NO SÁBIO E IMPONENTE “VELHO CHICO”, AS ÁGUAS SERPENTEAVAM POR ENTRE AS MARGENS VERDEJANTES, MAS TODOS SABIAM QUE, À MEIA-NOITE, O RIO DORMIA. ERA UM SONO MÁGICO E MISTERIOSO. DURANTE DOIS OU TRÊS MINUTOS, TUDO PARAVA: AS ÁGUAS, ANTES VELOZES, TORNAVAM-SE IMÓVEIS; AS CACHOEIRAS SILENCIAVAM SEU ETERNO CAIR; E OS PEIXES, POR UM BREVE MOMENTO, DEITAVAM-SE NO FUNDO, COMO SE TAMBÉM SONHASSEM. NESSE INSTANTE ENCANTADO, A MÃE-D’ÁGUA, A SEREIA DE CABELOS LONGOS E OLHOS BRILHANTES COMO O LUAR, EMERGIA DAS PROFUNDEZAS.

 

OS BARQUEIROS, QUE NAVEGAVAM À NOITE, CONHECIAM BEM AS LENDAS. DIZIAM QUE, SE UM DELES OUSASSE ACORDAR O RIO DURANTE SEU DESCANSO, AS CONSEQUÊNCIAS SERIAM TERRÍVEIS. AS COBRAS PERDERIAM O VENENO, MAS SÓ POR UM TEMPO, E QUANDO VOLTASSEM, ESTARIAM AINDA MAIS PERIGOSAS. OS PEIXES PODERIAM NADAR COM FÚRIA, E A PRÓPRIA MÃE-D’ÁGUA LANÇARIA UM OLHAR SEVERO, LEVANDO QUEM A PERTURBASSE PARA O FUNDO DO RIO. MAS, HAVIA TAMBÉM ALGO MAIS MÁGICO: QUEM O RIO LEVAVA PARA SUAS PROFUNDEZAS, QUANDO O SONO TERMINAVA, ERA LIBERTADO E GUIADO PELAS ESTRELAS.

 

UMA JOVEM CHAMADA ESTELA, COM SEUS OLHOS SONHADORES E CORAÇÃO LEVE, TINHA UMA CURIOSIDADE IMENSA SOBRE O RIO DAS ROSAS, COMO ELA O CHAMAVA. PARA ELA, O AROMA DAS ROSAS QUE EXALAVAM DA FLORESTA ÀS MARGENS DO RIO ERA O SEGREDO DA BELEZA DA MÃE-D’ÁGUA. ERA ESSE PERFUME DOCE QUE A SEREIA PROCURAVA AO SAIR DAS ÁGUAS, SENTANDO-SE CALMAMENTE EM UMA CANOA, PARA PENTEAR SEUS LONGOS CABELOS.

 

CERTA NOITE, ESTELA EMBARCOU COM UM BARQUEIRO EM SUA PEQUENA CANOA. ERA UMA NOITE ESTRELADA, E O SILÊNCIO DO RIO OS ENVOLVIA. QUANDO O RELÓGIO MARCOU MEIA-NOITE, O BARQUEIRO PAROU DE REMAR. ELE SABIA QUE O MOMENTO DO SONO DO RIO ESTAVA PRESTES A ACONTECER. O RIO COMEÇOU A SE AQUIETAR, COMO SE SE PREPARASSE PARA DESCANSAR, E O BARQUEIRO LANÇOU UM PEDACINHO DE MADEIRA NA ÁGUA, ESPERANDO QUE ELE FICASSE IMÓVEL.

 

NO SILÊNCIO QUE SE SEGUIU, ESTELA VIU ALGO MÁGICO. A MÃE-D’ÁGUA EMERGIU DAS ÁGUAS, DESLUMBRANTE E SERENA. SEUS CABELOS, MOLHADOS E BRILHANTES, REFLETIAM A LUZ DA LUA, E SUAS MÃOS DELICADAS SEGURAVAM UM PENTE FEITO DE CONCHAS. ELA SUBIU EM UMA CANOA VAZIA PRÓXIMA, E COM UM MOVIMENTO SUAVE, COMEÇOU A PENTEAR SEUS CABELOS. O PERFUME DE ROSAS PREENCHEU O AR, FAZENDO COM QUE ESTELA SUSPIRASSE DE ADMIRAÇÃO.

 

DE REPENTE, ALGO INESPERADO ACONTECEU. ESTELA, COM SUA CURIOSIDADE, INCLINOU-SE DEMAIS PARA A FRENTE E DEIXOU CAIR SEU LENÇO DE SEDA NA ÁGUA. O BARQUEIRO, APAVORADO, SUSSURROU PARA QUE ELA NÃO FIZESSE BARULHO, MAS ERA TARDE DEMAIS. A MÃE-D’ÁGUA PAROU DE PENTEAR OS CABELOS E OLHOU DIRETAMENTE PARA ESTELA.

 

POR UM MOMENTO, O RIO PARECEU DESPERTAR DE SEU SONO.

 

MAS, AO INVÉS DE CASTIGAR ESTELA, A MÃE-D’ÁGUA SORRIU DOCEMENTE. "VOCÊ É CURIOSA, COMO AS ESTRELAS QUE BRILHAM ACIMA", DISSE ELA COM UMA VOZ SUAVE COMO O MURMÚRIO DAS ÁGUAS. "MAS SAIBA, MENINA, QUE HÁ UM TEMPO PARA CADA COISA. O RIO PRECISA DESCANSAR, ASSIM COMO NÓS PRECISAMOS SONHAR."

 

E, COM UM GESTO GENTIL, A MÃE-D’ÁGUA DEVOLVEU O LENÇO À JOVEM. ESTELA, ENCANTADA E GRATA, FEZ UMA REVERÊNCIA, COMPREENDENDO QUE HAVIA TESTEMUNHADO ALGO QUE POUCOS OUSARIAM SONHAR.

 

QUANDO O RIO VOLTOU A CORRER, ESTELA E O BARQUEIRO SEGUIRAM VIAGEM EM SILÊNCIO, O AROMA DAS ROSAS AINDA PRESENTE NO AR. E DESDE AQUELE DIA, ESTELA NUNCA MAIS PERTURBOU O SONO DO RIO. ELA SABIA QUE HAVIA ALGO MAIS PROFUNDO NO RIO DAS ROSAS: UM MISTÉRIO ANTIGO, GUARDADO PELA MÃE-D’ÁGUA, QUE ELA SEMPRE RESPEITARIA.

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 10/09/2024
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