Yerevan e o Maestro
Yerevan é mais bonita do que sonhei. Muito plana, limpa e cheia de atrativos turísticos, muita arte, muitos estilos. Tem personalidade. Planejei vir para encontrar o Maestro e reatar nossa amizade. Ainda tem tempo,mal comecei a curtir a cidade. Vamos passar por seu trabalho, mas não tem pressa.
Digo vamos, porque Nádia vai à frente. Ela demorou a aceitar o convite para a viagem, mas já está bem solta. Observa, fotografa e faz vídeos curtos com comerciantes locais para nosso canal de viagens, ainda em gestação. Ficou curiosa em saber por que eu queria começar por Yerevan. Ora, desde sempre a Armênia me fascinou. Sua escrita é bem peculiar, parece com muitas, mas é única. Ajuntam-se à escrita o genocídio provocado pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra e o fato de ser o primeiro país a adotar oficialmente o Cristianismo. Não é pouco.
Ontem, falei mais tempo sobre o Maestro com Nádia e lhe expliquei. A partir dessa conversa, algumas respostas vieram juntas. Não consigo me relacionar com quem não evolui. Nos anos 80, conheci um universitário pernambucano, assessor de deputado federal. Tivemos boas conversas sobre política, ideologias, situação do Brasil e ainda saímos para farras em Brasília. Quase vinte anos depois, nos encontramos e ele vem com o mesmo discurso, mesmas vírgulas e entonações. Não foi pior porque ainda tínhamos lembranças de lindas cachaças, fomos a um restaurante, falamos de amores terminados e em evolução e acordamos no outro dia querendo morrer ... morrer de ressaca.
O papo só engrenou porque paramos com teoria política, cansava aquele discurso decorado de assessor que não pode discordar. Ele nem sequer sabia que repetia os mesmos conceitos em frases decoradas, A isso eu já não dava o mínimo valor.
Voltando a Yerevan, ao canal do YouTube, me encanta a disposição de Nádia em fazer essa viagem e, pouco a pouco, admitir a possibilidade de trabalharmos juntos e viajar ao mesmo tempo. O Maestro, quem sabe, terá voltado para a aldeia ancestral do Algarve, onde os Outeiro, seus parentes dominam a paisagem que ainda azula no horizonte e, de lá, o Maestro faz gestos ao léu para reger a orquestra dos pensamentos humanos que deambulam na Pensosfera. Apesar desse pega-pra-capar, gostaria de vê-lo, tem alma de ouro.
De repente, concentrado nos pensamentos e no passeio, me assusto com a imponência do Monte Ararat, encravado nessas fronteiras. Parece impossível que o mundo tenha se inundado tanto e a nave de Noé se enganchado no cume e, aí, terminou o suplício. O Monte Ararat, lá do alto de mais de 5 mil metros, nos observa de suas janelas nevadas. Com certeza, não foi feito só para abrigar uma arca. De repente, lembrei-me que vamos acampar esta noite no começo da subida desse marco histórico. E será noite de lua cheia.