ERA UMA VEZ, NA PACATA CIDADE DE NEBLINA ENCANTADA, UM LUGAR ONDE A NEBLINA ERA TÃO CONSTANTE QUE PARECIA QUE A CIDADE ESTAVA SEMPRE ESCONDIDA EM UMA NUVEM. AS CRIANÇAS DA CIDADE ADORAVAM CONTAR HISTÓRIAS DE FANTASMAS E BRINCAR DE ASSUSTAR UMAS ÀS OUTRAS, MAS NINGUÉM REALMENTE ACREDITAVA QUE OS FANTASMAS EXISTISSEM. BEM, QUASE NINGUÉM.
CLARA, UMA MENINA DE OITO ANOS, TINHA UMA IMAGINAÇÃO FÉRTIL E UM CORAÇÃO ENORME. ELA ESTAVA CONVENCIDA DE QUE OS FANTASMAS ERAM APENAS ALMAS SOLITÁRIAS EM BUSCA DE UM AMIGO. ENQUANTO TODOS OS OUTROS SE AFASTAVAM DA VELHA MANSÃO NA COLINA, CLARA SENTIA UMA CURIOSIDADE IRRESISTÍVEL POR AQUELE LUGAR.
NUMA NOITE DE HALLOWEEN, ENQUANTO AS OUTRAS CRIANÇAS COLHIAM DOCES, CLARA DECIDIU QUE ERA A NOITE PERFEITA PARA VISITAR A MANSÃO. COM UMA LANTERNA NA MÃO E UM URSINHO DE PELÚCIA NO OUTRO, ELA SE AVENTUROU ATÉ O PORTÃO ENFERRUJADO QUE RANGIA AO MENOR TOQUE.
— NÃO SE PREOCUPE, TEDDY — DISSE CLARA AO SEU URSINHO. — VAMOS FAZER NOVOS AMIGOS HOJE.
ELA EMPURROU O PORTÃO E CAMINHOU PELA TRILHA COBERTA DE FOLHAS ATÉ A PORTA DA MANSÃO. COM UM EMPURRÃO DECIDIDO, A PORTA SE ABRIU, REVELANDO UM GRANDE SALÃO EMPOEIRADO. CLARA NÃO SE INTIMIDOU COM AS TEIAS DE ARANHA OU OS RANGIDOS DAS TÁBUAS DO ASSOALHO.
— OLÁ? — ELA CHAMOU, COM SUA VOZ ECOANDO PELAS PAREDES. — TEM ALGUÉM AQUI?
DE REPENTE, UMA BRISA FRIA PERCORREU O SALÃO E UMA FIGURA PÁLIDA APARECEU À SUA FRENTE. ERA UM FANTASMA, COM UMA EXPRESSÃO MAIS CURIOSA DO QUE ASSUSTADORA. ELE FLUTUAVA A POUCOS CENTÍMETROS DO CHÃO, COM UMA APARÊNCIA LIGEIRAMENTE TRANSPARENTE.
— OI, SOU CLARA — DISSE ELA COM UM SORRISO AMIGÁVEL. — VOCÊ QUER SER MEU AMIGO?
O FANTASMA, CUJO NOME ERA BARNABÉ, FICOU SURPRESO. NUNCA NINGUÉM HAVIA FALADO COM ELE DE MANEIRA TÃO GENTIL. ELE SEMPRE FORA TRATADO COMO UMA FIGURA DE MEDO.
— VOCÊ... VOCÊ NÃO ESTÁ COM MEDO DE MIM? — PERGUNTOU BARNABÉ, SUA VOZ TREMENDO UM POUCO.
— POR QUE EU ESTARIA? — RESPONDEU CLARA. — VOCÊ SÓ PARECE UM POUCO SOLITÁRIO. GOSTARIA DE UM ABRAÇO?
BARNABÉ FICOU ATÔNITO. ELE NUNCA HAVIA SIDO ABRAÇADO ANTES. SEM SABER EXATAMENTE COMO REAGIR, ELE ASSENTIU TIMIDAMENTE. CLARA ABRIU OS BRAÇOS E TENTOU ABRAÇAR O FANTASMA, MAS PASSOU DIRETO POR ELE E TROPEÇOU.
— OPA! — EXCLAMOU ELA, RINDO. — ACHO QUE PRECISAMOS DESCOBRIR UMA MANEIRA DE FAZER ISSO FUNCIONAR.
BARNABÉ DEU UMA RISADINHA FANTASMAGÓRICA. ELE NUNCA TINHA ENCONTRADO ALGUÉM TÃO DETERMINADO E GENTIL. JUNTOS, CLARA E BARNABÉ PASSARAM A NOITE TENTANDO VÁRIAS MANEIRAS DE SE ABRAÇAR. PRIMEIRO, CLARA TENTOU COBRIR BARNABÉ COM UM LENÇOL PARA VER SE ISSO AJUDARIA, MAS APENAS FEZ BARNABÉ PARECER AINDA MAIS COMO UM FANTASMA TÍPICO DE HISTÓRIAS.
DEPOIS, CLARA TEVE UMA IDEIA BRILHANTE.
— E SE EU FECHAR OS OLHOS E IMAGINAR QUE ESTOU TE ABRAÇANDO? — SUGERIU ELA. — TALVEZ ISSO FUNCIONE.
BARNABÉ CONCORDOU E CLARA FECHOU OS OLHOS. ELA SE CONCENTROU COM FORÇA, IMAGINANDO O ABRAÇO MAIS QUENTE E ACOLHEDOR QUE PODIA. E, SURPREENDENTEMENTE, ELA SENTIU UMA LEVE PRESSÃO AO SEU REDOR, COMO SE BARNABÉ ESTIVESSE REALMENTE ALI, A ABRAÇANDO DE VOLTA.
— CONSEGUI! — ELA EXCLAMOU, ABRINDO OS OLHOS PARA VER BARNABÉ SORRINDO.
— VOCÊ É A PRIMEIRA PESSOA QUE CONSEGUIU ME ABRAÇAR, MESMO QUE SÓ NA IMAGINAÇÃO — DISSE BARNABÉ, COM GRATIDÃO EM SUA VOZ.
A PARTIR DAQUELE DIA, CLARA E BARNABÉ SE TORNARAM AMIGOS INSEPARÁVEIS. ELES PASSAVAM MUITAS NOITES NA VELHA MANSÃO, RINDO, CONTANDO HISTÓRIAS E, CLARO, TROCANDO ABRAÇOS IMAGINÁRIOS.
E ASSIM, NEBLINA ENCANTADA GANHOU UMA NOVA TRADIÇÃO: TODAS AS NOITES DE HALLOWEEN, AS CRIANÇAS DA CIDADE IAM ATÉ A MANSÃO PARA VER CLARA E BARNABÉ, ESPERANDO SENTIR A LEVE PRESSÃO DE UM ABRAÇO FANTASMAGÓRICO E OUVIR AS RISADAS DE UMA AMIZADE IMPROVÁVEL.