A Entrada Oculta
Um grupo experiente de ex-militares da reserva tinha como hobby caçar cavernas. Estavam acampados perto de uma imensa floresta, aos pés de uma montanha. Estavam recolhendo galhos secos para a fogueira quando, ao removerem um grande feixe de ramos, revelaram acidentalmente uma entrada escura na rocha. As plantas haviam escondido completamente a passagem.
— Vocês estão vendo o que eu estou vendo? — exclamou Mateus, o mais velho e experiente do grupo, com os olhos brilhando de excitação.
O êxtase foi imediato, mas a subida na montanha e a exploração do dia os cansaram sobremaneira. Decidiram, então, descansar naquela noite e explorar o local pela manhã, devido à iluminação e às suas condições físicas.
Pela manhã, tomaram café, ajeitaram suas coisas e adentraram cheios de adrenalina e alegria.
O túnel começava estreito, exigindo que se esgueirassem pelos primeiros metros. Após cerca de 500 metros de caminhada silenciosa, a passagem se abriu para um imenso salão natural. Ao redor, colunas de pedra bruta erguiam-se como pilares de uma catedral esquecida.
No centro do salão, um altar colossal se erguia sobre um pedestal de pedra, com uma escadaria cuja altura e largura deixavam claro: aquilo não era feito para seres humanos. Os degraus eram imensos, como se esculpidos para algo muito maior e mais poderoso.
— O que será que é isso? — perguntou Pedro, enquanto caminhava lentamente até o altar, os olhos fixos nos detalhes entalhados nas pedras.
— Seja lá o que for, não foi feito por mãos humanas — respondeu Jonas, tocando uma das colunas, sentindo uma energia estranha no ar.
De repente, um som profundo e distante ecoou pela caverna, seguido de um tremor tão forte que fez com que pedaços de rocha se desprendessem das paredes. Os caçadores se encolheram de medo.
— Um terremoto! Temos que sair daqui! — gritou Carlos, já dando meia-volta.
Mas Mateus, sempre cauteloso, ergueu a mão.
— Esperem! Se fosse um terremoto, esse lugar já teria desmoronado há séculos. Segurem-se em algo! — disse ele, tentando manter a calma.
Os tremores ficaram mais intensos, e de repente, um som que mais parecia a respiração furiosa de um animal gigantesco ecoou pelo salão. Os homens se viraram lentamente, o terror invadindo seus corpos.
A silhueta de uma criatura descomunal surgiu entre as sombras. Um gigante, com olhos cheios de ódio, segurava uma clava de madeira tão grande quanto um tronco de árvore. Sua aparência era aterrorizante: músculos enormes cobertos de cicatrizes e uma expressão de pura fúria. Ele bramiu algo numa língua gutural e incompreensível, sua voz tão profunda que fazia o chão vibrar.
Os homens ficaram congelados de terror. O gigante vasculhou o salão com o olhar, como se procurando algo, antes de correr em direção à saída com uma velocidade espantosa. O som de seus passos retumbava como trovões.
Quando o silêncio finalmente caiu sobre o salão, Pedro olhou para os outros, tremendo.
— O que faremos agora?
Mateus esfregou o rosto, tentando pensar claramente. A única saída parecia ser aquela pela qual tinham entrado, mas agora o gigante estava lá fora. Eles estavam presos.
— Não podemos voltar pela mesma passagem. Se o gigante nos pegar no corredor, não teremos como escapar — disse Mateus, a voz grave.
— Então o que sugere? — perguntou Jonas, desesperado.
Mateus olhou ao redor. Havia vários outros túneis saindo do grande salão, todos parecendo tão estreitos quanto o que haviam percorrido. Não havia outra escolha.
— Vamos explorar um desses túneis. Talvez haja outra saída, ou um lugar onde possamos nos esconder até ele ir embora. Não podemos seguir por onde ele veio, pode haver mais deles aqui e daremos de cara com a morte certa!
O grupo concordou com relutância. Estavam prestes a escolher um caminho quando um som inesperado chamou sua atenção. Uma risada infantil, suave e estranhamente deslocada naquele lugar sombrio, ecoou na caverna. Todos se viraram ao mesmo tempo.
Uma criança, com traços semelhantes ao gigante, mas muito menor, surgiu das sombras. Ela tinha um sorriso travesso e, rindo, acenou para eles com as mãos, como se os convidasse a segui-la. Era uma criança de gigante, e mesmo com o terror ainda presente, algo naquela figura inofensiva acalmou os ânimos do grupo.
— Será que devemos...? — perguntou Pedro, hesitante.
— Temos outra escolha? — respondeu Mateus. — Vamos segui-lo.
Sem alternativas melhores, os caçadores seguiram a criança gigante, que os guiou por um túnel estreito, com paredes cobertas de musgo e pedras úmidas. Depois de algum tempo, chegaram a uma pequena abertura que levava ao exterior. Dois dos homens saíram rapidamente, sentindo o ar fresco bater em seus rostos aliviados.
Mas, no momento em que o segundo homem passou, um brado furioso ecoou pela caverna, fazendo a terra tremer. O gigante havia percebido algo errado. A criança, sem dizer uma palavra, correu por outro túnel, deixando os caçadores sozinhos na passagem.
A corrida do gigante parecia provocar um terremoto. As pedras começavam a cair do teto da caverna, aumentando o desespero do grupo. Jonas, que era o mais gordinho entre eles, ficou preso na passagem estreita.
— Não vou conseguir! — gritou ele, apavorado, enquanto se debatia para tentar passar.
— Vamos, você consegue! — gritou Pedro, puxando Jonas pelas cordas que carregavam. Mas o esforço parecia em vão.
Mateus, pensando rapidamente, tirou um frasco de óleo que usavam para as lanternas e derramou sobre as pedras ao redor de Jonas e pelo chão.
— Tente agora! — gritou ele, enquanto Pedro e Carlos puxavam com todas as suas forças.
Com muito esforço, Jonas deslizou pelo caminho estreito, ferindo-se gravemente nas pedras afiadas, mas finalmente conseguiu sair. Logo que passaram pela abertura, ouviram o grito furioso do gigante ecoar pela caverna, seguido por estrondos que indicavam que ele estava destruindo algo lá dentro.
Os caçadores caíram no chão, exaustos e feridos, mas aliviados por estarem fora. Jonas mal conseguia andar de tanta dor, e seus amigos, aplicaram morfina e o ajudaram a se levantar.
Sem escolha, e temendo que algo pior pudesse acontecer, decidiram pedir ajuda às autoridades locais. Quando os bombeiros chegaram, os caçadores contaram apenas uma parte da história, alegando que haviam se perdido e que o amigo se machucara ao tentar sair da caverna. Omitiram qualquer menção ao gigante e à criança, temendo serem considerados loucos e, mais ainda, para não atrair militares ao local, o que impediria uma futura expedição mais bem preparada.
Enquanto eram levados para o hospital, Mateus olhou para os outros, com um brilho nos olhos.
— Nós vamos voltar. Mas da próxima vez, estaremos prontos.