/2024
Código do texto: T8198867
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