NA BEIRA DO RIO, ONDE O CÉU BEIJAVA AS ÁGUAS CRISTALINAS, VIVIAM DUAS ALDEIAS INDÍGENAS, INIMIGAS POR GERAÇÕES. A ALDEIA DOS GUARÁS, CONHECIDOS PELA FORÇA E BRAVURA, E A ALDEIA DOS JURUMINS, FAMOSOS POR SUA SABEDORIA E HABILIDADE COM AS PLANTAS.

 

 O AMOR PROIBIDO

 

NUMA MANHÃ ENSOLARADA, DURANTE UMA PESCARIA, O JOVEM GUERREIRO JACI, DA ALDEIA DOS GUARÁS, AVISTOU ALGO QUE NUNCA ESPERAVA ENCONTRAR: UMA BELA INDIAZINHA DE CABELOS LONGOS E NEGROS, SENTADA NA MARGEM DO RIO, COLHENDO FLORES. ERA POTIRA, DA ALDEIA DOS JURUMINS. SEUS OLHARES SE ENCONTRARAM E, EM UM INSTANTE, O MUNDO PARECEU PARAR. JACI SENTIU SEU CORAÇÃO BATER FORTE. ELE SABIA QUE ERA ERRADO, POIS AS DUAS ALDEIAS NÃO SE DAVAM BEM, MAS NÃO CONSEGUIU EVITAR. E ASSIM, ELE SE APROXIMOU.

 

POTIRA, AO VER JACI, SE ASSUSTOU. SABIA QUE ELE ERA DA ALDEIA RIVAL, MAS ALGO EM SEUS OLHOS A FEZ SENTIR QUE ELE NÃO ERA UMA AMEAÇA. ELES CONVERSARAM, TROCARAM SORRISOS TÍMIDOS E, AOS POUCOS, UMA AMIZADE NASCEU.

 

COM O PASSAR DOS DIAS, JACI E POTIRA SE ENCONTRAVAM SECRETAMENTE À BEIRA DO RIO. CONVERSAVAM SOBRE AS ESTRELAS, O VENTO E OS SONHOS. UM SENTIMENTO PROFUNDO COMEÇOU A CRESCER ENTRE ELES, MAS AMBOS SABIAM QUE SEU AMOR ERA PROIBIDO. DECIDIRAM, ENTÃO, MANTER SUA PAIXÃO EM SEGREDO.

 

 A IRA DE TUPÃ

 

NO ENTANTO, OS DEUSES NÃO ERAM CEGOS. TUPÃ, O DEUS DO TROVÃO E SENHOR DOS CÉUS, OBSERVAVA TUDO. ELE SABIA QUE O AMOR ENTRE JACI E POTIRA PODERIA TRAZER UNIÃO ÀS ALDEIAS, MAS TAMBÉM PODERIA GERAR GRANDE CONFLITO. TUPÃ DECIDIU TESTÁ-LOS, PARA VER SE SEU AMOR ERA VERDADEIRO E DIGNO DE SUPERAR A IRA DOS CÉUS.

 

NUMA NOITE DE LUA CHEIA, ENQUANTO JACI E POTIRA ESTAVAM JUNTOS, UM TROVÃO ESTRONDOSO RASGOU O CÉU. O VENTO COMEÇOU A SOPRAR FORTE E UMA TEMPESTADE SE FORMOU RAPIDAMENTE. ERA TUPÃ, QUE DESCEU DOS CÉUS EM FORMA DE UM RAIO DE LUZ. ELE APARECEU DIANTE DOS JOVENS, COM OLHOS QUE BRILHAVAM COMO ESTRELAS FURIOSAS.

 

— COMO OUSAM DESAFIAR OS ANTIGOS COSTUMES DAS ALDEIAS? — BRADOU TUPÃ, SUA VOZ ECOANDO COMO O TROVÃO.

 

JACI, MESMO ASSUSTADO, ERGUEU A CABEÇA E RESPONDEU:

 

— GRANDE TUPÃ, NÃO DESEJAMOS DESRESPEITAR OS COSTUMES. AMAMOS-NOS DE CORAÇÃO PURO. ESTE AMOR NASCEU DOS ESPÍRITOS DA FLORESTA, DA ÁGUA E DO VENTO. NÃO É UMA ESCOLHA NOSSA, MAS DO PRÓPRIO DESTINO.

 

POTIRA, COM LÁGRIMAS NOS OLHOS, OLHOU PARA O DEUS:

 

— SE NOSSO AMOR É UM ERRO, ENTÃO PEÇO PERDÃO, MAS NÃO POSSO NEGAR O QUE SINTO. A VIDA SEM JACI SERIA COMO UMA FLORESTA SEM PÁSSAROS, SEM COR E SEM ALEGRIA.

 

TUPÃ OLHOU PARA OS JOVENS POR UM MOMENTO E ENTÃO SORRIU, UM SORRISO TRISTE. ELE SABIA QUE O AMOR VERDADEIRO ERA RARO, MAS TAMBÉM SABIA QUE A UNIÃO DAS ALDEIAS PODERIA TRAZER PAZ OU GUERRA.

 

 A PROVA DE AMOR

 

— PROVOQUEM SUA ALDEIA E MOSTREM A FORÇA DESSE AMOR. MAS, CUIDADO, SE UMA LÁGRIMA DE ÓDIO CAIR ENTRE VOCÊS, FAREI CHOVER FOGO DOS CÉUS E SEPARAREI SUAS ALMAS PARA SEMPRE! — DISSE TUPÃ, ANTES DE DESAPARECER COMO UM RELÂMPAGO NO HORIZONTE.

 

NO DIA SEGUINTE, JACI E POTIRA DECIDIRAM CONTAR ÀS SUAS ALDEIAS SOBRE SEU AMOR. OS ANCIÃOS DOS GUARÁS FICARAM FURIOSOS. ELES CONSIDERARAM O AMOR DE JACI UMA TRAIÇÃO, UMA DESONRA PARA O SEU POVO. OS JURUMINS TAMBÉM NÃO ACEITARAM O AMOR DE POTIRA, DIZENDO QUE ELA HAVIA SIDO ENFEITIÇADA PELO INIMIGO.

 

OS DOIS JOVENS FORAM CAPTURADOS E LEVADOS AO CENTRO DE CADA ALDEIA. OS LÍDERES DECIDIRAM QUE O ÚNICO JEITO DE RESOLVER O PROBLEMA SERIA UMA GRANDE LUTA, UM CONFRONTO FINAL ENTRE OS GUARÁS E OS JURUMINS. QUEM GANHASSE, DECIDIRIA O DESTINO DOS AMANTES.

 

 O SACRIFÍCIO DE AMOR

 

NO CAMPO DE BATALHA, ENQUANTO AS DUAS ALDEIAS SE PREPARAVAM PARA A LUTA, JACI E POTIRA SE ENTREOLHARAM E DECIDIRAM AGIR. CORRERAM ATÉ O MEIO DO CAMPO, DE MÃOS DADAS, E GRITARAM JUNTOS:

 

— PAREM! NÃO LUTEM POR ÓDIO! SE PRECISAREM DE UM SACRIFÍCIO, ENTÃO TOMEM NOSSAS VIDAS, MAS NÃO AS DE NOSSOS IRMÃOS!

 

OS GUERREIROS DAS DUAS ALDEIAS HESITARAM. NUNCA TINHAM VISTO TANTO AMOR E CORAGEM. O CÉU COMEÇOU A ESCURECER NOVAMENTE, E TUPÃ SURGIU MAIS UMA VEZ.

 

— VOCÊS ESCOLHERAM O AMOR AO INVÉS DO CONFLITO, E SACRIFICARAM SEUS PRÓPRIOS DESEJOS PELA PAZ DE SEUS POVOS. ISSO É DIGNO DE RESPEITO. — DISSE TUPÃ. — MAS, PARA GARANTIR QUE ESSE AMOR NUNCA SEJA ESQUECIDO, FAREI DE VOCÊS UM SÍMBOLO ETERNO.

 

ENTÃO, UM RAIO DE LUZ ENVOLVEU JACI E POTIRA. ELES SE TRANSFORMARAM EM DUAS ÁRVORES, LADO A LADO, SUAS RAÍZES ENTRELAÇADAS SOB A TERRA. O POVO DAS DUAS ALDEIAS, EM SILÊNCIO, VIU O MILAGRE ACONTECER. COM LÁGRIMAS NOS OLHOS, OS ANCIÃOS DAS DUAS ALDEIAS SE APROXIMARAM, TOCARAM AS ÁRVORES E PERCEBERAM QUE O AMOR DE JACI E POTIRA ERA VERDADEIRO.

 

A PARTIR DAQUELE DIA, GUARÁS E JURUMINS FIZERAM AS PAZES. AS ÁRVORES, CHAMADAS DE IRMÃS DO AMOR, TORNARAM-SE UM SÍMBOLO DE UNIÃO E FORÇA PARA TODOS.

 

O LEGADO DE JACI E POTIRA

 

AS CRIANÇAS CRESCERAM OUVINDO A HISTÓRIA DE JACI E POTIRA, E COMO O AMOR VERDADEIRO PODE VENCER ATÉ A IRA DOS DEUSES. ASSIM, O RIO QUE ANTES SEPARAVA AS ALDEIAS SE TORNOU UM LUGAR DE ENCONTROS E CELEBRAÇÕES. E, NAS NOITES DE LUA CHEIA, QUANDO O VENTO SOPRA SUAVE PELAS FOLHAS DAS ÁRVORES, DIZEM QUE É O SUSSURRO DO AMOR ETERNO DE JACI E POTIRA, ABENÇOADO POR TUPÃ.

 

E ASSIM, A FLORESTA VIVE EM PAZ, COM AS DUAS ALDEIAS UNIDAS, E O AMOR DE JACI E POTIRA ECOA PELOS VENTOS, UMA PROVA DE QUE O AMOR VERDADEIRO É MAIS FORTE DO QUE QUALQUER COSTUME OU TRADIÇÃO.

 

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 13/11/2024
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