NA PEQUENA ILHA DE MAR DOS SONHOS, HAVIA UM PORTO À BEIRA-MAR QUE PARECIA SUSPENSO ENTRE O CÉU E O OCEANO. O CÉU, SEMPRE AZUL, ERA PONTILHADO DE NUVENS SUAVES E RODEADO POR BANDOS DE GAIVOTAS QUE DESENHAVAM CÍRCULOS SOBRE AS ÁGUAS CRISTALINAS. ALI, O VENTO TRAZIA CONSIGO O CHEIRO DO MAR E O SOM DAS ONDAS QUEBRANDO SUAVEMENTE CONTRA AS ROCHAS.

 

SOLANGE, UMA JOVEM DE CABELOS LONGOS E ONDULADOS COMO AS MARÉS, CAMINHAVA ATÉ O PORTO TODOS OS DIAS. DESDE QUE SEU AMADO, HENRIQUE, DESAPARECERA COM SEU VELEIRO DEPOIS DE UMA GRANDE TORMENTA, AQUELA PARTE DA ILHA SE TORNARA O LUGAR ONDE ELA PASSAVA A MAIOR PARTE DO TEMPO. O PORTO ERA AGORA O “PORTO DA SOLIDÃO,” UM NOME QUE A PRÓPRIA SOLANGE HAVIA DADO, POIS ALI, ELA SENTIA O PESO DA SAUDADE E DA ESPERA INTERMINÁVEL.

 

HENRIQUE ERA UM HABILIDOSO MARINHEIRO, CONHECIDO POR SUA CORAGEM E AMOR PELO MAR. ELE E SOLANGE COMPARTILHAVAM SONHOS DE NAVEGAR JUNTOS, DE EXPLORAR O MUNDO ALÉM DAS FRONTEIRAS DA ILHA. MAS EM UMA NOITE FATÍDICA, ENQUANTO ELE SE PREPARAVA PARA UMA VIAGEM CURTA PARA PESCAR, UMA TEMPESTADE TERRÍVEL SURGIU NO HORIZONTE. OS VENTOS RUGIAM, AS ONDAS SE ERGUIAM COMO MONTANHAS, E O CÉU ESCURECEU, ESCONDENDO AS ESTRELAS. HENRIQUE DESAPARECEU, LEVADO PELAS ÁGUAS TURBULENTAS, E DESDE ENTÃO, NUNCA MAIS FOI VISTO.

 

SOLANGE SE RECUSAVA A ACREDITAR QUE ELE ESTAVA PERDIDO PARA SEMPRE. TODOS OS DIAS, AO NASCER DO SOL, ELA IA ATÉ O PORTO DA SOLIDÃO. SENTAVA-SE NO FINAL DO CAIS DE MADEIRA, SEUS OLHOS FIXOS NO HORIZONTE, NA ESPERANÇA DE AVISTAR O VELEIRO DE HENRIQUE RETORNANDO. AS GAIVOTAS, QUE PARECIAM ENTENDER A DOR DA JOVEM, SOBREVOAVAM SILENCIOSAMENTE AO REDOR DELA, COMO GUARDIÃS SILENCIOSAS DE SUA ESPERA.

 

OS HABITANTES DA ILHA JÁ HAVIAM PERDIDO A ESPERANÇA, E ALGUNS ATÉ SUGERIAM QUE SOLANGE SEGUISSE EM FRENTE, QUE HENRIQUE PROVAVELMENTE NÃO VOLTARIA. MAS ELA, TEIMOSA EM SUA FÉ, RESPONDIA COM UM SORRISO TRISTE. ELA SENTIA NO FUNDO DO CORAÇÃO QUE HENRIQUE AINDA ESTAVA LÁ FORA, EM ALGUM LUGAR, LUTANDO PARA VOLTAR PARA ELA.

 

OS DIAS SE TRANSFORMAVAM EM SEMANAS, E AS SEMANAS EM MESES. A PRIMAVERA DEU LUGAR AO VERÃO, DEPOIS AO OUTONO, E ENTÃO AO INVERNO. MAS NADA ABALAVA A DETERMINAÇÃO DE SOLANGE. AS TEMPESTADES VINHAM E IAM, MAS O PORTO DA SOLIDÃO PERMANECIA, COMO UM TESTEMUNHO SILENCIOSO DE SUA DEVOÇÃO.

 

FOI NUMA MANHÃ FRIA DE INVERNO, QUANDO O SOL MAL CONSEGUIA ATRAVESSAR A NEBLINA DENSA, QUE SOLANGE OUVIU UM SOM DIFERENTE. NÃO ERA O SOM USUAL DAS ONDAS OU DAS GAIVOTAS, MAS ALGO MAIS... FAMILIAR. ELA SE LEVANTOU RAPIDAMENTE, O CORAÇÃO BATENDO FORTE NO PEITO. SEUS OLHOS SE ARREGALARAM QUANDO, AO LONGE, AVISTOU UMA SILHUETA SURGINDO ATRAVÉS DA NÉVOA. ERA O VELEIRO DE HENRIQUE.

 

OS OLHOS DE SOLANGE ENCHERAM-SE DE LÁGRIMAS, MAS ELA NÃO OUSAVA PISCAR, TEMENDO QUE TUDO NÃO PASSASSE DE UMA MIRAGEM. CONFORME O BARCO SE APROXIMAVA, O MEDO E A ESPERANÇA SE MISTURAVAM EM SEU PEITO. QUANDO FINALMENTE VIU HENRIQUE NO LEME, COM O ROSTO MARCADO PELO TEMPO E PELO CANSAÇO, MAS COM O MESMO SORRISO QUE ELA TANTO AMAVA, SOLANGE NÃO CONSEGUIU CONTER O GRITO DE ALEGRIA.

 

HENRIQUE HAVIA ENFRENTADO TEMPESTADES, LUTADO CONTRACORRENTES TRAIÇOEIRAS, E SUPERADO DESAFIOS QUE ELE PRÓPRIO NUNCA IMAGINARA. MAS O QUE O MANTIVERA FORTE, O QUE O FIZERA CONTINUAR, MESMO QUANDO TUDO PARECIA PERDIDO, ERA A LEMBRANÇA DE SOLANGE, ESPERANDO POR ELE NO PORTO DA SOLIDÃO.

 

COM LÁGRIMAS NOS OLHOS E UM SORRISO RADIANTE, SOLANGE CORREU ATÉ O CAIS, ONDE HENRIQUE FINALMENTE ATRACOU. QUANDO ELE DESCEU DO VELEIRO, MAL TEVE TEMPO DE RESPIRAR ANTES QUE SOLANGE SE LANÇASSE EM SEUS BRAÇOS. A SOLIDÃO DO PORTO DESAPARECEU NAQUELE INSTANTE, SUBSTITUÍDA PELA ALEGRIA DO REENCONTRO.

 

“EU SABIA QUE VOCÊ VOLTARIA,” SOLANGE SUSSURROU ENTRE LÁGRIMAS DE FELICIDADE.

 

“E EU SABIA QUE VOCÊ ESTARIA AQUI, ESPERANDO POR MIM,” HENRIQUE RESPONDEU, COM A VOZ ROUCA DE EMOÇÃO.

 

E ASSIM, O PORTO DA SOLIDÃO SE TORNOU O PORTO DO REENCONTRO, ONDE SOLANGE E HENRIQUE COMEÇARAM UMA NOVA JORNADA, NÃO MAIS SOLITÁRIOS, MAS JUNTOS, PRONTOS PARA ENFRENTAR O QUE QUER QUE O MAR LHES TROUXESSE. E AS GAIVOTAS, TESTEMUNHAS SILENCIOSAS DA ESPERA E DO AMOR, CONTINUARAM A VOAR SOBRE ELES, COMO UMA PROMESSA DE QUE, MESMO NAS TEMPESTADES MAIS SOMBRIAS, O AMOR VERDADEIRO SEMPRE ENCONTRA O CAMINHO DE VOLTA PARA CASA.

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 29/08/2024
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