EM UMA PEQUENA VILA RURAL, CERCADA POR CAMPOS VERDES E COLINAS SUAVES, VIVIA UMA MENINA CHAMADA PÉROLA. ELA ERA POBRE, MAS SEU CORAÇÃO ERA TÃO GRANDE QUANTO SUA CORAGEM. AO SEU LADO, SEMPRE ESTAVA CRISTAL, UM CAVALO BRANCO DE RARA BELEZA E VALOR. CRISTAL ERA MAIS DO QUE UM SIMPLES ANIMAL PARA PÉROLA; ELE ERA SEU MELHOR AMIGO, CONFIDENTE E COMPANHEIRO INSEPARÁVEL.
TODOS NA VILA ADMIRAVAM CRISTAL. SUA PELAGEM BRILHAVA SOB O SOL, E SEUS OLHOS EXPRESSAVAM UMA SABEDORIA TRANQUILA. REIS E NOBRES DE TERRAS DISTANTES OUVIAM FALAR DE CRISTAL E VINHAM COM PROPOSTAS TENTADORAS, OFERECENDO FORTUNAS PARA COMPRAR O CAVALO. PORÉM, PÉROLA SEMPRE RECUSAVA. PARA ELA, CRISTAL NÃO ERA APENAS UM CAVALO, MAS PARTE DE SUA FAMÍLIA.
— COMO POSSO VENDER UM AMIGO? — ELA DIZIA. — ELE É COMO UMA PESSOA PARA MIM.
OS VIZINHOS ACHAVAM PÉROLA TOLA POR REJEITAR OFERTAS TÃO GENEROSAS. ELES VIAM SUA POBREZA E NÃO ENTENDIAM SUA DECISÃO. CERTA MANHÃ, AO ACORDAR, PÉROLA PERCEBEU QUE CRISTAL NÃO ESTAVA EM SEU ESTÁBULO. O CAVALO HAVIA DESAPARECIDO. OS VIZINHOS LOGO COMEÇARAM A MURMURAR.
— MENINA TOLA! — DISSERAM. — VOCÊ NÃO VENDEU O CAVALO E AGORA ELE FOI ROUBADO. ISSO É UM VERDADEIRO AZAR.
PÉROLA, NO ENTANTO, PERMANECEU CALMA.
— APENAS O CAVALO NÃO ESTÁ AQUI — RESPONDEU ELA. — QUALQUER JULGAMENTO A MAIS É PRECIPITADO. ISSO É SÓ UM FRAGMENTO DA HISTÓRIA.
OS VIZINHOS RIRAM E ACHARAM QUE PÉROLA ESTAVA LOUCA. DUAS SEMANAS SE PASSARAM, E PARA A SURPRESA DE TODOS, CRISTAL VOLTOU. E NÃO VOLTOU SOZINHO. ATRÁS DELE, UMA DÚZIA DE CAVALOS SELVAGENS SEGUIA, TODOS BELOS E VALIOSOS.
— VOCÊ ESTAVA CERTA, PÉROLA! — EXCLAMARAM OS VIZINHOS. — FOI UMA BÊNÇÃO, NÃO UM AZAR!
PÉROLA SORRIU SERENAMENTE.
— CALMA! — DISSE ELA. — O CAVALO APENAS VOLTOU E TROUXE OUTROS COM ELE. AINDA NÃO SABEMOS SE ISSO É BOM OU RUIM. É APENAS MAIS UM FRAGMENTO DA HISTÓRIA.
OS VIZINHOS, EMBORA DESCONFIADOS, FICARAM QUIETOS DESSA VEZ. O PAI DE PÉROLA, QUE A AJUDAVA EM TUDO, COMEÇOU A ADESTRAR OS NOVOS CAVALOS. PORÉM, EM UM DIA INFELIZ, ELE CAIU DE UM DOS CAVALOS E QUEBROU AS DUAS PERNAS. NOVAMENTE, OS VIZINHOS SE REUNIRAM.
— PÉROLA, VOCÊ ESTAVA ERRADA DESTA VEZ! — DISSERAM. — ISSO FOI UMA MALDIÇÃO. SEU PAI ESTÁ FERIDO E PODE FICAR ALEIJADO.
PÉROLA SUSPIROU PACIENTEMENTE.
— MEU PAI APENAS QUEBROU AS PERNAS. NÃO SABEMOS SE ISSO É BOM OU RUIM. É APENAS MAIS UM FRAGMENTO DA HISTÓRIA.
POUCO TEMPO DEPOIS, O PAÍS FOI ATACADO POR UM REINO VIZINHO. TODOS OS JOVENS DA ALDEIA FORAM LEVADOS PARA A GUERRA, UMA BATALHA QUE PARECIA PERDIDA. AS FAMÍLIAS CHORAVAM DESESPERADAS PELA PERDA DE SEUS FILHOS. FORAM ATÉ PÉROLA, AGORA MAIS HUMILDES.
— VOCÊ ESTAVA CERTA, PÉROLA. — DISSERAM COM TRISTEZA. — SEU PAI ESTÁ AQUI, ENQUANTO NOSSOS FILHOS FORAM PARA A GUERRA E PROVAVELMENTE NÃO VOLTARÃO.
PÉROLA, COM SEU CORAÇÃO COMPASSIVO, RESPONDEU:
— É DIFÍCIL NÃO JULGAR, EU SEI. APENAS DIGAM QUE NOSSOS FILHOS FORAM PARA A GUERRA E MEU PAI FICOU. NÃO SABEMOS O QUE O FUTURO TRARÁ. SÓ DEUS SABE O DESFECHO DE NOSSAS HISTÓRIAS.
E ASSIM, PÉROLA E CRISTAL CONTINUARAM JUNTOS, ENFRENTANDO A VIDA COM CORAGEM E SABEDORIA. ELES ENSINARAM À VILA A IMPORTÂNCIA DE NÃO JULGAR OS ACONTECIMENTOS DE FORMA PRECIPITADA, MOSTRANDO QUE, NO FIM, APENAS O TEMPO E A FÉ PODERIAM REVELAR O VERDADEIRO SIGNIFICADO DE CADA FRAGMENTO DA HISTÓRIA.