ERA UMA VEZ, EM UMA PEQUENA LAGOA AZUL, UM FLAMINGO CHAMADO FAUSTO. ELE TINHA UMA PLUMAGEM COR-DE-ROSA DESBOTADA E PENAS UM TANTO DESARRUMADAS, MAS SUA APARÊNCIA REFLETIA UM POUCO DE SUA MANEIRA DE VIVER: FAUSTO ERA AVARENTO, O FLAMINGO MAIS PÃO-DURO DE TODOS OS ARREDORES.
TEMPOS ATRÁS, ENQUANTO CAVOUCAVA DISTRAIDAMENTE PERTO DE UM VELHO COQUEIRO, ELE ENCONTROU UM BAÚ DE MOEDAS DE OURO E PEDRAS PRECIOSAS ENTERRADO NA AREIA. COM AQUELA FORTUNA, ELE PODERIA TER UMA VIDA TRANQUILA, MAS ISSO APENAS ATIÇOU SUA GANÂNCIA. DESDE ENTÃO, FAUSTO SE ESFORÇAVA AINDA MAIS PARA GANHAR E ACUMULAR RIQUEZAS, INDO TRABALHAR AO NASCER DO SOL E VOLTANDO QUANDO A LUA JÁ ESTAVA ALTA NO CÉU. ELE NÃO DESCANSAVA POR UM INSTANTE.
“DEVEMOS SER PRUDENTES E TRABALHAR O MÁXIMO POSSÍVEL, POIS O FUTURO É INCERTO!” DIZIA ELE A QUEM PERGUNTASSE.
OS OUTROS ANIMAIS OBSERVAVAM, INTRIGADOS. FAUSTO NUNCA PARECIA SATISFEITO, NEM UM POUCO FELIZ.
— MAS QUANTO DINHEIRO ESSE FLAMINGO PRECISA? — PERGUNTAVA O PELICANO, BALANÇANDO O BICO.
— VOCÊS JÁ VIRAM? ELE ANDA VESTIDO COMO UM MENDIGO! — EXCLAMAVA A LEBRE, APONTANDO PARA AS PENAS EMPOEIRADAS E O BICO SEM BRILHO DE FAUSTO. — NÃO TROCA DE PENAS HÁ ANOS SÓ PARA POUPAR!
FAUSTO, ALÉM DE NUNCA GASTAR UM CENTAVO COM ELE MESMO, COMIA MUITO POUCO E MAL. ELE VIVIA DE SEMENTES MURCHAS E RAÍZES AMARGAS, RECUSANDO-SE A COMPRAR UM PEIXE FRESCO OU UMA FRUTA SUCULENTA.
CERTO DIA, DEPOIS DE ANOS DE TRABALHO INCESSANTE, FAUSTO ACORDOU COM UMA DOR DE ESTÔMAGO TERRÍVEL. TENTOU SE LEVANTAR PARA IR TRABALHAR, MAS SENTIU UMA TONTURA E PRECISOU DEITAR-SE DE NOVO.
— AH, QUE DESGRAÇA! — MURMUROU. — NÃO POSSO TRABALHAR HOJE! E NEM PENSAR EM CHAMAR O MÉDICO; É UM DESPERDÍCIO DE DINHEIRO, E OS REMÉDIOS ENTÃO… NEM PENSAR! VOU ESPERAR UM POUCO, A DOR DEVE PASSAR.
MAS A DOR NÃO PASSOU. PELO CONTRÁRIO, FOI PIORANDO DIA APÓS DIA. FINALMENTE, DESESPERADO, FAUSTO CEDEU E CHAMOU O DOUTOR.
O MÉDICO VEIO, EXAMINOU O FLAMINGO AVARENTO, MAS SACUDIU A CABEÇA COM PESAR.
— LAMENTO, FAUSTO, MAS A SUA DOENÇA JÁ AVANÇOU DEMAIS. SE VOCÊ TIVESSE ME CHAMADO ANTES, TERÍAMOS RESOLVIDO COM FACILIDADE. MAS AGORA… NÃO HÁ MAIS NADA A FAZER.
FAUSTO FICOU EM SILÊNCIO. PELA PRIMEIRA VEZ, NÃO PENSOU NAS MOEDAS ESCONDIDAS OU NOS TESOUROS ACUMULADOS, MAS NOS DIAS QUE PERDEU, NO CONFORTO QUE NUNCA TEVE, E NOS AMIGOS QUE SE AFASTARAM POR SUA GANÂNCIA.
A NOTÍCIA SE ESPALHOU RÁPIDO PELA LAGOA, E OS ANIMAIS FICARAM TRISTES, MAS TAMBÉM SENTIRAM QUE AQUILO ERA UMA LIÇÃO. QUANDO OS AMIGOS FORAM VISITÁ-LO, FAUSTO CONFESSOU, COM UMA VOZ FRAQUINHA E ARREPENDIDA:
— AGORA ENTENDO… DE NADA SERVE A RIQUEZA SE NÃO SABEMOS APROVEITÁ-LA.