As bruxas da mata.

Numa noite gélida, com pouca luz da lua, ouviu-se um uivo gutural de um lobo que circundava os arredores da casa naquela cidadezinha de Minas Gerais. Dentro da pequena residência estava uma mãe, o filho e a avó. Todos sentiam o frio percorrendo os ligamentos nervosos da coluna espinhal em pleno inverno. 

A avó estava doente fazia dias, nada que era dado para ela a ajudava a melhorar. Foram várias consultas médicas e inúmeros exames, mas não encontraram motivo algum de tanta fraqueza e tontura que a acometia. A família já estava sem esperanças quanto a tudo isso e, seus corações doiam de ver a matriarca sofrendo em pleno desanimo da situação. 

Muitas histórias sobrenaturais envolvia aquela cidade e, de certa forma, aquela família. Dizia-se que a própria avó, quando mais nova, fez parte de um clã de bruxas da mata. Mas essa história nunca foi confirmada por ela, sempre desconversava quando o assunto era tocado. 

Mas naquele dia algo fora do comum aconteceu. Seu neto estava aflito com os uivos do lobo, sabia que alguma coisa estava para acontecer. Ele sempre foi um exceclente intuitivo, dificilmente errava quando sentia algo dentro de si. 

Não demorou muito para que o relógio marcasse meia noite de domingo. Todos já estavam em suas camas, mas o menino, com os olhos estatelados, não conseguia dormir. 

Foram três batidas suaves na janela da cozinha, mas alto o suficiênte para ele ouvir e tremer de medo. Mesmo com medo, resolveu enfrentar, pois, alguma coisa em sua cabeça falava para ele não temer o que estava para acontecer. E lá foi ele à cozinha para verificar o que causou aquelas três suaves batidas. 

Resabiado, o menino não acendeu as luzes da casa, guiou-se com a pouca luz da lua que iluminava o corredor entre os quartos e a entrada da cozinha. 

Quando ele adentrou o recinto, encheu-se de vigor e coragem, não entendia muito bem o porque do nada, se sentia assim. Segundos atrás estava com medo e agora tinha mais coragem que aquele lobo uivando na noite fria e escura. 

O menino chegou em frente a janela e devagarinho abriu a cortina. Ao olhar para o lado de fora ele viu sete mulheres com roupas longas e capas na costas. Em suas cabeças haviam chapeús em formato de cone, nas mãos, vassouras de palha. 

Ele ficou adimirando aquela cena sem entender muito bem do que se tratava, até que, por telepatia, todas as setes mulheres disseram para ele não se apavorar, pois, a presença delas ali, era para trazer boas novas a toda sua família.

Num piscar de olhos aquelas mulheres se materializaram dentro da cozinha atrás de suas costas. Ele se virou bem devagar e pôde observar um sorriso suave nos labios daquela que estava mais perto dele e, que parecia ser a líder da equipe. 

Uma mulher de meia idade, alta, olhos verdes, cabelos tão pretos como a noite lá fora. Ela disse para ele que sua avó estava doente pois havia negado a sua ancestralidade há muito tempo atrás e que uma hora a cobrança viria. 

O menino em sua inocência perguntou para aquela bela mulher o que exatamente sua avó havia negado e por quê resolveram puni-la com a doença que nem a medicina conseguiu destinguir a causa.

Sua avó é uma de nós meu caro rapaz, aliás, não somente ela, mas você também. A velha ranzinza que está naquele quarto é uma sacerdotiza muita poderosa, mas que por medo e culpa, virou as costas para quem ela é. Mesmo antes da sua mãe nascer, sua avó fazia muita bruxaria nesta cidade, bruxaria de cura. Ela era a curandeira do seu povo. 

Depois que se tornou mãe, ela deixou de lado sua atuação como bruxa sacerdotiza, se converteu ao cristianismo devido as ameças que - seu então companheiro na época - lhe fazia. Ele disse que se ela não parece de "adorar as trevas", iria levar embora sua mãe para bem longe dela. 

Com muito medo, sua avó se desligou de seus afazeres mágicos e começou uma vida sem graça e sem sentido para ela mesma. 

Pois bem, a cobrança chegou e ela está sendo chamada pela mãe natureza e suas poderosas forças a retomar o teu trabalho nos poucos anos de vida que ainda lhe restam. Ela precisa voltar a curar aqueles que precisam, sua missão de vida é essa. E, ainda mais, sua missão de vida é passar para você todo o conhecimento da bruxaria natural e da cura, meu jovem rapaz. Você dará continuidade a herença mágica que corre em tuas veias. 

Nós sempre estaremos por perto, quando você mais precisar, iremos te ajudar. Mas não se engane, não somos deste mundo, estamos aqui por hora, apenas para trazer essas notícias para você. 

Não se preocupe, iremos falar com sua avó nesta noite através de sonhos para conscientiza-la de sua obrigação cármica.

Dez anos depois, a avó faleceu vitima de um infarto fulminante, também numa noite gélida e escura. Quando se ouviu o uivo do lobo, ela fechou os olhos para sempre a meia-noite de domingo.

Daquela noite em diante, o jovem rapaz - agora com vinte e um anos de idade - começou a trilhar seu próprio caminho realizando curas inimagináveis a toda pessoa que pedia sua ajuda. Ele ficou conhecido como; o jovem bruxo curador das matas. Seu legado durou por oitenta anos, quando veio a falecer aos cento e um anos de idade, em sua casa rodeado pelos filhos, netos e bisnetos, numa noite gélida e escura, onde se ouvia um lobo uivando a meia noite gélida de domingo. 

 

p.s: O conhecimento magístico ancestral daquela família, foi passado para sua filha, depois para filha de sua filha e, em seguida, para o filho de sua neta. Seu bisneto abriu uma escola de bruxaria da cura nas redondezes daquela cidade. Hoje, o local é considerado um santuário de milagres, onde a medicina convencional não encontra resposta para o desaparecimento de tantas doenças ditas como incuráveis.