Põe seu marido no quintal

Anna não escondia sua história de amor, sem desavenças, sem desentendimentos. Para muitos, sem brigas não existe Amor.

Anna e Aldemar, porém, tinham sido felizes em paz e não acharam nem difícil nem monótono. É que dividiam uma paixão: Ambientalismo. Amor Verde pode trazer felicidade, diziam aos amigos.

Um dia, porém, triste notícia: a doença, rara e ainda sem cura, surpreendeu-os. Aldemar foi o "agraciado". Por algum tempo revoltou-se, mas acabou por aceitar serenamente o destino e prometeu viver bem os anos que lhe restavam. Podiam ser dois, cinco ou dez... Quem sabe, vinte? E já que nem ele nem ela tinham filhos, não precisavam culpar-se.

Enfim, cumpriu-se o destino e, atendendo a seu desejo, Aldemar foi cremado. Na sequência, suas cinzas foram misturadas com terra para adubar uma pequenina muda de jambo, a fruta de que ele mais gostava. Anna levou a muda para casa num vaso de barro feito a pedido por Aldemar.

Professora universitária, Anna seguiu a vida, até conhecer Luiz, colega transferido de outro estado. Colegas, amigos e desimpedidos, passaram a encontrar-se frequentemente, até virar namoro e a alquimia levá-los à cama. A partir daí, cada dia mais paixão.

Algumas semanas depois, Anna levou-o para conhecer sua casa. Entre outras coisas, contou-lhe sobre a cremação, as crenças do casal e

mostrou-lhe a arvorezinha num cantinho da sala.

- É como se ele estivesse aí...

- Entendo. Muita coerência, admirável, comentou Luiz em tom acadêmico.

Uns dias depois, já no inverno, Anna comprou vinho e chamou-o para passarem a noite em sua casa. Luiz aceitou, mas com uma condição:

- Põe seu marido no quintal ou enrola a cara dele com lençol.