O Cavaleiro Ínclito

 

 

Um cavaleiro estava navegando pela vastidão do mar em seu pequeno barco rumo ao Oeste. Fora dito a ele que os grandes heróis viajaram para o Oeste. Os mitos diziam que aquele que matasse uma grande serperte onde o sol se põe seria herdeiro de uma grande fortuna e se tornaria um grande soberano cujas terras seriam férteis até no inverno. O sol estava prestes a se pôr. As trevas paulatinamente se aproximavam. Num instante abrupto, fortes perturbações marítimas, com rajadas poderosas de ventos, e brutais agitações nas águas o atiraram barco afora. Ele se debateu para alcançar ao barco, mas este já se encontrava muito distante. O homem enfraquecido e exausto por nadar passou a afundar naquelas águas agitadas e submergiu cada vez mais. Desceu até as águas escuras onde a luz solar não alcançava.

 

Houve somente trevas e escuridão.

 

Ele acordou numa praia desconhecida. Tossiu e expeliu a água engolida em seus pulmões. Ele estava desorientado e confuso; passou a assimilar o local onde se encontrava. Era dia, mas não tinha sol; o céu era pálido e o ar era pesado e o aroma, nauseante. Ele estava no limbo entre o real e o sonho. Observando o local, ele avistou uma montanha. Pensou em ir até ela, pois sua altura seria apropriada para revelar o quadro onde ele estava.

 

Ele passou a subir nela. Vários trechos eram traiçoeiros e perigosos, mas ele se manteve firme. Em um determinado ponto do trajeto um bode apareceu ao seu lado. Esse animal também estava escalando a montanha. Era uma criatura bela com enormes chifres. O animal por sua habilidade natural subiu a montanha com muita facilidade e mostrou ao homem um trajeto seguro para ele continuar sua escalada. De fato, o homem vira que certamente estava num ponto para desabar e cair para a morte certa. Acatou a sugestão do animal. O bode se foi e deixou-o sozinho.

 

Passaram-se cerca de três dias e o cavaleiro ainda estava escalando a montanha. Exausto e faminto encontrou um ninho onde havia ovos. A tentação de comê-los quase tomou o melhor de si, mas optou por não comê-los. Ao preparar-se para subir mais alguns metros, ele avistou um águia encarando-o fixamente. O águia como se olhasse para sua alma levantou voo.

 

O nobre homem enfraquecido e faminto já não aguentava segurar as rochas da montanha, mas o águia de antes voltou com uma presa um coelho. Ele apreensivo com o que se passava na cabeça da ave pegou o coelho e o comeu cru. Não foi uma refeição agradável, mas ele estava faminto. O águia observou a cena e pôs-se a voar.

 

Horas depois o cavaleiro sentiu que suas forças voltavam lentamente e continuou sua meta de alcançar a montanha. Subiu rocha por rocha, e mais rocha até que encontrou o almejado topo da montanha. Ele estava faminto e observou que ao seu redor haviam pedaços de madeira perfeitos para uma lenha, mas não havia nenhum animal para caçar por perto nem florestas para coletar frutas. Então, de um dos arbustos saltou aquele bode gracioso o qual ele tivera visto. Ele sacou sua espada e intentou em matá-lo, mas hesitou em tirar a vida de sua caça. O bode foi bom para com ele. O animal então observando a situação do homem com sua armadura pesada bodejou e surgiu dos arbustos uma cabra. O cavaleiro entendendo a generosidade do animal tomou o leite da cabra gentilmente lhe oferecido. O leite era diferente e saboroso. Em pouco minutos as suas forças foram restauradas. O bode então seguiu para uma direção, parava e olhava para o nobre homem. Este percebeu que o animal queria que ele o segui-se. Então ele acompanhou o bode.

 

O bode o levou para uma caverna e com seu casco, na terra, desenhou a figura de uma enorme cobra e se foi embora. Ao mesmo tempo, do céu, aquele águia derrubou uma pedra de ouro. O cavaleiro já nesta altura percebendo que os animais não era bestas, mas seres cientes, memorizou a figura da serpente e coletou o ouro. Por um momento, pensou em guardar aquele ouro para si, mas em seu coração sentiu que aquilo não estava certo para quem almeja a nobreza de ser um rei ou herói.

 

Decidiu ir de encontro a essa serpente. Os sinais dos animais não indicavam que tal cobra fosse comum, mas uma presença de grande perigo, como um dragão. Reis e heróis antes dele enfrentaram perigos. Logo, reunindo coragem, adentrou a escura caverna. A peça de ouro revelou-se como uma lamparina tão puro o ouro era. Ao penetrar cada vez a caverna, ele achou a serpente; ela era enorme. Ao redor desse ser tenebroso havia inúmeras ossadas. Cada uma segurando em suas mãos joias reluzentes e ornamentadas. O ofídio ocultando-se nas trevas, ressurgiu como uma belíssima mulher. Em suas mãos ela carregava uma coroa ornamentada com as mais valiosas joias já renomadas pelos homens e a ofereceu para o cavaleiro com a promessa de que tal coroa o faria o maior dos reis. Ofereceu-lhe glórias e um nome imortal. O cavaleiro se estremeceu em seu interior, contudo gritou em alta voz: "Não desejo nada de ti, criatura das trevas. O meu ouro será conquistado pelo suor de minhas mãos". O homem abraçando seus valores de cavaleiro cuspiu perante o réptil. Após tal afronta, desfazendo-se da figurina feminina para tornar-se serpente novamente, ela tomou a iniciativa de ataque. Ela maliciosamente sorriu e abriu sua enorme boca para devorar o homem num golpe vertiginoso. Num impulso e dominado por rápidos reflexos, o cavaleiro lançou a peça dourada, que lhe foi dada pela águia, no fundo da garganta do réptil. Ao ver a serpente sufocando-se, o homem sacou sua espada e arrancou-lhe a cabeça.

 

Saindo da caverna, com a cabeça dela em mãos, do alto da montanha, ele viu seu barco encalhado na praia. Desceu até ele e seguiu rumo ao Leste de onde havia vindo, porém voltava como um homem desprovido de riquezas e aquém da expectativa de ser rei ou herói. Onde não havia luz solar naquela terra do Oeste, ele voltou a ver, pelo menos, a luz do sol em toda a sua glória surgindo do Leste.

 

A cobra era um ser místico. Muitos homens fortes e habilidosos tentaram destruí-la em nome de glórias e canções sobre seus feitos, mas nunca retornaram. O cavaleiro, porém, pela sua nobreza, triunfamente a derrotou. Em seu lar, quando pôs a cabeça da serpente no solo, dela brotou uma grande árvore cujos frutos eram pedras de ouro, como a pedra da águia. Todos se ajoelharam perante o cavaleiro e assim ele se tornou inegavelmente o rei legítimo. Adotou a figura do bode e da águia como seu brasão. Animais os quais o guiaram pelo desafio e provavaram seu caráter. Então ele cantou uma canção na sua nomeação à sua coroação:

 

 

Oh, o orgulho cega o homem e torna-o imprudente.

Quando se é jovem, nada lhe pode quebrar os dentes!

Viajei até o Oeste pelo seu tesouro.

Os sábios extinguem do tolo a vil ambição!

Levado ao limbo, vi nas terras o seu ouro.

Nobres bestas reais provaram meu coração!

Sua hospitalidade provou minha pureza.

O dragão de língua ardilosa cortei-lhe a cabeça!

Quem deseja o ouro fácil por ele será engasgado. 

Sou rei, com espírito aprovado!

Meu povo, deste reino alegrem-se!

Da minha nação é a fortuna e o deleite!

 

 

 

 

João Flávio
Enviado por João Flávio em 30/03/2024
Reeditado em 04/04/2024
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