HÁ MUITO TEMPO, EM UMA VILA RODEADA POR MONTANHAS COBERTAS DE FLORES SILVESTRES, VIVIA UMA JOVEM CHAMADA FLORIANA. SEUS CABELOS TINHAM A COR DO SOL DOURADO AO ENTARDECER, TÃO LEVES E AMARELOS QUE PARECIAM FLUTUAR COM A BRISA. SUA PRESENÇA ERA SUAVE, GENTIL COMO O TOQUE DE UMA PÉTALA, E TODOS QUE A CONHECIAM A ADMIRAVAM POR SUA BONDADE E BELEZA.

 

FLORIANA MORAVA EM UMA PEQUENA CASA COM UM JARDIM ENCANTADO, ONDE CUIDAVA DE FLORES DE TODAS AS CORES E FORMAS. NO CENTRO DO JARDIM, HAVIA UMA ÚNICA FLOR AMARELA, ESPECIAL E MISTERIOSA. ESTA FLOR FLORESCIA UMA ÚNICA VEZ POR ANO, ENCHENDO O AR COM UM PERFUME DOCE E DELICADO, MAS LOGO MURCHAVA E SUAS PÉTALAS CAIAM, DESAPARECENDO ATÉ O PRÓXIMO ANO.

 

UM DIA, ENQUANTO CUIDAVA DE SEU JARDIM, UM MAGO CHAMADO PANTALEÃO APARECEU. ELE ERA CONHECIDO POR SEU TEMPERAMENTO CAPRICHOSO E POR ADORAR PREGAR PEÇAS COM FEITIÇOS. OBSERVANDO A DOÇURA DE FLORIANA, O MAGO FICOU ENCIUMADO. ELE, ACOSTUMADO A CONTROLAR TUDO COM SEUS ENCANTAMENTOS, NÃO CONSEGUIA ENTENDER COMO ALGUÉM PODERIA SER TÃO FELIZ SEM GRANDES PODERES OU RIQUEZAS.

 

— COMO PODE, PEQUENA FLORIANA, ESTAR SEMPRE TÃO CONTENTE COM SUA VIDA SIMPLES? — PERGUNTOU PANTALEÃO, COM UM OLHAR CURIOSO.

 

— EU SOU FELIZ COM O QUE TENHO — RESPONDEU FLORIANA COM UM SORRISO TRANQUILO. — CUIDAR DO MEU JARDIM, VER AS FLORES DESABROCHAREM, É TUDO O QUE EU PRECISO.

 

PANTALEÃO, IRRITADO POR NÃO CONSEGUIR PERTURBAR SUA SERENIDADE, DECIDIU LANÇAR UM FEITIÇO SOBRE ELA. ELE BALANÇOU SUA VARINHA MÁGICA E, NUM PISCAR DE OLHOS, TRANSFORMOU FLORIANA EM UMA FLOR AMARELA, IDÊNTICA ÀQUELA QUE FLORESCIA APENAS UMA VEZ POR ANO.

 

— AGORA VOCÊ VERÁ COMO É SER ESQUECIDA, MURCHAR E DESAPARECER — RIU PANTALEÃO, ANTES DE DESAPARECER EM UMA NUVEM DE FUMAÇA.

 

FLORIANA, AGORA EM FORMA DE FLOR, PODIA SENTIR O VENTO SUAVE BALANÇANDO SUAS PÉTALAS E O CALOR DO SOL A ENVOLVENDO. AO SEU REDOR, AS PLANTAS DO JARDIM COMEÇARAM A SUSSURRAR ENTRE SI.

 

— VEJA SÓ! A POBRE FLORIANA AGORA É UMA SIMPLES FLOR — COCHICHOU A MANGUEIRA.

 

— ELA NUNCA SERÁ TÃO ÚTIL QUANTO EU, QUE DOU FRUTOS — CONTINUOU A MANGUEIRA, ORGULHOSA.

 

A PALMEIRA, NÃO QUERENDO FICAR PARA TRÁS, RESPONDEU: — PELO MENOS MEUS GALHOS DANÇAM AO VENTO E TODOS DESEJAM MINHAS FOLHAS PARA CONSTRUIR TELHADOS.

 

AS OUTRAS PLANTAS DO JARDIM TAMBÉM COMEÇARAM A SE COMPARAR, TODAS ACHANDO QUE ERAM MELHORES DE ALGUMA FORMA. PORÉM, NO MEIO DE TODO ESSE FALATÓRIO, A FLOR AMARELA, QUE ANTES ERA FLORIANA, PERMANECEU EM SILÊNCIO.

 

UM VISITANTE, AO PASSEAR PELO JARDIM, OUVIU AS RECLAMAÇÕES DAS PLANTAS. CURIOSO, SE APROXIMOU DA FLOR AMARELA E PERGUNTOU:

 

— POR QUE VOCÊ, QUE FOI TRANSFORMADA, NÃO ESTÁ RECLAMANDO COMO AS OUTRAS PLANTAS?

 

A FLOR ENTÃO RESPONDEU COM SUA DELICADA VOZ: 

— UM DIA EU TAMBÉM DESEJEI SER COMO A MANGUEIRA, FORTE E CHEIA DE FRUTOS. E, POR VEZES, INVEJEI A PALMEIRA POR SUAS FOLHAS GRACIOSAS. MAS, COM O TEMPO, APRENDI QUE, SE DEUS QUISESSE QUE EU FOSSE COMO ELAS, ELE TERIA ME FEITO ASSIM. EM VEZ DISSO, ELE ME FEZ SER UMA FLOR AMARELA, PEQUENA E SIMPLES. EU FLORESÇO APENAS UMA VEZ POR ANO, E ISSO ME BASTA. CADA UM DE NÓS TEM SUA PRÓPRIA BELEZA E PROPÓSITO.

 

O VISITANTE, TOCADO PELAS PALAVRAS DE FLORIANA, COMPREENDEU A SABEDORIA POR TRÁS DA SIMPLICIDADE. ELE SE VIROU PARA AS OUTRAS PLANTAS E DISSE:

 

— CADA UM DE VOCÊS É ÚNICO. A MANGUEIRA OFERECE SEUS FRUTOS, A PALMEIRA SUAS FOLHAS, E A FLOR AMARELA SUA BELEZA POR APENAS UM BREVE MOMENTO. TODAS TÊM SEU VALOR, MAS É NA ACEITAÇÃO DE QUEM SOMOS QUE ENCONTRAMOS A VERDADEIRA PAZ.

 

AS PLANTAS SILENCIARAM. E, NAQUELE MOMENTO, PANTALEÃO, QUE ESTAVA OBSERVANDO DE LONGE, SENTIU UMA MUDANÇA EM SEU CORAÇÃO. ELE, QUE ACHAVA QUE PODIA CONTROLAR TUDO, PERCEBEU QUE A VERDADEIRA MAGIA ESTAVA NA ACEITAÇÃO E NA HARMONIA. DECIDIU, ENTÃO, REVERTER O FEITIÇO.

 

COM UM GESTO DE SUA MÃO, O MAGO QUEBROU O ENCANTAMENTO, E FLORIANA VOLTOU À SUA FORMA HUMANA, MAIS RADIANTE DO QUE NUNCA. PANTALEÃO, ARREPENDIDO, SE DESCULPOU E PROMETEU NUNCA MAIS USAR SEUS PODERES PARA CAUSAR MAL A NINGUÉM.

 

A PARTIR DAQUELE DIA, O JARDIM DE FLORIANA FLORESCEU COM MAIS VIGOR DO QUE NUNCA. AS PLANTAS, AGORA EM PAZ COM SUAS PRÓPRIAS NATUREZAS, VIVERAM EM HARMONIA. E FLORIANA, COM SEU CORAÇÃO AINDA MAIS BONDOSO, CONTINUOU A CUIDAR DELAS, SABENDO QUE A VERDADEIRA BELEZA ESTÁ EM ACEITAR QUEM SOMOS E FLORESCER DA MANEIRA QUE FOMOS DESTINADOS.

 

E ASSIM, O SOL BRILHAVA SUAVEMENTE SOBRE O JARDIM ENCANTADO, ONDE FLORIANA E SUAS FLORES VIVIAM FELIZES PARA SEMPRE.

 

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 28/09/2024
Código do texto: T8162299
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