NA ERA DA COMPUTAÇÃO

Na era da computação, a modernidade chegou aos castelos. Os bruxos se reuniram e chegaram a uma conclusão: informatizar o castelo.

No castelo vive uma bruxa chamada Angélica, que de bruxa não tem nada; parece até um anjo de tão linda. Ela diz:

— As bruxas aqui não viajam mais de vassoura, isso é coisa do passado. Agora, vamos de carro esporte ou limusine. Nossas roupas não são mais aqueles trapos, mas as mais caras que o dinheiro pode comprar, só para ficar na moda.

Também no castelo vive o bruxo corcunda, que não quer nada com a vida, diz ele que já está morto. Ele é o DJ do castelo. O negócio dele é escutar um rap de vez em quando, usando suas calças de boca larga, parecendo um sino que vai até o chão. Seus livros de encantos não existem mais; agora, ele guarda suas receitas no computador. O caldeirão? Esse foi aposentado.

Feitiçaria agora é enviada por e-mail. Se você quiser um feitiço, é só ir na internet, fazer o pedido, e ele será mandado imediatamente para sua caixa de entrada. O castelo está uma verdadeira loucura! Agora, elas têm até o "Dia das Bruxas Fashion". As bruxas se arrumam, ajeitam os cabelos, passam maquiagem e cuidam dos pés e das mãos para ficarem ainda mais bonitas.

Nos finais de semana, é aquela correria. Elas se preparam para a festa do Dia das Bruxas, se fantasiam de velhas gordas e barbudas, lembrando as bruxas do passado, do tempo dos livros de encantos. Na festa, há vários coquetéis, e o castelo é decorado com caldeirões, vassouras e risadas das bruxas convidadas. Duendes, fantasmas e outros seres mágicos também aparecem. O bruxo corcunda toca de tudo um pouco: samba, rap, reggae e suas músicas preferidas.

Quando o dia amanhece, todos vão para a piscina dar um mergulho. Depois, seguem para a praia jogar vôlei e paquerar os "gatinhos". Elas, com seus biquínis tão pequenos que mal cobrem o corpo, mostram que são bruxas modernas e saradas, com corpos esculpidos e uns bons retoques de silicone.

Já não parecem nada com aquelas bruxas velhas e feias, com verruga no nariz, como as que estão retratadas nos quadros antigos do castelo. Hoje, elas fazem faculdade, trabalham em várias áreas, são donas de casa, empresárias e podem estar mais perto de você do que imagina.

Elas agora viajam de primeira classe, sem precisar de passe de mágica ou vassouras para se locomover. Nada de fórmulas mágicas complicadas; o jatinho particular está à disposição para não correrem o risco de quebrar as unhas.

Esse é o dia a dia no castelo das bruxas. Da feitiçaria à computação, a vida delas se transformou completamente — e o castelo nunca mais foi o mesmo.

Mesmo com toda essa modernidade, nem tudo é tão simples no castelo das bruxas. Apesar da vida de luxo e dos avanços tecnológicos, ainda existem desafios que nenhuma fórmula digital pode resolver. A bruxa Anciã, uma das poucas que ainda prefere manter os velhos costumes, reclama frequentemente da falta de magia "de verdade" nas atividades cotidianas. Ela ainda acredita que as feitiçarias de antigamente tinham mais essência e poder do que qualquer aplicativo ou site possa oferecer.

— Essas jovens bruxas estão muito preguiçosas! — resmunga ela, mexendo seu velho caldeirão. — Na minha época, a gente tinha que aprender cada palavra dos feitiços, sentir a energia do universo, e agora... Bem, agora é só um clique.

Mas mesmo Anciã não conseguiu resistir por muito tempo às facilidades da tecnologia. Afinal, quem iria preferir longos e complicados rituais quando se pode pedir uma poção instantânea pela loja online de poções? Até ela, de vez em quando, se pega encomendando ingredientes raros por drone.

Porém, nem tudo é diversão. Um dia, uma grande crise abala o castelo: o servidor central, que controla todos os feitiços e processos mágicos digitais, sai do ar. As bruxas ficam em pânico. Feitiços não são mais enviados, poções não chegam, e o DJ corcunda fica sem suas playlists favoritas. A festa da noite está em risco de ser cancelada!

Angélica, sempre com uma solução na ponta da língua, sugere uma ideia que parece absurda no início, mas logo ganha adesão:

— Vamos fazer isso à moda antiga! – diz ela, com um brilho desafiador nos olhos. — Nada de computadores, nada de e-mails. Hoje, vamos mostrar que ainda sabemos como fazer magia de verdade!

As bruxas, empolgadas pela nostalgia e pelo desafio, tiram as vassouras dos armários, começam a preparar a festa como nos tempos antigos. Cada uma veste trajes tradicionais, pintando o rosto com símbolos arcaicos e preparando poções de modo manual. A fumaça do caldeirão volta a subir pelas torres do castelo, e as risadas ecoam pelos corredores.

No meio da confusão, o bruxo corcunda também entra no clima. Com um chapéu pontudo e uma bengala mágica, ele improvisa uma batida tocando tambor e utilizando feitiços antigos para criar uma música que hipnotiza todos os convidados. As bruxas dançam freneticamente ao redor do caldeirão, cantando canções antigas que há muito tempo não eram ouvidas no castelo.

No final, a festa é um sucesso. Apesar dos imprevistos tecnológicos, todos se divertem como nunca. O castelo é tomado por uma energia mágica diferente, algo que nem os computadores mais avançados poderiam replicar.

Na manhã seguinte, Angélica, com o cabelo ainda despenteado da noite anterior, sorri e reflete:

— Talvez a modernidade seja incrível, mas de vez em quando, é bom lembrar das nossas raízes. Não podemos esquecer que a magia, no fundo, sempre estará em nós — com ou sem computadores.

O servidor finalmente volta ao ar, mas ninguém tem pressa em usá-lo. O encanto da magia tradicional permanece no ar, deixando uma sensação de que, mesmo com toda a evolução, algumas coisas nunca mudam.

E assim, o castelo das bruxas segue seu caminho, equilibrando o passado e o futuro, a feitiçaria e a computação, com um toque de humor e muita magia.

Nos dias que se seguiram, uma nova rotina começou a se formar. Angélica, a bruxa mais moderna, surpreendeu a todos ao incorporar rituais tradicionais em seu dia a dia, mesmo que ainda mantivesse o glamour e a praticidade de sua vida tecnológica. De manhã, ela fazia suas poções no velho caldeirão, e à tarde, usava seu laptop para administrar seus feitiços online.

A bruxa Anciã, satisfeita com o retorno de algumas práticas do passado, deixou de lado um pouco de sua resistência. Embora ainda preferisse suas velhas maneiras, ela reconheceu que a nova geração de bruxas tinha algo especial, uma capacidade de unir o melhor dos dois mundos. Um dia, ela até foi vista assistindo a um tutorial online de como aprimorar seu encantamento de invisibilidade — o que causou risos por todo o castelo.

Enquanto isso, o bruxo corcunda continuava sua jornada musical, mesclando os sons antigos dos tambores e cânticos com batidas eletrônicas. Suas festas nunca mais foram as mesmas, agora com uma mistura única de ritmos que encantava a todos os convidados, sejam eles bruxas, duendes ou fantasmas.

O Dia das Bruxas se aproximava novamente, e desta vez, as bruxas decidiram fazer algo diferente. Não haveria apenas a tradicional festa com fantasias modernas e antigas, mas também uma competição de feitiços, onde cada bruxa teria que criar um encantamento sem o uso de tecnologia, apenas com suas habilidades mágicas naturais. Angélica, sempre à frente, propôs a ideia com entusiasmo, animada para ver até onde as bruxas poderiam ir quando desafiadas a resgatar o poder de sua própria magia.

Na noite da competição, o castelo estava mais vivo do que nunca. A decoração misturava elementos modernos e clássicos: caldeirões antigos iluminados por hologramas, feitiços sendo lançados enquanto drones sobrevoavam, capturando tudo em vídeo para a "BruxaTube," a rede social mágica.

Cada bruxa mostrou suas habilidades, e, surpreendentemente, até as mais dependentes da tecnologia revelaram talentos que há muito estavam adormecidos. O bruxo corcunda, sem suas batidas eletrônicas, encantou a todos com um feitiço que fez estrelas dançarem no céu do castelo, algo que ele havia aprendido em sua juventude, muito antes de se apegar ao rap e às festas.

Quando chegou a vez de Angélica, ela sorriu, olhou ao redor e, sem dizer uma palavra, fez um movimento com as mãos. De repente, todas as luzes se apagaram e, por um breve momento, o castelo ficou em silêncio. Então, um brilho suave começou a emanar de todos os cantos. Não era tecnologia, não eram feitiços complicados, era pura magia. Ela havia invocado a própria essência do castelo, que havia sido esquecida com o tempo — uma força ancestral que conectava todas as bruxas ali presentes.

Ao final, Anciã se aproximou de Angélica, com um sorriso no rosto e uma mão estendida.

— Você fez bem, minha querida — disse a velha bruxa, em um tom que misturava orgulho e aceitação.

E assim, o castelo das bruxas seguiu em frente. A era da computação trouxe inúmeras facilidades, mas no fundo, a verdadeira magia sempre esteve ali, esperando para ser redescoberta. Agora, as bruxas não precisavam escolher entre o passado e o futuro; elas haviam aprendido que a verdadeira força estava em saber como equilibrar os dois.

E naquele castelo, onde a tecnologia e a feitiçaria se encontravam, a vida seguia cheia de mistérios, festas e muita, muita magia.

PAULO PEREIRA
Enviado por PAULO PEREIRA em 03/10/2024
Código do texto: T8165786
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