O HOMEM NA GAIOLA
Um homem entrou numa grande gaiola, trancou-se e jogou a chave para longe de sua nova acomodação. Queria sentir-se como os pássaros aprisionados que choram cantando o cárcere forçado. Porque é impossível cantarolar feliz estando tolhido pela falta de liberdade.
No interior daquela triste prisão havia duas vasilhas contendo alpiste e água. Olhando para os lados, acima e abaixo, ele avistou o vazio em derredor da mesma forma que os prisioneiros alados vêem. Ninguém mais no ambiente, não poderia contar com auxílio nenhum. Então cantou o mais alto possível algumas músicas conhecidas, lembrando as aves sem liberdade. Tanto quanto acontecia com elas, seu ouvinte era o silêncio.
Debruçou-se sobre a vasilha da água e bebeu alguns goles, a seguir comeu alpiste. O sabor não era nada agradável. Voltou a entoar músicas aleatórias pensando na mulher amada, nas pessoas indo e vindo, no sagrado direito de ir e vir quando quisesse. Horrível ficar atrás das grades, mesmo dando a impressão de estar contente somente porque cantava. Igual aos passarinhos.
Durou pouco o devaneio na gaiola, o cárcere sem dúvida se mostrou a pior escolha. Todas as criaturas nascem para ser livres, a menos que transgridam as leis da boa convivência entre os semelhantes, mas esse paradigma é voltado exclusivamente aos humanos, pássaros não se sujeitam aos ditames dos homens. Ele não era um pássaro, embora antes gostasse de vê-los chilreando no exíguo espaço das gaiolas. Agora era ele o engaiolado por escolha própria, opção que os avoantes não têm. Reconhecendo a incongruência, clamou em lágrimas cantando boleros. Se por acaso alguém o ouviu nas proximidades imaginou que ele estava feliz. E não se importou. Assim como fazem com os pássaros.