**OS JACARÉS DO PÂNTANO**
NO CORAÇÃO DO PANTANAL, ENTRE AS ÁGUAS BARRENTAS E A VEGETAÇÃO DENSA, VIVIA UM QUARTETO MUSICAL FAMOSO CHAMADO "THE ALLIGATORS". O GRUPO ERA COMPOSTO POR QUATRO JACARÉS TALENTOSOS: NATASHA, A VOCALISTA, COM UMA VOZ PODEROSA QUE ECOAVA PELO PÂNTANO; LUIGI, O TRUMPETISTA, CUJOS SOLOS FAZIAM ATÉ AS CAPIVARAS DANÇAREM; LUKI, O BATERISTA, QUE BATIA SUAS BAQUETAS COM TANTA ENERGIA QUE AS AVES MIGRATÓRIAS SABIAM QUANDO ELE ESTAVA ENSAIANDO; E AMADEU, O VIOLINISTA, CONHECIDO POR TOCAR MELODIAS TÃO DOCES QUE ATÉ AS ARIRANHAS PARAVAM PARA OUVIR.
DURANTE MUITOS ANOS, "THE ALLIGATORS" REINOU ABSOLUTO NO PANTANAL. SEUS SHOWS ERAM GRANDIOSOS, COM PLATEIAS DE TARTARUGAS, GARÇAS, SUCURIS E, CLARO, OUTROS JACARÉS. TODOS ADORAVAM SUAS APRESENTAÇÕES, E A FAMA DO QUARTETO ATRAVESSAVA AS ÁGUAS PANTANEIRAS. MAS, COM O TEMPO, AS COISAS COMEÇARAM A MUDAR. OS OUTROS RÉPTEIS DO PÂNTANO, ANTES FÃS FERVOROSOS, COMEÇARAM A DESPREZAR O GRUPO. DIZIAM QUE ELES HAVIAM PERDIDO SUA ESSÊNCIA, QUE AGORA SÓ SE PREOCUPAVAM COM A FAMA E OS HOLOFOTES.
— ELES SÓ TOCAM PARA SE EXIBIR — MURMURAVA UMA COBRA D'ÁGUA.
— ESQUECERAM DO VERDADEIRO ESPÍRITO DO PANTANAL — COMENTAVA UM JACARÉ MAIS VELHO, BALANÇANDO A CABEÇA EM REPROVAÇÃO.
CANSADOS DAS CRÍTICAS, OS MEMBROS DO "THE ALLIGATORS" COMEÇARAM A PERDER A ALEGRIA DE TOCAR. NATASHA, QUE SEMPRE CANTAVA COM PAIXÃO, AGORA SÓ ENSAIAVA POR OBRIGAÇÃO. LUIGI, O TRUMPETISTA, NÃO CONSEGUIA MAIS CRIAR MELODIAS. LUKI BATIA NAS CONGAS SEM ENTUSIASMO, E AMADEU, O TALENTOSO VIOLINISTA, MAL CONSEGUIA TOCAR UMA NOTA SEM SE SENTIR VAZIO.
UM DIA, DEPOIS DE UM SHOW EM QUE QUASE NINGUÉM APARECEU, NATASHA, COM SEUS OLHOS TRISTES, PROPÔS ALGO AO GRUPO.
— TALVEZ DEVÊSSEMOS FAZER UMA ÚLTIMA APRESENTAÇÃO… UMA QUE MOSTRE QUEM REALMENTE SOMOS — DISSE ELA, SUA VOZ ECOANDO NAS MARGENS DO RIO.
— E SE NÃO APARECER NINGUÉM? — PERGUNTOU LUIGI, PREOCUPANDO-SE EM VOZ ALTA.
— NÃO IMPORTA. VAMOS TOCAR PARA NÓS MESMOS E PARA O PANTANAL. PARA AS ÁGUAS, AS ÁRVORES E OS VENTOS — RESPONDEU LUKI, BATENDO SUAS BAQUETAS COMO SE ESTIVESSE DECIDIDO A FAZER ISSO ACONTECER.
E ASSIM, OS QUATRO AMIGOS COMEÇARAM A PREPARAR UM GRANDE CONCERTO. ELES ENSAIAVAM DIA E NOITE, NÃO PARA OS OUTROS, MAS PARA O PRÓPRIO PRAZER DE CRIAR MÚSICA. NATASHA COMPÔS UMA NOVA CANÇÃO INSPIRADA NOS SONS DA FLORESTA E DOS RIOS. LUIGI CRIOU UMA MELODIA QUE IMITAVA O SOM DO VENTO SOPRANDO ATRAVÉS DAS FOLHAS. LUKI FEZ COM QUE SEUS TAMBORES PARECESSEM O SOM DAS GOTAS DE CHUVA CAINDO NAS LAGOAS, E AMADEU, COM SEU VIOLINO, TROUXE À TONA O CANTO DOS PÁSSAROS AO AMANHECER.
NA NOITE DA GRANDE APRESENTAÇÃO, A LUA BRILHAVA ALTO NO CÉU, REFLETINDO NAS ÁGUAS DO PÂNTANO. O PALCO ESTAVA MONTADO, MAS NÃO HAVIA PLATEIA. MESMO ASSIM, "THE ALLIGATORS" SUBIU AO PALCO. NATASHA COMEÇOU A CANTAR, SUA VOZ ECOANDO COMO UM CANTO DE SAUDADE, E OS OUTROS A SEGUIRAM COM SEUS INSTRUMENTOS. A MÚSICA FLUIU, SUAVE E PODEROSA, ENCHENDO O PÂNTANO COM UMA HARMONIA QUE HÁ MUITO NÃO ERA OUVIDA.
ENTÃO, ALGO MÁGICO ACONTECEU. OS RÉPTEIS, QUE HAVIAM DESPREZADO O QUARTETO, COMEÇARAM A SE APROXIMAR, UM A UM. PRIMEIRO VEIO UMA FAMÍLIA DE CAPIVARAS, DEPOIS UMA FILA DE TARTARUGAS, SEGUIDAS POR GARÇAS, SUCURIS E ATÉ OS JACARÉS MAIS CRÍTICOS. TODOS FICARAM EM SILÊNCIO, ABSORVIDOS PELA BELEZA DA MÚSICA. AQUELE SOM ERA DIFERENTE — ERA GENUÍNO, ERA O PANTANAL EM FORMA DE CANÇÃO.
QUANDO A ÚLTIMA NOTA FOI TOCADA, HOUVE UM SILÊNCIO PROFUNDO, SEGUIDO POR UM APLAUSO QUE PARECIA O RUGIDO DE UMA TEMPESTADE. O "THE ALLIGATORS" SORRIU, NÃO PELA FAMA OU PELA APROVAÇÃO, MAS PORQUE, NAQUELA NOITE, ELES REDESCOBRIRAM O VERDADEIRO MOTIVO DE FAZER MÚSICA.
E ASSIM, O QUARTETO VOLTOU A SER AMADO PELOS HABITANTES DO PANTANAL, NÃO POR SEREM ESTRELAS, MAS POR TOCAREM COM O CORAÇÃO. AFINAL, A MÚSICA, ASSIM COMO O PANTANAL, PRECISAVA SER SENTIDA E VIVIDA, NÃO APENAS OUVIDA.
E DESSA VEZ, TODOS, ATÉ OS JACARÉS MAIS RANZINZAS, CONCORDARAM: "THE ALLIGATORS" ESTAVA DE VOLTA.