Geb - Capítulo VI
NA CAVERNA
A tarde já caia levemente. Uma brisa suave balançava os cabelos das irmãs Flidias. Seus passos lentos eram calculados e ao seu redor nasciam flores que se inclinavam. O sol estava se escondendo atrás das colinas e a sombra refrescava o calor insistente daquele dia.
- Kimari, você tem certeza que estamos tomando a decisão certa?
- Nira, minha irmã! Acalme-se. É a decisão mais sábia a ser tomada.
As irmãs desciam um caminho inclinado e Órnio, o unicórnio que sempre as acompanhava, principalmente Kimari, as seguia com passos lentos e compassados.
O caminho era longo e o destino era certo. Na mão de Kimari uma pasta negra e no olhar de Nira uma feição preocupada.
A noite se aproximava devagar e do lado direito havia uma floresta fechada. Num repente, as irmãs param e olham para as folhagens e árvores daquela floresta. Nira olhou bem para a luz do sol que se apagava num vermelho intenso no horizonte, observou a irmã deixar a maleta no chão e deu a mão para Kimari.
“Suas filhas retornam...
Suas filhas lhe exaltam... Amém!”
Com as mãos firmes num laço único, as irmãs Flidias elevaram seus pensamentos aos elementos da natureza. Seus olhos brilhavam e de suas mãos também saia uma luz intensa. As folhas começaram a balançar e a passagem na floresta foi aparecendo, abriu-se um caminho e elas foram dando passos leves e flutuantes adentrando a mata. Órnio permaneceu onde estava.
Conforme caminhavam a luz se intensificava e sob seus pés um brilho cristalino reluzia. Era um chão de água que dava passagem para as Flidias.
Passos e passos à frente elas pausam. Os olhos se apagam devagar e as mãos se soltam na mesma sintonia. À frente uma caverna escura com muitas lápides ao redor. As lápides formavam um circulo protetor pois segundo as leis daquele lugar os espíritos dos corpos ali sepultados seriam os guardiões da caverna e de quem ali habitasse.
- Kimari, acho que não é uma boa idéia.
Kimari sorri com sarcasmo.
- Essa é a melhor idéia que já tivemos minha irmã!
Nira voltou-se para a entrada da caverna apresentando a face séria. Kimari deu dois passos.
- Kimari...
Kimari fora impedida por alguma força maior de adentrar no circulo protetor.
- Mas o que é isso? – reclamou Kimari.
Nira correu para ajudar a irmã caída no chão e olhou bem para o circulo. Viu sete formas subindo das lápides. Assustou-se.
- Oh... Kimari! Olhe aquilo...
Os corpos brilhantes e semi-transparentes flutuavam no circulo que agora estava iluminado, eles voavam pelo ambiente e impediam a passagem das irmãs.
- Onde ele está? – questionava Kimari aos espíritos protetores.
Vozes desconexas repetiam:
- Vão embora! Como ousa incomodar nossa paz.
- Vão embora! Como ousa incomodar ...?
Nira levantou-se rapidamente ao tempo que Kimari gritou com os espíritos:
- Eu sou Flidia! Deusa da floresta, rainha da natureza! Onde ele está? Quero falar com ele e não serão vocês, pobres espíritos aprisionados que irão me impedir!
Uma voz estrondosa soou de dentro da caverna. Não eram palavras, eram resmungos. O som se aproximava e Nira se assustava ainda mais. Kimari desafiava.
- Venha meu senhor! Seus espíritos não permitem a minha entrada! Mas cá estou a tua espera!
Um ser alto, com roupas longas e esvoaçantes saia de dentro da caverna com olhar penetrante. Os cabelos longos e brancos caiam sobre as vestimentas e as barbas acompanhavam com simetria cada fio capilar.
- Como ousam interromper minha paz?
Nira ajoelha-se. Kimari levanta.
- O senhor precisa saber o que está acontecendo nesse lugar! Não sai desta caverna há séculos e por isso eu e minha irmã tivemos tormentos!
- O que quer dizer com isso? Você acha que está no direito de me julgar?
- Há humanos nesta terra! E as coisas estão saindo dos limites! Preciso reunir forças para a batalha final!
- Batalha? Humanos? Que conversa é essa?
Os espíritos protetores voltaram para as sepulturas e Nira levantou-se.
- Senhor, desculpe-nos!
O velho deu dois passos a frente e encarou Nira.
- Você é mais ingênua não é? Sua irmã é mais desafiadora, porém não é mais forte que você, só pensa mais do que você!
Kimari olhou para Nira. A inveja da própria irmã correu em suas veias. Queria muito ser forte, mas no fundo sabia que as duas trabalhavam juntas para que tudo funcionasse perfeitamente: uma pensava e a outra agiria. Nira só precisava de mais coragem para agir, mas sua força era maior que a de Kimari.
Nira caminhou levemente na direção daquele senhor.
- Senhor, precisamos de tua ajuda.
Pegou a pasta jogada ao chão e abriu à frente daquele ser.
- O que é isto? – Gritou aquele senhor de imagem estranha. – Não pode ser! Alguém passou dos limites.
- Foi o que eu disse! – Kimari resmungou.
- Cale-se Flidia! – O velho apontou para ela ao gritar. – Vamos ver onde isso vai dar.
Pegou a mala e gritou para os espíritos.
- Fiquem preparados!
Iniciaram uma caminhada e partiram para um destino. O que aconteceria depois daquele momento, nem mesmo eles saberiam dizer.
Continua...