O melhor e o pior da nossa vida
Na sala de aula, de uma faculdade particular em Manaus, a professora Aysú começou a palestrar: “Os homens caminham pela face da Terra em duas direções: para o bem ou para o mal”. “Não existe uma terceira via, professora?”, perguntou um estudante pensativo. “Não”, respondeu categoricamente a professora, e continuou: “Ou você faz o bem ou você faz o mal, não existe outro caminho”. “É que eu acredito no diálogo, professora!”, replicou o estudante. “Eu também, caríssimo! Mas acontece que existem coisas que não podemos mudar, faz parte da essência humana, ser bom ou ser mal”.
Empenhada em esclarecer melhor o assunto para a turma, à professora Aysú continuou a palestrar. “Vários filósofos que eu conheço já defenderam que há no ser humano a possibilidade real de escolher fazer o bem, principalmente o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. Para ele, “A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável”.
Houve uma inquietação entre os estudantes. “Há quem discorde dessa ideia, professora?”, perguntou um universitário. “Sim, o filósofo inglês Thomas Hobbes! Ele dizia que, “O homem é o lobo para o próprio homem”, respondeu a professora Aysú. Deu-se um intenso debate entre os defensores do filósofo francês de um lado, e os defensores do filósofo inglês, de outro.
“Se o ser humano é naturalmente bom, por que há tanta violência no mundo?”; “Por que os seres humanos se matam?”; “Por que os seres humanos são tão gananciosos?”; “Por que os seres humanos não vivem em paz?”; “Se os homens são naturalmente bons, porque eles sempre transportam armas e têm chaves para bloquear as suas portas?”, indagavam os defensores de Thomas Hobbes.
Animada com o interesse dos estudantes pelo assunto, a professora Aysú retomou a palavra: “Para estes filósofos, a batalha entre o bem e o mal é uma jornada sem fim do espírito humano. E sabem por quê? Por causa da forma como nos relacionamos com o mundo, com a natureza e com os outros seres humanos. Portanto, a distinção entre o bem e o mal está enraizada na história humana desde o início. Filósofos, teólogos e artistas de todas as culturas têm procurado compreender esta dualidade que define a natureza humana e molda o mundo em que vivemos”.
Ardendo de curiosidade, um estudante perguntou: “Professora Aysú, o que é considerado bom em uma cultura pode ser visto como mal em outra?”. “Perfeitamente! Mas antes me deixe explicar uma coisa. Não existe cultura “melhor” ou “pior”, “inferior” ou “superior”, “boa” ou “ruim”, as culturas são diferentes e como tal devem ser respeitas e valorizadas como são. Dessa forma, o bem pode ser definido como qualquer coisa que promova a vida, a felicidade e o bem-estar; já o mal é caracterizado por ações que causam dor, destruição e danos”, ensinava.
Claramente partidária das ideias do filósofo francês, a professora Aysú abriu o livro “Emílio ou da Educação” e começou a ler: “Nascemos fracos, precisamos de força, nascemos desprovidos de tudo; temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos; precisamos de juízo; tudo o que não temos ao nascer, e de que precisamos quando adultos, é-nos dado pela educação”.
“Professora Aysú, sabendo que convivem dentro de nós duas tendências radicais para o bem e para o mal, como fazer e como saber se estamos fazendo as escolhas corretas, se estamos no caminho certo?”, perguntou o estudante que ardia em curiosidade. “O que quer que façamos, onde quer que estejamos só conseguimos fazer as nossas escolhas porque Deus, o Ser Maior, o Arquiteto do Universo, nos possibilitou o livre arbítrio. Então, o valor fundamental, aquele valor mais importante de todos, é a liberdade”, respondeu.
Agradecida pela receptividade e pelos aplausos que não cessavam a cada palavra sua, a professora Aysú tomou em suas mãos o livro “Leviatã” de Thomas Hobbes e leu com a voz embargada: “Um homem livre é aquele que, tendo força e talento para fazer uma coisa, não encontra barreiras a sua vontade”. Por fim, visivelmente emocionada, ela concluiu sua palestra dizendo: “Que nunca nos falte coragem, força e sabedoria para escolhermos, fazermos e vivermos o melhor da vida”; a professora Aysú foi aplaudida de pé. “Viva”, “viva”, gritavam.