HÁ SÉCULOS, OS MARINHEIROS TÊM SEUS PRÓPRIOS RITUAIS E SUPERSTIÇÕES. ELES ACREDITAM EM SINAIS, PRESSÁGIOS E HISTÓRIAS PASSADAS DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO. ENTRE ELAS, HÁ UMA LENDA CURIOSA E POUCO CONHECIDA, QUE FALA DE UM GATO MISTERIOSO QUE EMBARCOU SEM SER CONVIDADO NO NAVIO DE ULISSES. ESTE GATO, COM SEUS MIADOS ENSURDECEDORES, FEZ COM QUE OS MARINHEIROS VEDASSEM SEUS OUVIDOS NÃO SÓ PARA RESISTIR AOS CANTOS DAS SEREIAS, MAS TAMBÉM PARA EVITAR ENLOUQUECER COM OS MIADOS INCESSANTES DO FELINO.
TUDO COMEÇOU NUMA MANHÃ TRANQUILA NO PORTO DE ÍTACA. OS MARINHEIROS DE ULISSES ESTAVAM SE PREPARANDO PARA MAIS UMA VIAGEM, REVISANDO VELAS, CORDAS E PROVISÕES. ENTRE AS CAIXAS E BARRIS, UM GATO CINZA DE OLHOS VERDES OBSERVAVA TUDO COM CURIOSIDADE.
— EI, MENELAU, VOCÊ VIU AQUELE GATO? — PERGUNTOU EURÍALO, UM DOS MARINHEIROS.
— VI SIM, EURÍALO. PARECE QUE ELE QUER EMBARCAR CONOSCO — RESPONDEU MENELAU, RINDO.
O GATO, PERCEBENDO A CONVERSA, PULOU PARA O CONVÉS E COMEÇOU A SE ESFREGAR NAS PERNAS DOS MARINHEIROS, MIANDO ALTO.
— OLHEM SÓ! PARECE QUE JÁ TEMOS UM NOVO MEMBRO NA TRIPULAÇÃO — DISSE ULISSES, AO SAIR DE SUA CABINE.
— O QUE FAREMOS COM ELE, CAPITÃO? — PERGUNTOU EURÍALO.
— DEIXEM-NO FICAR. TALVEZ TRAGA SORTE — RESPONDEU ULISSES, COM UM SORRISO. MAL SABIA ELE O QUE ESTAVA POR VIR.
O NAVIO PARTIU E, COM O TEMPO, TODOS SE ACOSTUMARAM COM A PRESENÇA DO GATO, QUE FOI CARINHOSAMENTE APELIDADO DE MIAU. NO ENTANTO, MIAU TINHA UM PECULIAR HÁBITO NOTURNO: MIAVA EXTREMAMENTE ALTO, ESPECIALMENTE DURANTE AS TEMPESTADES, COMO SE TENTASSE COMPETIR COM O PRÓPRIO TROVÃO.
— AH, QUE BARULHO INFERNAL! — EXCLAMOU MENELAU, TAPANDO OS OUVIDOS.
— É PIOR QUE O CANTO DAS SEREIAS! — GRITOU EURÍALO.
— VAMOS TODOS FICAR SURDOS! — RECLAMOU UM MARINHEIRO, COBRINDO A CABEÇA COM UM TRAVESSEIRO.
ULISSES, TENTANDO MANTER A CALMA, DECIDIU QUE A ÚNICA SOLUÇÃO ERA VEDAR OS OUVIDOS DOS MARINHEIROS. ELE ORDENOU QUE TODOS COLOCASSEM CERA NOS OUVIDOS, ASSIM COMO FAZIAM PARA SE PROTEGER DAS SEREIAS.
— QUE ALÍVIO! AGORA POSSO FINALMENTE DORMIR — DISSE MENELAU, SUSPIRANDO.
— QUEM DIRIA QUE UM GATINHO FARIA ISSO CONOSCO — COMENTOU EURÍALO, RINDO.
OS DIAS SE PASSARAM E, SURPREENDENTEMENTE, MIAU TORNOU-SE UMA ESPÉCIE DE MASCOTE DO NAVIO. OS MARINHEIROS COMEÇARAM A ACREDITAR QUE SEUS MIADOS AFASTAVAM MAUS ESPÍRITOS E TRAZIAM SORTE DURANTE AS TEMPESTADES. LOGO, OS MIADOS DE MIAU VIRARAM UMA TRADIÇÃO ENTRE OS MARINHEIROS, QUE PASSAVAM A HISTÓRIA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO.
ASSIM, ALÉM DAS SEREIAS, ULISSES E SEUS HOMENS FICARAM CONHECIDOS POR VEDAREM OS OUVIDOS PARA NÃO FICAREM SURDOS COM OS MIADOS ALTÍSSIMOS DO GATO QUE ENTROU DE GAIATO NO NAVIO. E MIAU, O GATO DESTEMIDO, TORNOU-SE UMA LENDA, NAVEGANDO PELOS MARES DA IMAGINAÇÃO DOS MARINHEIROS, ETERNAMENTE LEMBRADO EM SUAS HISTÓRIAS E CANTIGAS.