ERA UMA TARDE QUENTE NA CASA DE DONA GERTRUDES, E TUDO PARECIA ESTAR EM SEU DEVIDO LUGAR. A COZINHA BRILHAVA, A SALA CHEIRAVA A LAVANDA, E A JANELA ESTAVA ABERTA, DEIXANDO A BRISA SUAVE ENTRAR. MAS, O QUE NINGUÉM SABIA ERA QUE NAQUELA CASA, UM VERDADEIRO "BAILÃO" ESTAVA PRESTES A COMEÇAR.
NO CANTO DA SALA, UMA PEQUENA PULGA CHAMADA FILÓ ESTAVA ANIMADÍSSIMA. ELA NÃO PARAVA DE DANÇAR, PULANDO DE UM LADO PARA O OUTRO NO TAPETE FELPUDO. FILÓ ADORAVA EXIBIR SEUS SALTOS ACROBÁTICOS ENQUANTO CANTAROLAVA UMA MUSIQUINHA QUE SÓ ELA CONHECIA:
— “PULA, PULA, VAI, SEM PARAR! SE ME PEGAREM, VOU ESCAPAR!”
E, DE FATO, NINGUÉM CONSEGUIA PEGÁ-LA! ATÉ O GATO DE DONA GERTRUDES JÁ TINHA DESISTIDO, FICANDO DEITADO NO SOFÁ, SÓ OBSERVANDO DE RABO DE OLHO.
ENQUANTO FILÓ ENSAIAVA SEUS MOVIMENTOS, LÁ DO QUARTO VEIO O ZUNIDO INSUPORTÁVEL DE ZECA, O PERNILONGO, FAZENDO SEU HABITUAL VOO RASANTE EM DIREÇÃO AO BERÇO DO BEBÊ. O POBRE NENÉM SÓ CONSEGUIA SE MEXER E CHORAR ENQUANTO ZECA SE APROXIMAVA COM SEU ZUMBIDO AGUDO:
— “HOJE VOU FAZER UM BANQUETE! CUIDADO, QUE EU VOU MORDER!”
O BEBÊ, COM SEUS BRAÇOS RECHONCHUDOS, TENTAVA ESPANTAR ZECA, MAS ELE ERA ÁGIL DEMAIS, DESVIANDO COM PIRUETAS NO AR E SE SENTINDO UM VERDADEIRO PILOTO DE ACROBACIAS.
ENQUANTO ISSO, DONA GERTRUDES, QUE ESTAVA NA COZINHA PREPARANDO SEU FAMOSO BOLO DE CENOURA, NEM DESCONFIAVA QUE NO SEU ARMÁRIO A TRAÇA DOROTÉIA ESTAVA TENDO UM BANQUETE PRÓPRIO. DOROTÉIA ADORAVA UM TECIDO ANTIGO, E NAQUELE MOMENTO ELA ESTAVA SE ESBALDANDO COM A CORTINA DO BANHEIRO.
— “AH, QUE DELÍCIA DE ALGODÃO! VOU ROER SEM INTERRUPÇÃO!”, CANTAVA DOROTÉIA COM A BOCA CHEIA.
MAS O GRANDE DESTAQUE DA FESTA AINDA ESTAVA PARA CHEGAR. PASSEANDO CALMAMENTE PELA CASA, COMO SE FOSSE A DONA DO LUGAR, ESTAVA BERTA, A BARATA. BERTA ERA UMA VETERANA NOS PASSEIOS NOTURNOS, MAS HOJE RESOLVEU DAR UMA VOLTINHA DIURNA, SÓ PARA VARIAR. ELA ANDAVA PELO CORREDOR, COM SUAS ANTENAS BALANÇANDO E SEU ANDAR ALTIVO.
— “HOJE É DIA DE DESFILE, MEUS CAROS! OLHEM BEM, POIS SOU A ESTRELA!”, DIZIA BERTA, DESFILANDO NA PONTA DAS PATAS.
A SITUAÇÃO NA CASA ESTAVA FORA DE CONTROLE. FILÓ SALTITAVA PELO SOFÁ, ZECA FAZIA MANOBRAS PERIGOSAS PERTO DO BEBÊ, DOROTÉIA DEVORAVA A CORTINA SEM DÓ, E BERTA PARECIA PRESTES A PARTICIPAR DE UM CONCURSO DE MISS INSETO.
DONA GERTRUDES, DISTRAÍDA, SÓ PERCEBEU O CAOS QUANDO ESCUTOU UM ZUMBIDO PARTICULARMENTE IRRITANTE BEM PERTO DA ORELHA. AO SE VIRAR, VIU ZECA, O PERNILONGO, VOANDO EM CÍRCULOS. NÃO DEU OUTRA: ARMOU-SE COM O PRIMEIRO CHINELO QUE ENCONTROU E PARTIU PARA A BATALHA.
— “AH, NÃO! NESSA CASA, NÃO!”, GRITOU ELA, GIRANDO O CHINELO COMO SE FOSSE UMA ESPADA.
FOI ENTÃO QUE COMEÇOU A VERDADEIRA AVENTURA! FILÓ, AO VER DONA GERTRUDES ARMADA, DEU UM SALTO MONUMENTAL E SE ESCONDEU DEBAIXO DO TAPETE. ZECA, O PERNILONGO, FEZ UM LOOPING DESESPERADO E FUGIU PELA JANELA. DOROTÉIA, COM A BOCA CHEIA DE CORTINA, DISFARÇOU E SE ESCONDEU ENTRE AS PÁGINAS DE UM LIVRO VELHO. E BERTA? AH, A CORAJOSA BERTA APENAS PAROU NO MEIO DO CORREDOR, ENCARANDO DONA GERTRUDES COMO SE FOSSE UMA DUELISTA.
— “SE É GUERRA QUE VOCÊ QUER, GUERRA TERÁ!” — PENSOU BERTA, ANTES DE DAR MEIA-VOLTA E DESAPARECER ATRÁS DA GELADEIRA.
DONA GERTRUDES SUSPIROU ALIVIADA, EMBORA SOUBESSE QUE A BATALHA ESTAVA LONGE DE TERMINAR.
NAQUELA NOITE, ENQUANTO A CASA DORMIA EM PAZ, OS INSETOS COCHICHAVAM ENTRE SI, PLANEJANDO SEU PRÓXIMO ENCONTRO.
— “AMANHÃ, NA COZINHA ÀS 23H?” SUGERIU FILÓ.
— “FECHADO!” RESPONDERAM TODOS EM CORO, ENQUANTO ZECA JÁ AFIAVA SEU FERRÃO PARA UM NOVO ATAQUE NOTURNO.
E ASSIM, MESMO DEPOIS DE TODA A CONFUSÃO, A FESTA DOS INSETOS CONTINUOU. AFINAL, NEM DONA GERTRUDES COM SEU CHINELO PODERIA ACABAR COM A ETERNA FOLIA DOS PEQUENOS MORADORES DA CASA.