NO ALUCINANTE DESERTO DO SAARA, O SOL ESCALDANTE BRILHAVA SOBRE AS DUNAS DOURADAS, E O VENTO QUENTE SOPRAVA SUAVEMENTE, ESPALHANDO A AREIA PELO AR. EM UM PEQUENO OÁSIS, VIVIA NAZIRA, UMA MULHER DE CABELOS LONGOS E GRISALHOS, CONHECIDA POR SUA SABEDORIA E CORAGEM. ELA HAVIA DECIDIDO QUE ERA HORA DE SE MUDAR PARA OUTRO OÁSIS, ONDE ESPERAVA ENCONTRAR MELHORES CONDIÇÕES PARA VIVER.

 

NAZIRA TINHA UM CAMELO FORTE E FIEL, SEU COMPANHEIRO DE MUITAS JORNADAS. NAQUELE DIA, ELA COMEÇOU A CARREGAR O ANIMAL COM TUDO O QUE TINHA: TAPETES COLORIDOS, UTENSÍLIOS DE COZINHA E GRANDES BAÚS DE ROUPAS. O CAMELO, FIRME E SILENCIOSO, AGUENTAVA PACIENTEMENTE CADA CARGA COLOCADA EM SUAS COSTAS. A MULHER, SATISFEITA, ESTAVA PRESTES A PARTIR QUANDO SE LEMBROU DE ALGO MUITO ESPECIAL.

 

— A PENA AZUL! — EXCLAMOU NAZIRA, COM OS OLHOS BRILHANDO DE SAUDADE.

 

A PENA ERA UM PRESENTE DE SEU PAI, ALGO QUE ELA SEMPRE GUARDARA COM CARINHO. ERA LEVE, DELICADA E CHEIA DE SIGNIFICADOS. NAZIRA CORREU ATÉ SUA TENDA, PEGOU A PENA E VOLTOU AO CAMELO. COM UM GESTO CUIDADOSO, COLOCOU A PENA AZUL SOBRE O MONTE DE PERTENCES QUE O ANIMAL JÁ CARREGAVA.

 

ASSIM QUE A PENA TOCOU A PILHA, O CAMELO, QUE ATÉ ENTÃO HAVIA SUPORTADO TUDO COM BRAVURA, ARRIOU COM UM GEMIDO PROFUNDO E OFEGANTE. SEUS JOELHOS DOBRARAM-SE, E ELE CAIU PESADAMENTE SOBRE A AREIA. O SOM QUE ELE FEZ FOI ENSURDECEDOR, UM LAMENTO TÃO FORTE E TRISTE QUE NAZIRA SENTIU COMO SE O DESERTO INTEIRO ESTIVESSE GRITANDO JUNTO COM O CAMELO. ELE COMEÇOU A BLATERAR TÃO ALTO QUE NAZIRA QUASE ENLOUQUECEU COM O BARULHO QUE ECOAVA POR TODOS OS CANTOS DO OÁSIS.

 

— O QUE ACONTECEU? — PENSOU ELA, ASSUSTADA. — COMO PODE UMA SIMPLES PENA TER CAUSADO ISSO?

 

NAZIRA OLHOU PARA O CAMELO, QUE PERMANECIA NO CHÃO, OFEGANTE, E ENTÃO PARA A PENA AZUL, INOFENSIVA, ALI EM CIMA DA CARGA. SEUS PENSAMENTOS CORRIAM RAPIDAMENTE ENQUANTO TENTAVA ENTENDER. O CAMELO HAVIA SUPORTADO TODO O PESO DOS TAPETES, UTENSÍLIOS E BAÚS, MAS FOI A PENA, LEVE COMO UMA PLUMA, QUE O FEZ CAIR.

 

— MEU CAMELO NÃO AGUENTOU O PESO DE UMA PENA — MURMUROU NAZIRA, INCRÉDULA.

 

ELA SE AJOELHOU AO LADO DO ANIMAL, ACARICIANDO SUA CABEÇA E FALANDO COM ELE EM VOZ BAIXA. SABIA QUE A PENA NÃO ERA O QUE REALMENTE O HAVIA DERRUBADO. ERA O PESO ACUMULADO DE TUDO QUE ELE JÁ CARREGAVA. A PENA FOI APENAS O ÚLTIMO DETALHE, O QUE FEZ COM QUE SEU FIEL COMPANHEIRO NÃO AGUENTASSE MAIS.

 

— PERDOE-ME, AMIGO — DISSE NAZIRA COM CARINHO. — EXIGI DEMAIS DE VOCÊ SEM PERCEBER O QUANTO JÁ ESTAVA SOBRECARREGADO.

 

ELA COMEÇOU A RETIRAR ALGUMAS COISAS DAS COSTAS DO CAMELO, ALIVIANDO A CARGA. UM TAPETE, UM BAÚ, E POR FIM, A PENA. AOS POUCOS, O ANIMAL SE LEVANTOU, AINDA UM POUCO TRÊMULO, MAS AGORA MAIS LEVE E DISPOSTO A CONTINUAR.

 

NAZIRA SORRIU, COMPREENDENDO A LIÇÃO QUE O DESERTO E SEU CAMELO A HAVIAM ENSINADO: ÀS VEZES, NÃO É O PESO VISÍVEL QUE NOS DERRUBA, MAS SIM O FARDO INVISÍVEL QUE ACUMULAMOS AO LONGO DO TEMPO.

 

COM A CARGA MAIS LEVE, NAZIRA E SEU CAMELO PARTIRAM RUMO AO NOVO OÁSIS, CAMINHANDO LADO A LADO SOB O CALOR DO SOL. E A PENA AZUL, TÃO LEVE QUANTO O VENTO, BALANÇAVA SUAVEMENTE EM SUAS MÃOS, LEMBRANDO-LHE QUE ATÉ AS COISAS MAIS SIMPLES PODEM FAZER TODA A DIFERENÇA.

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 08/09/2024
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