ERA UMA VEZ, NO TRANQUILO SÍTIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, NO RIO DE JANEIRO, UM JILÓ CONHECIDO COMO SENHOR JILÓ. ELE ESTAVA PLANTADO BEM NO CENTRO DA HORTA E, EMBORA TIVESSE UMA APARÊNCIA ROBUSTA E SAUDÁVEL, CARREGAVA EM SI MUITAS AMARGURAS E DECEPÇÕES. CERTO DIA, ELE COMEÇOU A RESMUNGAR SOBRE A SUA SORTE.

 

— AH, QUE VIDA AMARGA É ESSA QUE LEVO! — SUSPIROU SENHOR JILÓ, COM SUA VOZ GRAVE E CANSADA.

 

— O QUE FOI, SENHOR JILÓ? — PERGUNTOU DONA CENOURA, QUE ESTAVA PLANTADA BEM AO LADO. — POR QUE ESTÁ TÃO TRISTE?

 

— COMO NÃO ESTARIA, DONA CENOURA? — RESPONDEU ELE. — TODO MUNDO ME EVITA. DIZEM QUE SOU AMARGO DEMAIS! MAL SABEM ELES QUE ESSA AMARGURA FAZ PARTE DE QUEM EU SOU.

 

— MAS, SENHOR JILÓ, CADA UM DE NÓS TEM SUAS PECULIARIDADES. VEJA SÓ, EU SOU DOCE, MAS TAMBÉM TENHO MEU VALOR NUTRICIONAL — COMENTOU DONA CENOURA.

 

— E EU! — INTERROMPEU O SENHOR TOMATE. — EU SOU SUCULENTO E VERMELHO, MAS TENHO MINHAS ACIDEZES TAMBÉM. E, NO ENTANTO, SOU APRECIADO EM SALADAS, MOLHOS E ATÉ SUCOS.

 

— NÃO É A MESMA COISA — REBATEU O SENHOR JILÓ. — TODOS ESPERAM QUE EU SEJA ALGO QUE NÃO SOU. NINGUÉM QUER ACEITAR A MINHA VERDADEIRA NATUREZA.

 

— ORA, ORA, MAS VOCÊ ESTÁ SE ESQUECENDO DE ALGO IMPORTANTE — DISSE DONA LARANJA, BALANÇANDO SUAS FOLHAS AO VENTO. — TODOS NÓS TEMOS UM PAPEL ESPECIAL NA COZINHA E NA VIDA DAS PESSOAS. A AMARGURA DO JILÓ PODE NÃO SER APRECIADA POR TODOS, MAS HÁ AQUELES QUE A AMAM E RECONHECEM SEU VALOR MEDICINAL.

 

— SIM, SIM! — EXCLAMOU O SENHOR ALHO, QUE ESTAVA MAIS AFASTADO, MAS SEMPRE ATENTO. — EU, POR EXEMPLO, TENHO UM CHEIRO FORTE E UM GOSTO MARCANTE, MAS SOU INDISPENSÁVEL PARA DAR SABOR AOS PRATOS!

 

— ACHO QUE VOCÊS NÃO ENTENDEM — MURMUROU SENHOR JILÓ, AINDA CABISBAIXO. — ÀS VEZES, ME SINTO TÃO SÓ... AS CRIANÇAS FAZEM CARETA SÓ DE OUVIR MEU NOME. ISSO ME ENTRISTECE PROFUNDAMENTE.

 

— É, EU ENTENDO COMO SE SENTE — DISSE A JOVEM ABOBRINHA. — MUITAS VEZES SOU DEIXADA DE LADO NAS REFEIÇÕES DAS CRIANÇAS TAMBÉM. MAS QUANDO SOU PREPARADA DA MANEIRA CERTA, TODOS ADORAM!

 

— TALVEZ VOCÊ PRECISE DE UM POUCO MAIS DE PACIÊNCIA, SENHOR JILÓ — SUGERIU O SENHOR PEPINO. — ÀS VEZES, A GENTE SÓ PRECISA SER COMBINADO COM OS INGREDIENTES CERTOS PARA MOSTRAR TODO O NOSSO POTENCIAL.

 

— E NÃO SE ESQUEÇA — ACRESCENTOU DONA BATATA, COM UM SORRISO ENCORAJADOR — QUE NO SÍTIO, TODOS SOMOS IMPORTANTES PARA O EQUILÍBRIO DA NATUREZA. VOCÊ TEM O SEU LUGAR AQUI, E DEVE SE ORGULHAR DISSO!

 

O SENHOR JILÓ, OUVINDO AQUELAS PALAVRAS DE SEUS AMIGOS, COMEÇOU A SENTIR UMA LEVE ESPERANÇA BROTANDO EM SEU CORAÇÃO.

 

— TALVEZ VOCÊS TENHAM RAZÃO — DISSE ELE, LEVANTANDO A CABEÇA. — TALVEZ EU SÓ PRECISE ENCONTRAR O MEU LUGAR ESPECIAL NA VIDA DAS PESSOAS.

 

— ISSO MESMO, SENHOR JILÓ! — DISSE DONA CENOURA ANIMADA. — NUNCA SE ESQUEÇA QUE TODOS NÓS SOMOS ÚNICOS E QUE HÁ UM LUGAR PARA CADA UM DE NÓS NA GRANDE SALADA DA VIDA.

 

E ASSIM, O SENHOR JILÓ PASSOU A VER A VIDA DE UMA MANEIRA DIFERENTE. ELE AINDA ERA AMARGO, MAS AGORA SABIA QUE SUA AMARGURA TINHA UM PROPÓSITO E QUE, COM PACIÊNCIA E SABEDORIA, ELE TAMBÉM PODERIA SER APRECIADO E AMADO.

 

NO FIM DAS CONTAS, A HORTA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES TORNOU-SE UM LUGAR ONDE TODOS, INCLUINDO O SENHOR JILÓ, APRENDERAM A VALORIZAR SUAS PRÓPRIAS QUALIDADES E A VIVER EM HARMONIA.

Saulo Piva Romero
Enviado por Saulo Piva Romero em 08/06/2024
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