ONDE AS TREVAS DORMEM

As Crônicas da Lua e Sol

Capítulo 1

Onde as trevas dormem

Uma pequena fonte de luz tremulava na escuridão. Thomas e Valeria avançavam a passos rápidos.

— Veja, bem ali. Está vendo? — disse o cavaleiro, apontando a tocha acesa que mal iluminava o breu que os envolvia.

— Não estou vendo nada — respondeu a clériga.

— Tenho certeza que vi uma luz adiante, talvez seja a saída deste inferno.

— Duvido muito que seja.

— Mesmo se não for, qualquer coisa é melhor do que ficarmos parados aqui. Por acaso tem alguma ideia melhor?

— Não, Thomas. Nenhuma.

— Então, vamos andando.

O cavaleiro e a clériga persistiram na caminhada em meio ao labirinto subterrâneo que se estendia como um pesadelo enterrado nas profundezas da terra. Sua missão inicial era purificar o local profano, no entanto, enfrentaram complicações que agora os levaram a buscar uma saída. A escuridão era sufocante e o ar nauseabundo vindo dos cadáveres jogados pelo caminho os causava enjoo. A sensação de perigo se intensificava a cada passo.

— Por acaso, você sabe alguma magia que possa iluminar melhor o ambiente?

— Não, eu já disse que não sei — disse a clériga, de forma ríspida. — Tá me achando com cara de feiticeira?

— Não, é que... Você me disse que é capaz de conjurar a luz do Deus Solar. Achei que isso poderia...

— É diferente. A Luz do Deus Solar é um milagre divino. A luz é apenas temporária e serve para purificar criaturas profanas ou trazer benção aos guerreiros como você. Se gostaria de ver magia pagã para criar fogo ou acender tochas, deveria ter trazido uma maga e não uma clériga.

— Tudo bem, eu só estava perguntando. Não quis ofender…

— Não me ofendeu. No entanto, veja em que situação fomos nos meter. A ordem só tem mandado novatos como você para essas missões, é por isso que esse desastre está acontecendo! Me mostre que é um verdadeiro paladino e não um mero cavaleiro, nos tire daqui!

Thomas apenas assentiu com um sorriso amarelo e prosseguiu adiante no corredor escuro. O santo soldado não disse mais nada durante um longo tempo.

— Espera. Ouviu esse barulho? — cochichou Valeria ao ouvir um estalo.

— Droga. Temos companhia... São carniçais, fique atrás de mim! — bradou Thomas.

Por meio dos becos escuros daquelas ruínas, emergiram os devoradores de cadáveres. Suas bocarras escancaradas zumbiam com uma saliva pegajosa.

Thomas segurou seu pingente com um sol dourado e fez uma prece:

— Deus Solar, que a vossa luz celestial ilumine este caminho de trevas e aniquile os nossos inimigos!

Ele ergueu sua maça de batalha e seu escudo, a arma era feita de bronze, reluzindo como um sol cujos raios se transformavam em espinhos afiados. As criaturas se aproximaram de Thomas, despertando nele um profundo desgosto, mas sua repugnância apenas alimentou sua determinação. Era o momento de provar a Valeria o seu valor como paladino e guerreiro da luz.

Erguendo a maça, ele desfez a cabeça do primeiro, transformando-a em uma massa disforme de carne e ossos. O segundo teve seu maxilar partido com um golpe rápido lateral. Os demais foram repelidos por golpes certeiros de seu escudo espelhado. Contudo, mais e mais deles surgiam, multiplicando-se como uma praga descontrolada.

— Segura eles mais um pouco, estou conjurando um milagre! — gritou Valeria, murmurando uma prece enquanto segurava um pergaminho com escrituras sagradas.

Thomas seguiu lutando, desviando de garras e presas. Mas sua determinação era abalada na medida que via mais inimigos surgindo como uma infestação.

— Não vou aguentar mais por muito tempo! — disse ele.

Um brilho aos poucos invadia as sombras. A conjuração da clériga parecia estar fazendo efeito.

— Agora vai! LUZ DIVINA!

Raios de luz amarelada surgiram, como se brotassem de fendas celestiais, e penetraram na carne das criaturas, fazendo-as se desintegrar por completo. Um coro de murmúrios agonizantes era ouvido enquanto o odor pungente de carne corrompida enchia o ar. As monstruosidades haviam sido banidas. Após aquilo, a luz celestial se recolheu, deixando novamente o ambiente mergulhado na penumbra sinistra do labirinto.

— Incrível! Foi um milagre e tanto — exclamou Thomas boquiaberto.

— Obrigada. Você lutou bem também. Talvez estivesse errada sobre você — assentiu a clériga. — Vamos, temos que continuar andando antes que mais deles apareçam.

Esta missão deveria ser rápida e simples, mas já havia se estendido por tempo demais. Restavam apenas os dois agora, seus outros companheiros haviam enlouquecido diante daqueles labirintos intermináveis. Todos vítimas de mortes horríveis. Se a suposta luz vista no fim do túnel por Thomas não fosse a real saída, aquela expedição estaria condenada.

A chama da tocha precisou ser reacesa, Thomas fez isso enquanto adentravam um novo ambiente ainda não explorado, estavam chegando no fatídico lugar.

— Acho que é aqui. Mas não estou vendo nenhuma saída… Estranho, tinha certeza que teria algo aqui.

— Eu disse! Não há saída para este lugar horrível! Eu avisei que não havia luz alguma vindo daqui. Você certamente enlouqueceu, assim como todos os outros!

— Calma, Valeria! Precisamos ter esperança, somos só nós dois agora!

— Esperança? Não pode haver esperança neste inferno, nenhuma esperança!

Uma luz súbita brilhou intensamente, capturando imediatamente a atenção dos dois. Eram olhos se abrindo, emitindo uma luz própria em uma tonalidade azulada. Quando perceberam, se viram diante de uma criatura indescritível, cujo corpo ostentava incontáveis olhos em profusão.

— Nós nunca devíamos ter aceitado essa missão! NUNCA! MALDITO SEJA O HERDEIRO! — lamentou a clériga, arrancando os próprios cabelos enquanto lágrimas escorriam por sua face.

A magnitude da criatura crescia diante dos dois, sugando toda e qualquer esperança que ainda pudesse habitar em seus corações.

— Que a luz do senhor nos proteja — murmurou o paladino.

Garras afiadas repletas de pelos os entrelaçaram e os levaram para o abismo, arrastando os seus corpos para onde seria seu túmulo, bem nas entranhas da escuridão, onde as trevas dormem.

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Este foi o primeiro capítulo da novela: As Crônicas da Lua e Sol

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Feh Bastos
Enviado por Feh Bastos em 15/08/2024
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