Geb - Capítulo V
MISTÉRIOS E ENCONTROS DEBAIXO DO CÉU.
Era uma manhã comum. Novamente Dara e Doralice conversavam ao tempo em que tomavam o café. A luz do sol entrava pelas janelas e irradiava a sala. As nuvens ainda estavam formando alguns animais que pulavam pela imensidão azul do céu. Ouvia-se o canto dos pássaros que aninhavam-se nas árvores que ficavam no quintal da casa de Doralice.
- Como o dia está lindo menina Dara.
Dara sorri e corre para a janela avistando o brilho intenso do sol. Fechou os olhos e pode escutar no seu íntimo a canção da natureza, sua pele branca avermelhava-se com os raios que lhe tocavam segundo a segundo.
- Vou colocar uma música para ouvirmos.
Doralice caminha até a vitrola empoeirada no canto da sala e coloca uma música calma que preencheu o ambiente. Dara olha instantaneamente para a avó e sorri com leveza, recebendo um novo sorriso em troca.
- Linda canção vovó.
- Gostou querida?
- Muito! É encantadora.
Caminhando até a poltrona, Dara arruma os cabelos e sentando-se suspira fortemente.
- Estás entre suspiros querida...
- É vovó... esta canção me preencheu e suspirei, foi inevitável. – Responde Dara, sabendo bem que a canção não era o único motivo de seus suspiros.
Doralice levantou-se indo até a cozinha e Dara olhou novamente para fora, vendo o sol esconder-se atrás das nuvens. No mesmo momento os pássaros que cantavam na árvore voaram e um calafrio correu nas veias da jovem menina. Aproximou-se da janela olhando o horizonte e viu uma luz intensa partir de longe. A luz se dissipava e um vento rodava o ambiente todo. Dara observava atentamente toda a euforia do tempo.
Doralice segurava uma bandeja que caiu no mesmo momento, correu até a porta e olhou a luz irradiando o horizonte, sentiu uma sensação estranha e baixou os olhos ao solo.
- Oh Meu Deus!
A face enrugada daquela senhora preocupava-se e no cômodo ao lado, Dara intrigava-se. Apenas uma parede separava dois sentimentos relacionados ao mesmo acontecimento. O medo e a curiosidade.
- Vovó... venha ver isso!
Doralice reanimou-se da cena hipnotizadora que lhe cercara a pouco e voltando a si, fechou a porta bruscamente.
- O quê minha querida?
- Olhe vovó, aquilo lá no fundo. – Dara apontava.
Doralice aproximava-se e engolia a saliva seco.
- Não estou vendo nada minha querida.
Dara encarou a avó e apontando novamente para a luz disse com entusiasmo:
- Ali, lá na frente.
- Oh, aquilo é um raio.
- Raio? Não, acho que não.
- Sim minha menina, olhe o tempo. A ventania anuncia chuva, deve ser o tempo que está mudando, agora venha, vamos para longe da janela.
Dara olhava ainda intrigada com a cena, porém estava sendo puxada pela avó para longe da janela.
Doralice deixou a jovem menina curiosa na sala, pensativa, enquanto corria para o quarto.
- Onde está? Tenho que encontrar!
Mexia no guarda roupas e abrindo as gavetas apresentava a face cada vez mais preocupada.
- Onde foi que coloquei?
Após todas as coisas estarem em desordem, Doralice olhou atentamente para uma das gavetas e sorriu.
- Aí está você!
Jogou roupas por cima, fechou a gaveta e o guarda roupas.
- Vovó, estou indo ao córrego, acho que o tempo voltou ao normal.
Doralice não queria que Dara se envolvesse com a história, mas sabia que precisava tomar uma atitude naquele momento, e esta atitude também não poderia ser descoberta pela menina.
- Está bem querida! Mas cuidado, não vá longe. Você já conhece todas as histórias que lhe contei.
- Sim vovó, fique tranqüila!
Doralice suspira com alívio, e novamente abre o guarda roupas e observa seu bem precioso. O sorriso já menos preocupado brota nos lábios envelhecidos e o olhar apagado encara aquele objeto importante.
De repente, seu olhar volta-se para trás ao ouvir batidas na porta. As batidas eram intensas e Doralice arregalando os olhos esconde novamente sua “riqueza” entre as roupas, fecha tudo e vai até a porta.
- Quem é?
- Sou eu senhora, o rapaz que veio buscar o pagamento.
Doralice estranhou, não era hora de outro pagamento, olhou bem para o trinco e pensou em não abrir, mas no impulso, abriu.
- Sim?
- Senhora, eu queria saber se por um acaso deixei a pasta aqui ontem.
Doralice abriu os olhos e mais preocupada que antes encarou o garoto.
- O quê? Não acredito que perdeu a maleta... Onde Telônios está com a cabeça em colocar uma criança para cuidar disso? Olha no que deu, você não tem idéia do que fez garoto!
O garoto retira o chapéu.
- Me desculpe senhora.
A porta é fechada com toda a força.
O jovem começa a seguir um caminho já seguindo anteriormente, quando desobedecendo a orientação da senhora, passou por detrás da casa de Doralice. Observa a paisagem e continua pensativo.
- Oh, você novamente? - Dara sussurra alegremente.
- Sim, sou eu! – O jovem sorri, lembrando daquela bela menina que o encantou da outra vez que fora ao riacho. A jovem que mexera com sua mente, levando a refletir se voltava ou não. A jovem que entrara em seu coração, porém ele ainda não tinha se dado conta disso.
Dara o olhou ternamente.
- Pensei em você depois de ter te conhecido aqui, naquela tarde.
- Eu também meu anjo. Eu também.
As mãos se cruzaram num sentimento que nascia aos poucos, debaixo das árvores, debaixo do céu.
Continua...