O colar de contas

Bem aconchegante o apartamento de um quarto, numa rua conhecida por todos. Elegante sem ser pretensioso, pequeno sem sufocar o morador.

O zumbido do ar refrigerado não incomodava o homem de meia idade que estava debruçado sobre um computador, escrevendo um texto.

Como a faxineira só iria aparecer dentro de dois dias, embora não muito arrumado o lugar estava em ordem, ou pelo menos o seu dono assim entendia. Uma camisa largada na cadeira, algumas notas de dinheiro arrumadas em cima da cômoda da sala, coisa de pouca monta.

A campainha tocou. Quem seria, se o dono não esperava alguém?

Não gostava de ser interrompido quando escrevia. Pelo “olho mágico”, viu tratar-se de uma menina que não deveria ter mais do que seis anos.

Abriu a porta, a menina esboçou um sorriso, mas logo apareceram lágrimas no seu lindo rosto. Queimada discretamente pelo Sol, num vestido simples e leve, que naturalmente era usado somente dentro de casa, a pequena pediu o auxílio. Reinaldo já conhecia o belo projeto de gente. Morava a dois apartamentos após o seu, com a mãe.

- Clarisse, minha querida! O que aconteceu com você?

- Olha o chão. Meu colar de contas arrebentou.

- Não faz mal nenhum, eu ajudo você a encontrar todas as contas.

- E o colar, tio Reinaldo?

- Fazemos outro. Deixa ver como está o fecho.

Examinou. Estava perfeito, e todo o colar era muito simples, embora muito bonito, trabalhado com pequenas contas coloridas. Juntos, Reinaldo e Clarisse recolheram todas as contas perdidas no corredor do edifício.

- Pronto, Clarisse. Agora é só pedir à mãe que ela conserta tudo.

- Ela foi ao mercado, tio. Conserta pra mim?

- Entra, mocinha. Vamos dar um jeito nisso.

Sentados no hall de entrada, porta aberta, começaram a reconstruir o colar de contas. Reinaldo cortou um pedaço de fio dental e trouxe uma pequena tesoura.

Enquanto trabalhavam animadamente, Joana, a mãe de Clarisse surgiu na porta, vendo filha e vizinho atarefados. Era uma mulher bonita, muito bonita. Há muito que Joana olhava suspirosa para o vizinho. Agora, ele estava com sua filha, dando toda a atenção à pirralha. O colar ficou pronto, Clarisse voou até o espelho mais perto e quando viu o resultado era toda sorrisos. Deu um bruto beijo no “tio” Reinando.

- Não ficou tão bom, Reinaldo.

- Como não, Joana?

- Você se esqueceu de me colocar no colar...