OS MONARCAS ALADOS
Era um vez... O reino encantado de Tanaquepal, governado pela rainha Eratez e seu esposo o rei Loneam, um casal de monarcas muito sábios e bondosos, conhecidos em todos os reinos do planeta Noíro.
Certo dia, o rei Loneam precisou viajar para um reino distante por um longo período.
O tempo passou e o rei não retornou nem deu notícias.
Apesar de saudosa e preocupada, a rainha Eratez continuou cuidando do seu povo com a mesma dinâmica de quando Loneam estava ao seu lado.
Nesse meio tempo, apareceu no reino, um andarilho desconhecido, aparentemente faminto e doente, trazendo, preso numa gaiola, um pássaro azul, um sanhaço.
Os aldeões o levaram á rainha Eratez, para saber quais providências tomarem em relação ao desconhecido.
Chegando na presença da rainha, o andarilho a comprimentou com respeitosa reverência e lhe entregou a gaiola.
___Vossa majestade, meu nome é Oirégor e sou súdito do reino de Otícar. Meu soberano, o rei Óteotim, lhe enviou esse presente e uma mensagem... mas, no caminho para cá , fui assaltado e os ladrões levaram tudo... restou apenas a gaiola e o pássaro, não entendi porquê eles não quiseram levar essa gaiola de ouro puro.
Eratez recebe o presente meio sem jeito pois não admite que prendam animais silvestres, menos ainda um avoante.
Dirige-se aos criados e pede para cuidarem e alimentarem o desconhecido.
Os dias passam e a rainha não recebe nenhuma notícia do esposo e isso a consome em triste e solitária agonia.
Para os súditos ela se mostra serena e confiante, mas suas noites são passadas quase sem dormir.
Certa manhã, ela se aproxima da gaiola e começa a conversar com o pássaro, os olhos marejados.
___Olhando o negrume profundo dos seus olhos sem cílios, vislumbro minha alma dentro do seu peito, gritando assustada, presa nessa imensa gaiola de ouro...
E estende a mão para abrir a porta da gaiola. Sente uma fisgada feroz no indicador, que faz o sangue esguichar. E, de repente, a gaiola e o pássaro desaparecem.
Aflita ela procura, sem entender o que está acontecendo.
Segundos depois, a gaiola e o sanhaço reaparecem no mesmo lugar onde estavam, antes. De pé, na gaiola aberta, o pássaro a olha fixamente e um grito de guerra fere seus ouvidos. É uma voz sua conhecida e muito amada.
___Estou vivo, Eratez!
Imagens se sobrepõem fazendo com que ela reconheça seu esposo amado, e comece a falar como se estivesse em transe...
___ Mas está preso... e se você agora tem asas, é para voar!
Ele balança as plumas azuis,
virando a cabeça como para olhar melhor sua rainha
______Sua alma também era livre... voava... agora, porém, seu corpo mortal a prende sem dó! Quem está mais preso, eu ou você? Minhas asas ainda conhecem os ares o rumo do vento. A qualquer momento posso retomar
minha liberdade... voltar a voar na imensidão desse céu azul. E você, ainda conhece o som das estrelas? Relembra, ainda, a cor sem igual, dessas suas asas, possantes, de seda?! O cheiro gostoso do dom de ninar... do abraço macio, sem lama, só plumas carinho sem par? Nunca desaprenda, minha menina, pequena... Eratez, Senhora dos Sonhos... o dom de voar!!!
___Loneam, meu amado, quem fez isso com você? Como posso reverter...
___Precisa retirar um rubi engastado no meu peito... um maldito feiticeiro me transformou em pássaro para me impedir de voltar para casa. Seu projeto é seduzir você e usurpar o nosso reino. O feiticeiro está aqui, é o andarilho... ele nem desconfia que ainda posso utilizar a Magia da Luz para desaparecer juntamente com a gaiola... por isso os ladrões não me levaram... você lembra dos nossos rituais na gruta?
Tremendo muito Eratez confirma com um gesto de cabeça.
____Terá que me levar até lá e realizar o ritual para trazer de volta minha forma humana. O prazo para que essa transformação seja definitiva é até a meia noite de hoje...
A rainha recobra a Antiga Essência da sua casta de Encantados, ela é uma xamã guerreira, descendente dos Antigos Magos da Luz.
Em questão de segundos uma poderosa e bela harpia toma o lugar da rainha e, com a gaiola segura pela patas, bate as vigorosas asas, alçando vôo em direção a Gruta dos Rituais.
Oirégor que os observava sorrateiramente sente uma ira extrema o invadir. Pronuncia palavras de encantamento e como num passe de mágica se transforma num horrendo abutre, alçando vôo no encalço dos dois.
Ao chegar na Sala dos Rituais percebe que é tarde demais. Duas aves poderosas - uma Harpia e um Condor o esperam.
Quando ele pousa no chão, ambos retomam sua forma humana e o enfrentam.
___Poderia lhe perguntar qual o motivo de ter feito o que fez, mas isso não me interessa mais. Pessoas existem que no lugar de sangue tem veneno... você é um maldito carniceiro, Oirégor. Sabemos que transformou todo o reino de Otícar e seus habitantes em pequenos animais antes de me atacar. Minha rainha e eu vamos desfazer sua maldição, assim como eu, sozinho, consegui convencer os ladrões roubarem sua mensagem mentirosa para Eratez.
___Estou pagando pra ver. Ninguém é páreo para mim, nunca me derrotarão. Vou destruir vocês dois também.
Eratez olha-o abismada sem entender a razão de tanta maldade. Oirégor, dá dois passos na direção do casal, e pára como se seus pés estivessem colados no chão. Sente seu corpo se modificando, retornando a ser um abutre.
Sua voz se transforma um crocitar medonho fazendo com que ele entenda que seu tempo acabou...
Eratez e Loneam estendem as mãos sobre o maldito feiticeiro Oirégor, erguendo-o do solo, sem qualquer peso corporal, o que o leva em direção ao espaço sideral, numa velocidade incrível, para sempre.
___Você, coisa ruim, não fará mal a mais ninguém neste planeta. Seu destino é vagar pelo espaço sem fim, sem um segundo de descanso. Vá!
Dias depois, juntos novamente, a rainha Eratez e seus súditos, festejam o retorno do rei Loneam.
E assim, a alegria, a prosperidade e a paz retornam ao reino de Tanaquepal.
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