PEDRA PRETA
A PEDRA PRETA
POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE
Em Campos e cercanias, por bastante tempo, as pessoas se dedicaram a mineração. Havia no ano de 1611 milhares de garimpeiros em busca de ouro e prata na região da serra do Canine. Dizem os historiadores que Belchior Dias Moreira divulgou ter encontrado ouro próximo a serra. Campos nunca viu tanta gente como naquela época. Isso alimentou o sonho de muitos até os dias atuais. Francisco foi um dos que sonharam em mudar a vida:
- Francisco vai sair para garimpar? Perguntou dona Cleonice.
- Sim, só sossego quando achar minha pedra. Respondeu o moço a sua senhora. Francisco sonhava com um diamante bem grande. Muitas foram as noites em que ele acordou segurando o diamante azul na mão. Sua esposa não defendia a mesma opinião. Na verdade, era queria que o marido pobre deixasse esta vida e arrumasse um trabalho certo:
- Homem, deixe disso. Vá caçar o que fazer. Aqui, ninguém nunca arrumou nada de ouro ou prata. O homem mentiu. Belchior foi um tremendo mentiroso!
- Mulher, eu sei pelos sinais da terra que aqui tem diamante. Vá por mim, eu vou encontrar minha pedra! Confie em Deus! Francisco saiu cedo de manhã e caminhou por duas horas beirando o rio Jabiberi. Já perto do ponto onde o rio se encontra com o rio Real, Francisco resolve garimpar. “É aqui que eu vou encontrar minha pedrinha”. Disse o moço para si mesmo. Francisco pegou areia do rio e pôs em sua peneira. Fez isso diversas vezes, mas, não encontrou nada. As horas correram e o momento de voltar para casa havia chegado. No caminho de volta, Francisco tropeça e cai com o rosto voltado para o chão. Francisco fica alguns segundos nessa posição. Esse foi o tempo suficiente para seus olhos encontrarem uma pedra preta cravada na margem do rio. Era uma pedra de cinco centímetros de largura por quatro de comprimento e três de espessura. Francisco pensou ter achado um diamante preto. Cheio de entusiasmo e alegria o homem volta para casa certo que tinha feito um grande achado:
- Mulher, eu não disse que ia achar minha pedra! Veja! Um diamante preto!
- Diamante preto? Nunca ouvi falar que tinha diamante preto.
- Pois, tem mulher. Vou levar para Sergio avaliar. Na segunda feira, Francisco leva a pedra para o geólogo de Campos Sergio Augusto. Sergio analisa a pedra e diz que ela se trata de um cristal. Um cristal muito comum na região de Campos sobretudo nas cercanias da serra do Canine. Francisco decepcionado volta para casa com sua pedra cristal e a põe na estante da sala. Depois que Francisco encontrou a pedra passou a ouvir um chiado. Seus ouvidos eram tomados por um chiado estranho e insistente. Geralmente, o chiado ocorria quando ele estava na sala. Um dia de noite, depois de minutos de chiado, ele põe a pedra na mesa de centro para a observar e lamentar não ser um diamante. Então, Francisco diz com voz de sussurro: “Se você fosse um diamante, agora, eu teria um carro novo”. Francisco parou de brincar com a pedra e foi se deitar. No outro dia por volta das dez horas chega um rapaz dizendo que Francisco fosse a revendedora de automóveis de seu Miguel. Mesmo sem nada entender o homem foi. Para sua surpresa uma pessoa que não quis se identificar comprou uma picape strada para ele. Francisco foi tendo tudo que desejava, logo, ele viu a conexão entre seus desejos e a pedra preta. “É a pedra!” pensava Francisco. Ele a tirou da estante e a pôs em seu quarto sobre o criado mudo ao lado de sua cama. Ele a pôs em uma almofada branca. Em pouco tempo Francisco e Cleonice ficaram ricos. A polícia investigou o enriquecimento do homem, mas, logo viu que não havia nada ilegal. “Doutor, nós levantamos tudo. As pessoas, simplesmente, dão as coisas para ele!” Disse o investigador Ronaldo ao delegado Afonso. Francisco tinha uma linha de crédito vitalícia no maior supermercado da cidade. Ele tinha tudo de graça. Cleonice, fazia mão e pé totalmente grátis no salão de Michele. Ainda podia cuidar dos cabelos todos os finais de semana inteiramente grátis. Tudo que desejou a pedra deu ao casal. Contudo, os chiados não paravam. Muitas foram as vezes que Francisco quis quebrar a pedra para se livrar deles. Somente ele os ouvia:
- Mulher, a coisa está indo longe demais. E ainda tenho de suportar esse chiado!
- Homem, tenha paciência! Tudo tem um preço na vida. O seu são os chiados. Mas Deus dá o frio conforme o cobertor. Não é o dia todo. Tem hora que você descansa!
- Mas, meus ouvidos ficam cansados com o barulho. O chiado já entrou na minha cabeça!
- Calma! Eu vou pedir a pedra para curar você. A pedra não curou o pobre Francisco. Na verdade, o chiado vinha da pedra. Esta era sua maldição. Francisco decepcionado com o resultado do pedido de sua mulher decide, finalmente, quebrar a pedra. Ele vai buscar um martelo e parte para cima da pedra. A cada martelada a pedra saltava como estivesse viva. Francisco acabou desistindo e assustado resolve jogar a pedra fora. O homem tomou a pedra e a levou para um matagal e a deixou lá. “Agora, estou livre!” Disse o homem com ar de vitória. Ao chegar em casa nada diz para sua companheira e retoma seus afazeres normalmente. No outro dia, Francisco vai ao depósito pegar o material para garimpar quando, inesperadamente, ele se depara com a pedra novamente. “Mas, como esta pedra veio parar aqui?” Perguntou o homem. “Só se ela veio pulando!” Francisco, finalmente, sabia que a pedra estava viva. Que não se tratava de uma pedra morta sem vida, mas, de um ser vivo:
- Mulher a pedra está viva! Disse Francisco assustado para sua mulher.
- Que nada homem! Esta pedra é apenas um ele de contato com o outro mundo. Mas, continua sendo uma simples pedra.
- Não, você não viu o que eu vi. A pedra está viva!
- Que viva homem! É só uma pedra! O que importa são os espíritos que ela atrai para nos ajudar. Afinal, o que você fez com a pedra?
- Eu a joguei fora e ela voltou para casa sozinha.
- Foram os espíritos que a trouxeram de volta. Homem, deixa a pedra quieta! Francisco se contentou com a conversa de sua mulher e pôs a pedra novamente na almofada do criado mudo.
O casal cresceu em bens. Compraram uma fazenda, gado, e tiveram outras propriedades. Em Campos, eles possuíam 7 casas de aluguel; 7 pontos comerciais e vários terrenos espalhados pela cidade. Contudo, Francisco não se conformava com o chiado. Com o tempo, o chiado passou a ser um zumbido intenso e continuado. O barulho não cessava. Francisco foi ao médico e ele não encontrou nada errado com seus ouvidos. Inquestionavelmente, o barulho vinha da pedra. “E, agora, o que fazer?” Pensou o garimpeiro.
Francisco decide fazer amizade com a pedra. Ele pensou que uma vez que ela estava viva ele poderia entrar em contato com ela. Escondido de sua esposa, Francisco entrar em seu quarto e se tranca nele com a pedra sinistra. Ele a toca com a ponta do dedo indicador e diz: “Ei, pedra como você está?” A pedra dá um salto vertical e cai no mesmo lugar. Francisco entendeu que isto significava que ela estava bem. Mais uma vez ele faz uma pergunta: “Você gosta daqui?” A pedra pulou para a direita. Francisco entendeu que isto era um sim. Depois desse dia, Francisco passou a falar com a pedra. Todos os dias ele conversava com ela. Muitas foram as vezes que ele a levou para passear dentro de seu bolso. Quando a pedra gostava muito de algo, ela tremia dentro de seu bolso, e ele a tirava do bolso e mostrava a coisa para ela. O zumbido desapareceu. Francisco e Cleonice viveram muitos anos com sua pedra. O povo de Campos muitas vezes viu o casal brincando com ela...