NO TEMPO DE ROMA: QUANDO TRABALHEI NO COLISEU.

NO TEMPO DE ROMA: LEMBRANÇAS DO COLISEU

Eu trabalhava na zeladoria, digamos assim, das instalações do maior anfiteatro já construído, o Anfiteatro Flaviano. Construído no terreno da casa de Nero, eu nem imaginava que ficaria para a História com o nome de Coliseu, adotado 35 anos depois, em homenagem a Grande estátua de Nero, chamada Colosso, que havia sido demolida nas proximidades para se aproveitar a imensa quantidade de bronze e apagar a lembrança do nefasto imperador. Batizado como Spurius Titus Africanus devido a um antepassado que lutara contra e derrotara as tropas de Hannibal, eu era conhecido apenas como Spurius, um simples funcionário do grande contingente de manutenção e operação do imenso Coliseu, como era conhecido o Anfiteatro Flaviano. Desde as comemorações inaugurais do Anfiteatro, não houvera grandes intervalos entre as atrações apresentadas. Os jogos de inauguração do Coliseu de Roma ocorreram em 80 d.C., durante o reinado de Tito. 0s festejos inaugurais duraram mais de 100 dias, tendo atividades dia e noite. Os jogos foram realizados para celebrar o fim da construção do Coliseu e para apaziguar o público romano e os deuses. Os espetáculos incluíram: Combates de gladiadores, Lutas de animais, Execuções, Batalhas navais, Caçadas. Também conhecido como Anfiteatro Flávio, o Coliseu é o maior e mais imponente anfiteatro de Roma, com capacidade para 80 mil espectadores. O Coliseu foi construído para oferecer entretenimento permanente para os romanos. Fazia parte de uma política do governo do imperador Vespasiano chamada de “pão e circo”, cuja finalidade era manter os cidadãos iludidos e ocupados enquanto sorrateiramente as derrotas nas batalhas e os desmandos dos imperadores eram ocultos, assim como o desvio de grandes fortunas. Vespasiano morreu antes da inauguração e não viu Coliseu concluído. De acordo com minha classe social eu era um plebeu (pequenos proprietários e comerciantes). Prserviços aos patrícios (classe mais abastada) que administravam o Anfitaetro.

Eu chefiava uma equipe de plebeus, proletários e escravos. Os plebeus ocupavam bons cargos abaixo de mim, chefiando pequenas equipes de escravos. O nome proletário vem do que era considerada a única contribuição desses cidadãos: gerar muitos filhos, formando grandes proles (daí o nome). Por sua vez, os escravos eram propriedades do governo e como tal eram tratados, sem ter acomodações decentes e alimentação decente. Advindos de povos conquistados em batalhas ou assim transformados por terem grandes dívidas com o Estado,os escravos executavam os trabalhos mais brutos. A responsabilidade de manter a infraestrutura dos jogos em pleno funcionamento era grande. Era fornecida uma programação básica de quais animais iriam ser utilizados no espetáculo, quais gladiadores lutariam e, o que era pior de tudo, quantos escravos seriam sacrificados. Nos subsolo da Coliseu ficavam tudo que seria utilizado. Para atender as inúmeras trocas de animais e pessoas na arena ( assim chamada por se tratar de uma camada de areia colocada sobre um piso de madeira pesada), haviam 28 elevadores com intrincados jogos de polias, cordas, contrapesos,etc., operados por 200 homens supervisionados por plebeus. A execução do trabalho ficava a cargo dos escravos em sua maioria. Era uma loucura garantir a sequência das lutas, caçadas, mortes de escravos que tinham que acontecer na arena. Para se ter idéia, nas festas de inauguração foram sacrificados 9 mil animais e 2 mil gadiadores, nos cem dias que duraram essas festas. Tínhamos que remover os cadáveres,colocar em cena a pessoas e animais ( leopardos, leões,tigres, panteras, elefantes,etc.). Aquilo tudo gerava uma imensa quantidade de sangue, restos de corpos humanos misturados com pedaços dos animais mortos, bigas e um sem número de materiais. Trocar a areia então era uma tarefa Hérculea.

Quanto às arquibancadas, seu uso era organizado como abaixo:

• Primeiro nível: Reservado ao rei, sua família, vereadores e nobres. Os assentos eram os mais próximos da arena e decorados com colunas dóricas.

• Segundo nível: Destinado às famílias ricas da época, normalmente os patrícios.

• Terceiro nível: Presente do rei ao povo comum, que podia acompanhar os jogos anuais. Este nível era o mais alto e oferecia uma vista panorâmica do interior do Coliseu.

As arquibancadas e a arena elíptica do Coliseu separavam o espaço em diferentes setores, de acordo com a classe social dos espectadores. Além de espetáculos bárbaros e brutais , ocorriam a apresentação teatral de dramas, comédias, romances, etc.

Nos dias de espetáculos, os romanos podiam passar dias a assistir as apresentações, que eram grátis, oferecimento do Imperador ao povo. Era normal ver grupos com pequenas churrasqueiras elaborando banquetes nas arquibancadas.

Na parte superior havia uma calçada que circundava toda a parte interna do Coliseu, muito usada para os espectadores de estomago fraco, que iam ali vomitar, tal eram os banhos de sangue e outras partes de pessoas e animais mortos. Popularmente, chamada Via Vomitoria.

Embora comandasse grande parte do funcionamento do Coliseu, eu vivia com a cabeça a premio. Caso houvesse falhas eu corria o risco de ser expulso dos trabalho e, até ser condenado à morte.

Não foi uma vida fácil, e é um privilégio estar contando essas reminiscências para vocês.É sinal que nãofui tão mal assim.

Até a próxima. Como diziam os romanos: “Ave, Ave”. “Vale , adeus!”

Paulo Miorim 17/09/2024

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 28/10/2024
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