Luzes (Cap III - Vampiros?)

     A luz branca que se esgueirava através da densa cortina de veludo vermelho era revigorante e convidativa. Assim como o ar fresco da manhã perfumado pelos aromas do jardim e do bosque vizinhos. Sabrina abriu os olhos devagar para que se acostumassem suavemente com a claridade. Logo percebeu que sua colega de quarto já havia desperto e saído. Levantou-se e foi em direção à janela afim de ver a agitação que se fazia do lado de fora. Ouvia-se leve burburinho de conversas amistosas em meio à cantoria dos passarinhos.

     Abaixo da janela havia uma penteadeira com alguns porta retratos. Em uma das fotografias estava o gigante Gui ao lado de uma moça alegre e bonita com os cabelos também avermelhados e a pele muito branca e cheia de sardas. “Deve ser Giovanna, parecem irmãos, ela e Gui.” Pensou Sabrina colocando o porta retratos no lugar e abrindo a cortina logo em seguida, revelando o que parecia ser um verdadeiro paraíso. Era como um sonho, uma atmosfera, que parecia de outro mundo, invadiu seu olhar.

     Viu um jardim intensamente colorido por flores de espécies bastante variadas, de todas as cores e tamanhos, em volta, imensas e frondosas árvores, com muitos bancos em torno delas, a maioria deles ocupados por pessoas em estudo ou trabalho. Mais ao fundo havia até uma roda de pessoas em torno de um palestrante animado discursando sobre alguma coisa que parecia interessante. Diversas crianças também brincavam animadas em um parque próximo. Pássaros de todas as cores, animais silvestres amistosos em todos lugares, uma profusão infinita de borboletas. Uma enorme variedade de formas de vida pode ser vista em um instante.

     Neste momento Sabrina é desperta do seu encantamento, alguém bateu à porta, depois ouviu-se a voz doce e trêmula de Madame Sofia à lhe chamar. “Menininha! Já é hora de se levantar, seu café da manhã te espera."

     "Já estou indo Madame!” respondeu a menina indo abrir a porta do quarto.

     “Se arrume por favor, vamos ao refeitório.” Disse a senhorinha depois de cumprimentar a menina e verificar se ela estava bem fisicamente e mentalmente.

     “Sim senhora!” Respondeu Sabrina enquanto se arrumava depressa.

     No refeitório Sabrina ficou conhecendo Giovanna, que foi quem preparou seu café da manhã e de quem havia compartilhado o quarto e as roupas que estava vestindo. Ficou sabendo que a menina ruiva de sorriso fácil à sua frente havia chegado àquela casa em condições parecidas com a sua. Soube também que todos ali possuíam obrigações e responsabilidades, e que a de Giovanna era auxiliar Dona Carlotita nas tarefas da cozinha pela manhã. E que qualquer forma de estudo ali era bem vinda e incentivada, fazia parte das obrigações de quem quisesse morar ali. Mas o laser e o descanso eram primordiais.

     “Será que eu nunca vou conseguir voltar pra minha casa?” Pensou a criança preocupada. “E a sua família, onde está Giovanna?” Perguntou demonstrando toda sua preocupação, não queria morar ali, apesar do acolhimento. Ela tinha um lar pra onde voltar.

     “Preciso sair daqui e encontrar a minha família sozinha. Eu não quero ficar morando aqui.” Pensou a menina inquieta depois de ouvir Giovanna dizer que toda a sua família era aquela gente dali, daquela casa que parecia ser um grande abrigo.

     “Não pode ser. Você não tem uma casa pra onde voltar?” Perguntou Sabrina curiosa e ainda mais preocupada terminando de tomar o seu desjejum.

     “Deixa que eu levo a sua bandeja.” Falou Giovanna se levantando. “Com certeza Madame Sofia irá te ajudar a encontrar sua família. Tenha paciência."

     Sabrina agradeceu o café da manhã e concordou em esperar por Madame Sofia. Ela parecia a chefe, ou administradora daquela casa. “Deve ser por isso que a chamam de Madame.” Pensou a menina. Madame Sofia havia saído pra resolver algum assunto urgente, a esperaria no jardim ao lado. Giovanna se despediu e foi até a cozinha continuar sua tarefa matinal.

     Saindo para o jardim Sabrina se encontrou com Dona Carlotita, a cozinheira a quem Giovanna auxiliava. Ela se apresentou cordialmente para a menina. Trazia pendurado aos braços um enorme cesto cheio de verduras e de legumes para preparar o almoço de logo mais. “Seja bem vinda a nossa casa menina.” Falou a senhora enérgica, porém simpática, de rosto enrugado, mas jovial, com os cabelos bem brancos trançados em volta da cabeça e amarrados por um belo lenço por cima.

     “Ela estava flutuando? Ou eu estou doida?” Pensou Sabrina saindo finalmente no jardim. Lá procurou um banco desocupado à sombra para se sentar e pensar nos últimos acontecimentos dos seus últimos dois dias, nas conversas que ouviu, nos próprios sentimentos. Fechou os olhos e sentiu a luz do sol lhe aquecer a pele suavemente, enquanto acalmava os pensamentos contraditórios. Sentiu-se confortável ali, naquela casa imensa, que parecia um hotel chique. Gostou da hospitalidade dali, as pessoas eram bastante educadas, e realmente pareciam interessadas em seu bem estar.

     “Posso ficar aqui alguns dias?” Pensou a menina se sentindo revigorada e bem menos preocupada.

     “Vejo que já está se sentindo melhor menininha!” Falou Madame Sofia ao chegar, interrompendo o momento de introspecção da menina bastante tempo depois.

     “Só agora eu percebi Madame! Como a senhora faz isso?” Perguntou a menina impressionada com o que estava vendo.

     “Do que você está falando criança?” Perguntou a velhinha um pouco assustada.

     “A senhora está flutuando, igual a Dona Carlotita, e só agora eu percebi. A senhora nem toca os pés no chão pra se movimentar.”

     “Ah minha filha! Mas isto é muito comum e simples…” Falou Madame Sofia antes de ser interrompida por uma gritaria vindo da direção da cozinha, no meio da sua explicação. “Ora, mas o que será que está acontecendo ali?” Se perguntou a senhorinha em voz alta. “Já volto menininha,” falou agora se dirigindo para Sabrina, que se levantou para acompanhá-la.

     “Quero ajudar!” Disse a menina saindo com dificuldade de acompanhar a senhora idosa, que realmente flutuava, e muito rápido, na direção da cozinha.

     Na cozinha Dona Carlotita gritava desesperada por socorro. Uma de suas ajudantes havia perdido os sentidos, caiu e bateu forte com a cabeça.

     “Volte até onde estávamos Sabrina, de lá, indo para a esquerda fica a nossa horta. Gui deve estar lá, traga-o até aqui para nos ajudar com Paloma. Ele poderá avaliar melhor o que aconteceu com ela.” Dizendo isto, Madame Sofia se abaixou para arrumar de modo mais confortável a cabeça da pobre criança loira caída no chão da cozinha, enquanto esperava Gui chegar.

     Não foi difícil para Sabrina encontrar a horta, muito mais fácil foi encontrar o gigante. Este estava atirado ao chão, revolvendo a terra com as mãos e arrancando ervas daninhas. “Venha depressa Gui,” gritou Sabrina assim que o avistou, “a menina está caída lá no chão da cozinha. Madame Sofia pediu pra vir te pedir ajuda,” concluiu a menina quase sem fôlego pois viera correndo muito depressa.

     Gui, sem perder a calma costumeira, apenas levantou os olhos, atirou mais um punhado de ervas daninhas ao cesto à sua frente. “Se acalme criança, já estou indo,” falou e em seguida se levantou e limpou as mãos em um lenço que trazia amarrado ao pescoço, então foi depressa até a cozinha acompanhado por Sabrina.

     “Vamos levá-la até a enfermaria Gui, por favor.” Pediu Madame Sofia ao gigante assim que ele entrou onde estavam. Na enfermaria a velhinha lhe pergunta: “Aconteceu de novo, não foi Gui?”

     “Sim Madame, é a segunda criança atacada em dois dias. Desta apenas lhe roubaram grande soma de energia.” Respondeu o gigante com gravidade na voz.

     “Segunda criança?” Gritou Sabrina inquieta.

     “Silêncio por favor menininha! Vamos ajudá-la se recuperar agora, lhe doando a nossa energia.” Falou Madame Sofia bastante séria.

Então todos ficaram quietos e de olhos fechados, menos Sabrina, que queria ver tudo, curiosa. Madame Sofia fez uma prece e, como que por encanto, seu peito e suas mãos se iluminaram, em seguida a senhorinha colocou as mãos sobre a testa de Paloma, que reagiu quase que imediatamente e despertou.

     “Além de voar é curandeira?” Pensou Sabrina impressionada.

     “Você está bem Paloma?” Perguntou a senhorinha simpática, ao que a criança ainda um pouco desorientada respondeu que sim num breve movimento de cabeça.

     “Quem foi a outra criança atacada? E pelo quê?” Perguntou Sabrina inquieta, demonstrando nervosismo e desequilíbrio.

     “Você não se lembra de nada menininha?” Falou Madame Sofia lhe olhando com carinho e bastante preocupação. A menina estava muito pálida, parecia que ia desmaiar.”Deite-se nesta outra cama, depressa, menininha.”

     “O que a senhora sabe que eu preciso me lembrar?” Questionou Sabrina já sem forças se deitando na cama ao lado da de Paloma.

     “Você foi atacada ontem, por este mesmo vampiro que atacou Paloma,” interrompeu o gigante, “e vocês precisam descansar, acalmar esses pensamentos ruins e negativos para que o vampiro se afaste,” concluiu.

     “Eu...não...lembro...de...nada.” Sussurrou a menina bastante enfraquecida.

     “Eles são traiçoeiros menina,” falou Dona Carlotita quebrando seu silêncio finalmente depois de ter ficado quieta somente observando, “Paloma foi pega por ele só por que ficou impressionada com a sua história, de como você foi atacada, que eu estava contando a ela.”

     “Descansem crianças, mais tarde eu volto pra ver como vocês estão.” Falou a senhorinha, depois se despediu das meninas e saiu da enfermaria junto do gigante e da cozinheira. Sabrina e Paloma pegaram no sono, um sono bastante pesado. Precisavam realmente descansar bastante, principalmente Sabrina.

Josemar Fonseca
Enviado por Josemar Fonseca em 19/09/2024
Código do texto: T8155178
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