NUM DIA DE OUTONO, TRISTE E FRIO, A PRINCESA SERENA SAIU A SEMEAR OS CAMPOS DO SEU REINO. SERENA ERA UMA JOVEM DE CABELOS DOURADOS COMO O TRIGO MADURO, OLHOS COR DE ESMERALDA, E UM CORAÇÃO TÃO GENEROSO QUANTO O MAIS VASTO CAMPO DE TRIGO. COM UM SACO DE GRÃOS NO BRAÇO ESQUERDO, ELA CAMINHAVA DEVAGAR, SENTINDO A BRISA GELADA ACARICIAR SEU ROSTO. A CADA PASSO, SERENA LANÇAVA UM GRÃO DE TRIGO NA TERRA NEGRA E AREJADA, ENQUANTO SEUS LÁBIOS MURMURAVAM UMA CANÇÃO SUAVE, QUASE COMO UMA ORAÇÃO.

 

OS GRÃOS, BELOS, SAUDÁVEIS E REDONDOS, CAÍAM AO SOLO, ROLANDO ATÉ SE ACOMODAREM ENTRE OS TORRÕES DE TERRA, ONDE FICARIAM PROTEGIDOS, AGUARDANDO O CALOR DA PRIMAVERA PARA GERMINAR. MAS, ENTRE TODOS OS GRÃOS LANÇADOS, UM EM ESPECIAL, AO CAIR ENTRE DOIS TORRÕES DE TERRA PRETA E ÚMIDA, SENTIU-SE TERRIVELMENTE SÓ.

 

"POR QUE ESTOU AQUI, PERDIDO NESTA ESCURIDÃO?", PENSAVA O PEQUENO GRÃO DE TRIGO, ENQUANTO A CHUVA FINA COMEÇAVA A CAIR, TORNANDO O AMBIENTE AINDA MAIS MELANCÓLICO. ELE SENTIA O PESO DA TERRA SOBRE SI, A UMIDADE QUE O ENVOLVIA, E A SOLIDÃO QUE PARECIA AUMENTAR A CADA INSTANTE. O GRÃOZINHO SENTIU UMA PROFUNDA TRISTEZA E, POR UM MOMENTO, DESEJOU PODER VOLTAR AO ACONCHEGO DO SACO DE GRÃOS, ONDE ESTAVA SEGURO E AQUECIDO.

 

"EU NUNCA SEREI NADA ALÉM DE UM GRÃO ESQUECIDO NA TERRA", LAMENTAVA-SE.

 

MAS, ENQUANTO SE ENTREGAVA AO DESESPERO, ALGO MÁGICO ACONTECEU. O GRÃOZINHO COMEÇOU A RECORDAR OS MOMENTOS EM QUE AINDA ESTAVA JUNTO AOS OUTROS GRÃOS, EMBALADO PELA MÃO DELICADA DA PRINCESA. ELE LEMBROU-SE DO CALOR DO SOL QUE OS AQUECIA NO CAMPO DE COLHEITA, DO VENTO QUE OS BALANÇAVA SUAVEMENTE, E DAS RISADAS DA PRINCESA SERENA ENQUANTO CANTAVA. ERAM LEMBRANÇAS DOCES, REPLETAS DE AMOR E ESPERANÇA.

 

"SE A PRINCESA ME LANÇOU À TERRA, DEVE HAVER UM PROPÓSITO PARA MIM", PENSOU O GRÃOZINHO, SENTINDO UMA NOVA FORÇA CRESCER DENTRO DE SI.

 

E, DE REPENTE, ELE PERCEBEU QUE A ESCURIDÃO E A UMIDADE AO SEU REDOR NÃO ERAM UM FIM, MAS O INÍCIO DE UMA TRANSFORMAÇÃO. A TERRA, QUE PARECIA UM FARDO, AGORA PARECIA UM MANTO PROTETOR. A UMIDADE, QUE ANTES O SUFOCAVA, COMEÇOU A ALIMENTÁ-LO. E O GRÃOZINHO, QUE PENSAVA ESTAR SOZINHO, PERCEBEU QUE NÃO ESTAVA. ELE FAZIA PARTE DE ALGO MUITO MAIOR — PARTE DO CICLO DA VIDA.

 

OS DIAS PASSARAM, E A PEQUENA SEMENTE, CHEIA DE FÉ E CORAGEM, COMEÇOU A SE TRANSFORMAR. UMA RAIZ FININHA DESPONTOU, EXPLORANDO A TERRA AO SEU REDOR, BUSCANDO OS NUTRIENTES QUE A FORTALECERIAM. LOGO, UMA FOLHA VERDE E DELICADA ROMPEU A SUPERFÍCIE, ENCONTRANDO A LUZ DO SOL QUE A AGUARDAVA ANSIOSA.

 

O OUTONO DEU LUGAR AO INVERNO, E O INVERNO, À PRIMAVERA. QUANDO A PRIMAVERA FINALMENTE CHEGOU, O CAMPO, QUE ANTES PARECIA VAZIO E SOMBRIO, ESTAVA AGORA REPLETO DE VIDA. O GRÃOZINHO DE TRIGO, QUE UM DIA SE SENTIRA TÃO SÓ E TRISTE, HAVIA SE TRANSFORMADO NUMA ESPIGA DOURADA, BRILHANDO SOB O SOL DA PRIMAVERA.

 

A PRINCESA SERENA VOLTOU AO CAMPO, E AO VER O TRIGO BALANÇANDO AO VENTO, SORRIU COM TERNURA. ELA SABIA QUE CADA ESPIGA ALI, CADA FIO DE TRIGO, REPRESENTAVA UMA PEQUENA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO, DE TRANSFORMAÇÃO. E ENTRE TODAS AQUELAS ESPIGAS, HAVIA UMA QUE ELA CONSIDERAVA ESPECIAL — A QUE NASCEU DAQUELE GRÃOZINHO QUE UM DIA SE SENTIU TÃO SÓ, MAS QUE ENCONTROU SUA FORÇA NA ESCURIDÃO E FLORESCEU.

 

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 29/08/2024
Código do texto: T8139721
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.