O Palácio Japonês
O Palácio Japonês
Na metade da segunda década do século XX, Mitsushiro vivia em Nigata com sua mulher e seus cinco filhos. Hideko (12), Tieme (11), Kenji (8), Kenith (6) e Kenzo (4).
Próspero comerciante de roupas, enviuvou, ficando com o pesado fardo de educar as duas moçinhas e os três meninos. Decidiu rapidamente, as meninas Hideko e Tieme, seriam úteis nos afazeres domésticos, Kenji, muito despachado poderia ajudá-lo no trabalho. Kenith foi morar com uma tia materna. Kenzo, o caçula foi enviado para o mosteiro, onde viria a tornar-se um monge xintoísta.
Vinte anos se foram, Kenzo era um jovem monge muito alegre, e infeliz com sua missão espiritual. Sem opção, desesperava-se ao imaginar viver a vida monástica que o aguardava nos anos que se seguiriam. Decidiu fugir. Acompanhando um tio materno viajou para o Brasil, onde se casou com belíssima e culta jovem Tome. Tornou-se agricultor e vivia com Tome e seus nove filhos na colônia japonesa em São Paulo. Após
Kenzo raramente escrevia aos irmãos. Quando seu pai morreu, foi chamado pelo cônsul japonês e orientado como deveria proceder para recebe a parte da herança que tinha direito. Era indispensável sua viagem ao Japão. Respondeu ao cônsul que não voltaria jamais ao Japão, e escreveu ao irmão Kenith informando-o que já tinha sido notificado pelo cônsul e que tinha também tomado às providências legais para que Kenith o representasse na herança. Especial solicitação acompanhava a missiva. Kenith foi incumbido de construir um palácio japonês, e lá deveria instalar-se com sua família.
Ao saber da renuncia expressa do pai, os nove filhos de Kenzo se revoltaram com o desprendimento, pois a família sempre fora privada de maiores recursos e vivia em extrema pobreza, quase uma completa miséria. Kenzo não voltou atrás. Acordava diariamente antes de o sol nascer ia para as plantações. Na hora do almoço fazia uma pequena pausa, saboreava algumas doses de saquê que o deixavam mais corajosos para encarar a luta nas plantações durante a tarde. Com sua dignidade, simplicidade e honestidade viveu sua vida por mais vinte e cinco anos. Ao morrer deixou para sua patroa, na fazenda onde morava um imenso jardim, dez mil rosas de variadas cores estavam plantadas nos dois lados. Para seus filhos apenas o dinheiro em espécie para pagar as despesas de seu funeral.
Na última década do século passado os dois filhos mais velhos de Kenzo, Keisuke e Shigueo, foram trabalhar nos arredores de Tóquio numa empresa de concreto armado.
Keisuke, o mais velho depois de muito buscar encontrou-se em Nigata com seu tio Kenith. Neste encontro o laço familiar falou mais alto e a emoção tomou conta do simpático velhinho que abraçava o sobrinho quase não acreditando que ali estava uma parte de seu irmão que jamais voltaria a ver.
Kenith mostrou o lindo palácio que tinha sido erguido ao lado de sua casa, para atender ao pedido de seu irmão falecido. Keisuke ficou deslumbrado com tudo o que viu. O exterior tinha um pequeno pátio, um lindo jardim, uma pequena fonte de água. O mais marcante era o interior do palácio. Ao entrar, Keisuke tão deslumbrado, preparou sua Polaroid para tirar uma foto. Foi impedido por um gesto de seu tio. Kenith explicou-lhe que o palácio era um templo xintoísta erguido em homenagem a religião que seu irmão pertencera e da qual se tornara um monge.
Ao encontrar-se com seu ganancioso irmão Shigueo revelou-lhe: O palácio é lindo como uma jóia rara. Os olhos de Shgueo brilharam de cobiça e interesse. Keisuke logo acabou com o interesse ganancioso de Shigueo ao revelar-lhe: Meu irmão nossa herança foi a educação que nosso pai nos deu. Sua alma singela de monge, enxergava claramente, nos deu valores e conceitos que estavam profundamente plantados em sua alma que era como um palácio japonês, no exterior, simples, suave, harmoniosa, no interior de uma beleza incontestável e riqueza exuberante.