A Calculista 5

Continuação do 4

 

  "Minha filha," a voz suave de sua mãe ecoava em sua mente, "quando for convidada para a casa de um lorde, jamais entre de primeira vista. Pare, observe o lugar. Ande aos arredores, faça perguntas e conheça o que há ao seu redor. Assim, quando entrar, estará preparada para qualquer situação."

 

   Celine sorriu ao recordar o tom tranquilo de sua mãe, sempre cheia de sabedoria prática. Seu olhar então se desviou da imponente entrada e se fixou nas pedras desgastadas do pátio, nos arbustos bem podados e nas janelas altas que revelavam apenas sombras do interior. "Conhecer o lugar", pensou ela, ecoando os ensinamentos maternos. Havia algo nos arredores que os nobres não queriam que ela visse?

 

  Ela desacelerou o passo, fingindo indiferença, e passou a caminhar pelas redondezas do castelo. Suas mãos deslizavam levemente sobre as paredes de pedra, sentindo a textura fria enquanto seus olhos percorriam cada detalhe— as rachaduras sutis nos muros, os escudos de armas nas torres, e até mesmo os servos que se moviam em silêncio, quase como sombras. Havia uma calma ali, mas também uma tensão oculta que Celine não podia ignorar. Cada canto parecia sussurrar segredos.

 

  Enquanto caminhava, o som distante de conversas vindas de dentro das muralhas atingiu seus ouvidos. Não eram vozes de camponeses, mas sim dos nobres, discutindo, talvez sobre ela. O instinto de virar-se e confrontá-los imediatamente foi forte, mas ela respirou fundo, seguindo as lições de sua mãe. "Nunca mostre suas cartas cedo demais", outra frase que ela guardava com carinho.

 

  Celine parou ao lado de uma fonte de mármore, sua superfície refletindo a imagem do castelo. Ela fitou o reflexo, ponderando. Estaria preparada para o que viria? O reino enfrentava tempos difíceis, e aqueles homens, ricos e poderosos, não a viam como uma aliada, mas talvez como uma ameaça. Se algo desse errado, ela precisava de uma saída estratégica.

 

  Após aquele breve momento de contemplação, ela ajustou sua postura, erguendo a cabeça e decidindo que era hora de prosseguir. Caminhou de volta à entrada principal com passos firmes, sua mente clara, agora mais consciente dos desafios que a esperavam.

 

  Quando o cavalheiro à porta se aproximou para recebê-la, Celine o saudou com um leve sorriso e agradeceu educadamente. "Muito obrigada," disse ela, mantendo a compostura enquanto seus olhos varriam os arredores uma última vez. "Gostaria de explorar um pouco mais antes de ir até a presença dos nobres." A voz dela era suave, mas resoluta.

Ele inclinou a cabeça em sinal de respeito, e sem questionar, se afastou. Celine, por sua vez, voltou a caminhar, agora em busca de um lugar para repousar e se preparar adequadamente para o que estava por vir.

 

  A noite já se aproximava, e ela sabia que, para enfrentar os nobres, precisaria mais do que apenas seus cálculos. Precisaria de paciência, observação... e das lições que sua mãe o havia ensinado desde sempre.

 

O cavalheiro observava Celine à distância, seus passos cuidadosos revelando uma inteligência que ia além dos números. Ele sabia que ela era aguardada no castelo, mas a decisão dela de explorar a cidade ao invés de ir direto para a reunião o deixou intrigado. Sem hesitar, ele ajustou sua capa e partiu em direção ao castelo, determinado a levar essa informação a quem estava no comando.

 

  As ruas da cidade murmuravam com vida, mercadores negociando apressadamente e crianças correndo em meio às barracas de frutas e tecidos. Mas o cavaleiro passava por tudo isso sem dar atenção, seu foco voltado para a missão que lhe fora dada. O sol já começava a se esconder por trás das colinas, tingindo o céu de laranja e vermelho, enquanto ele avançava pelas ruas pavimentadas de pedra, cada passo ecoando uma urgência que ele mal conseguia conter.

 

  Ao chegar às portas do castelo de Montmirail, o cavaleiro foi recebido por guardas em armaduras reluzentes, que abriram caminho com uma reverência silenciosa. Ele atravessou o grande salão, passando por tapeçarias ornamentadas que contavam a história do reino e por candelabros de ouro que lançavam sombras dançantes nas paredes. Sua respiração estava pesada ao subir os degraus de mármore, mas ele não ousou diminuir o ritmo. Ele sabia que a notícia que carregava era de extrema importância.

 

  Quando finalmente chegou à câmara do Lorde Etienne de Clairmont que havia convocado a reunião, ele encontrou o homem sentado à cabeceira de uma mesa de carvalho maciço, as mãos unidas como se refletisse em algum plano estratégico. O nobre era alto e magro, com um olhar afiado e calculista. Seus dedos longos tamborilavam levemente sobre o braço da cadeira enquanto ele olhava pensativamente pela janela, observando o crepúsculo tomar conta dos campos ao redor do castelo.

 

  O cavaleiro respirou fundo e fez uma reverência profunda antes de falar. "Milorde," começou ele, escolhendo as palavras com cuidado, "Celine chegou à cidade, mas ela se recusa a vir ao castelo de imediato. Ela prefere conhecer o lugar primeiro."

 

  O nobre levantou os olhos, sua expressão imutável por um momento, mas logo uma ruga de preocupação atravessou sua testa. Ele se levantou lentamente da cadeira, o silêncio do ambiente aumentando a tensão no ar. "Ela está sendo cautelosa," murmurou ele, quase para si mesmo. "Ela já nos estuda antes de entrar. Uma mulher inteligente, como dizem."

 

  Ele começou a caminhar pelo recinto, seus passos ecoando pelo chão de mármore polido. "Isso não é bom. Quanto mais tempo ela passar fora daqui, mais informações ela terá sobre a cidade e sobre nós." Suas palavras eram frias, mas cheias de uma lógica implacável. "Precisamos agir rápido."

 

  O cavaleiro observava em silêncio, esperando novas instruções, enquanto o nobre parecia calcular seus próximos passos como se fosse um jogo de xadrez. Ele parou subitamente, seus olhos brilhando com uma ideia. Virando-se para o cavaleiro, sua voz cortou o ar como uma lâmina afiada: "Chame todos. Todos os nobres que estiveram naquela reunião. Precisamos de um plano urgente antes que essa calculista tenha vantagem sobre nós."

 

  O cavaleiro inclinou a cabeça em assentimento, sem ousar questionar, e partiu apressadamente para cumprir a ordem. O eco de seus passos desapareceu ao longo do corredor, enquanto o nobre ficava parado, olhando para o crepúsculo lá fora, o pensamento claro em sua mente: "Se não agirmos agora, ela poderá virar o jogo contra nós."

 

  A sala vazia parecia ainda mais fria com sua saída, mas o nobre não hesitava. Ele sabia que os próximos movimentos seriam cruciais para manter o controle—e Celine não podia ser subestimada. O tempo estava correndo, e ele precisava estar à frente dela.

 

  Celine percorreu as ruas de paralelepípedos da cidade, seus passos ecoando suavemente na noite que já havia caído densa sobre Montmirail. As lâmpadas a óleo balançavam ao vento, projetando sombras instáveis nas paredes de pedra. O cansaço começava a pesar em seus ombros, e ela finalmente avistou uma pousada modesta, com uma placa de madeira pendurada, oscilando suavemente. Ao entrar, o calor acolhedor do ambiente envolveu-a, afastando o frio da noite, e ela logo encontrou um pequeno quarto onde pudesse repousar.

 

  Deitada em seu leito simples, Celine não conseguia afastar os pensamentos que a rodeavam. Havia algo de inquietante em Montmirail, e ela sentia isso desde o momento em que chegara. Recordou-se das vozes que ouvira ao observar o castelo à distância, sombras movendo-se nas ameias e a sensação constante de que algo estava sendo escondido à vista de todos. Mesmo sem se aproximar, ela captara fragmentos de conversas distantes, falas abafadas pelo vento, mas carregadas de uma tensão que não passara despercebida. Não era apenas uma cidade, era um campo de jogo onde peças importantes se moviam, e ela estava para entrar nessa disputa.

 

  Na taverna onde parou para tomar um copo de vinho antes de encontrar a pousada, os murmúrios também haviam se repetido. O ambiente era animado, mas por trás das conversas banais, havia sussurros que escapavam entre um gole e outro, falas rápidas que interrompiam risadas. Celine percebeu que a presença dela não havia passado despercebida, e, embora não soubesse exatamente o que estava sendo dito, a sensação de que estava sendo observada a acompanhou o tempo todo.

 

Continua no 6

 

 

Para não ficar uma leitura muito extensa e cansativa, visto ter outros textos a ser lindo, este capitulo inteiro dividir em dez partes..

Todos os erros de Português nos nomes próprios é devido estes mesmos nomes serem de origem francesa, onde foi ambientada toda a história.

 

 

 

Leia a...

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 6

Parte 7

A Sales
Enviado por A Sales em 05/11/2024
Reeditado em 05/11/2024
Código do texto: T8190137
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.