ERA UMA VEZ, NUMA GRANDE FAZENDA, UM BURRO DE CARGA CHAMADO MIZIFU, QUE TRABALHAVA ARDUAMENTE TODOS OS DIAS. SEU PELO ERA MALTRATADO, SEU LOMBO CARREGAVA MARCAS PROFUNDAS DE CICATRIZES, E SEUS OLHOS, SEMPRE BAIXOS, REFLETIAM UMA TRISTEZA HUMILDE. VIVIA NA MESMA COCHEIRA QUE OUTROS CAVALOS, MAS SUA VIDA ERA BEM DIFERENTE DA DELES.

 

OS OUTROS ANIMAIS GOSTAVAM DE ZOMBAR DELE. RIAM DE SUA APARÊNCIA, DE SUA SIMPLICIDADE, E DE SUA VIDA CANSATIVA. UM DELES, UM BELO CAVALO ÁRABE CHAMADO TOM, ERA O MAIS ORGULHOSO DE TODOS. ELE TINHA GANHADO MUITOS PRÊMIOS EM CORRIDAS E ERA O PREFERIDO DOS REIS E PRINCESAS.

 

CERTO DIA, TOM APROXIMOU-SE DE MIZIFU E, COM UM SORRISO DE DESDÉM, DISSE:

 

— QUE TRISTE SINA VOCÊ RECEBEU! NÃO INVEJA MINHA VIDA GLORIOSA NAS CORRIDAS? SOU ACARICIADO POR MÃOS DE PRINCESAS E ELOGIADO PELA PALAVRA DOS REIS. É UMA HONRA QUE VOCÊ JAMAIS ENTENDERÁ.

 

UM POTRO DE ORIGEM INGLESA, QUE ESTAVA POR PERTO, OUVIU A CONVERSA E DECIDIU SE JUNTAR À PROVOCAÇÃO:

 

— ORA, COMO UM BURRO PODERIA ENTENDER O BRILHO DAS APOSTAS E O GOSTO DA CAÇA? MIZIFU NASCEU PARA CARREGAR SACOS PESADOS, NÃO PARA BRILHAR!

 

OS OUTROS CAVALOS RIRAM E CONTINUARAM SUAS PIADAS. MIZIFU, NO ENTANTO, FICOU EM SILÊNCIO, COMO SEMPRE FAZIA. APESAR DAS OFENSAS, NÃO SE REVOLTAVA. SABIA QUE SEU DESTINO ERA DIFERENTE, MAS NÃO SE CONSIDERAVA MENOR POR ISSO.

 

OS DIAS PASSARAM, E A FAZENDA COMEÇOU A SE PREPARAR PARA UMA GRANDE CAÇADA. OS CAVALOS MAIS VELOZES E ÁGEIS FORAM ESCOLHIDOS PARA PARTICIPAR, INCLUINDO TOM E O POTRO INGLÊS. TODOS ESTAVAM EMPOLGADOS COM O EVENTO, ENQUANTO MIZIFU FOI DEIXADO PARA SUAS TAREFAS COTIDIANAS DE CARREGAR OS PESADOS SACOS DE GRÃOS E FERRAMENTAS.

 

NA MANHÃ DA CAÇADA, PORÉM, ALGO INESPERADO ACONTECEU. UMA FORTE TEMPESTADE ATINGIU A REGIÃO, E AS ESTRADAS FICARAM LAMACENTAS E PERIGOSAS. OS CAVALOS DE CORRIDA, COM SUAS PERNAS ESBELTAS E SENSÍVEIS, COMEÇARAM A ESCORREGAR NA LAMA. MUITOS DELES CAÍRAM E FICARAM INCAPAZES DE CONTINUAR. TOM, TÃO ACOSTUMADO AO LUXO, TAMBÉM ESCORREGOU E MACHUCOU A PERNA. ELE FICOU PRESO NA LAMA, SEM CONSEGUIR SE LEVANTAR.

 

O FAZENDEIRO, AO VER A SITUAÇÃO, CORREU PARA BUSCAR AJUDA. E QUEM ELE CHAMOU? MIZIFU. AQUELE QUE ERA SEMPRE HUMILHADO POR SUA APARÊNCIA SIMPLES E FORÇA BRUTA FOI O ÚNICO CAPAZ DE ATRAVESSAR AS ESTRADAS LAMACENTAS E DIFÍCEIS. COM SUA FORÇA E RESILIÊNCIA, MIZIFU FOI ATÉ ONDE OS CAVALOS CAÍDOS ESTAVAM E, COM PACIÊNCIA, AJUDOU A PUXÁ-LOS DE VOLTA PARA UM LUGAR SEGURO.

 

NO FINAL DO DIA, ENQUANTO MIZIFU DESCANSAVA SILENCIOSAMENTE NA COCHEIRA, TOM, AINDA MACHUCADO, OLHOU PARA ELE DE OUTRA FORMA. ELE PERCEBEU QUE A VIDA DE UM BURRO, EMBORA SIMPLES E CHEIA DE TRABALHO ÁRDUO, ERA VALIOSA E INDISPENSÁVEL. O POTRO INGLÊS TAMBÉM FICOU EM SILÊNCIO, SEM CORAGEM DE FAZER MAIS PIADAS.

 

MIZIFU, POR SUA VEZ, CONTINUOU SUA VIDA DO MESMO JEITO: SEMPRE TRABALHANDO, SEMPRE HUMILDE, SEM NUNCA DEIXAR QUE O ORGULHO DOS OUTROS AFETASSE SEU CORAÇÃO. ELE SABIA QUE CADA ANIMAL TINHA SEU VALOR, E QUE A VERDADEIRA GRANDEZA NÃO ESTAVA NOS PRÊMIOS OU ELOGIOS, MAS NA FORÇA INTERIOR DE ENFRENTAR QUALQUER DESAFIO COM DIGNIDADE.

 

E ASSIM, NA FAZENDA, TODOS PASSARAM A RESPEITAR MIZIFU, RECONHECENDO QUE, EMBORA ELE NÃO CORRESSE EM PISTAS NEM BRILHASSE NAS APOSTAS, SUA IMPORTÂNCIA ERA INQUESTIONÁVEL.

 

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 19/10/2024
Código do texto: T8177143
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.