Foto: ticiano fontenelle

O MUNDO ENCANTADO DE JEAN

 

A chuva caia forte no telhado, relâmpagos clareavam o mágico quintal de Jean. Os bichos se recolheram todos. Bob, o cachorrinho, ficou escondido em uma caixa de papelão e o gato Mion se escondeu sob a mesinha do quarto. Os dois estavam calçados com chinelos de couro, emprestados pelo menino, para se protegerem de raio ou até mesmo de uma possível descarga elétrica, comuns em temporais. Dentro da caixa também ficou o gatinho Felipe, muito bem aconchegado e feliz pela acolhida do bondoso cãozinho, o seu querido e velho amigo. O peixe Júnior tibungou nas correntes da enchente do rio que passava próximo à janela da casa. A tartaruga ninja ficou escondidinha na estante debaixo de duas prateleiras, dentro do casco. A arara picadeira estava com os olhos bem arregalados, suas asas à frente dela e o bico trêmulo de tanta agonia. O hamster Cuí, sobre a cama, todo encolhido com medo do estrondoso trovão. A cobra dentro do guarda-roupa, de boa, como se nada estivesse acontecendo. O polvo Glu por trás da cortina e muito assombrado com o barulho da inundação. No terreiro, nadando, estava a minhoca mexe-mexe, toda enlameada. O soim pulava de um galho a outro para não se molhar na tempestade. A borboleta quietinha no seu ninho de folhas. As formigas bem trancafiadas no formigueiro junto da mãe rainha. O besouro estava encolhido nas flores do florido pé de jasmim. O bicho-folha esticado nos galhos do abacateiro, tremendo de frio. Enquanto o bicho-galho bem aconchegante dentro da caixa de correspondência. Estatelado, o coitado do papagaio, língua seca, amedrontado e não conseguia falar nada. A coitadinha da centopeia com suas perninhas atoladas nas folhas caídas e molhadas. O gafanhoto batia asas sem parar de tão avexado com medo do clarão dos raios. O coitadinho do grilo pulava feito um desgramado, não conseguia gritar, nessa hora pensou: para que servem essas asas? Só para me enfeitar?. O sapão, o ilustre cururu, não baixava a pose, debaixo da mangueira admirava a beleza da natureza e sorria. A rã cristal no cantinho do banheiro, assustando quem entrava. O menino Jean, de longe, olhava um tanto aflito para os seus lindos bichinhos de estimação. – Tadinha da joaninha, tão pequenininha e nessa tremenda confusão, dizia. Amava tudo aquilo ali, era o seu paraíso, muitos animais de variadas espécies, pássaros que cantarolavam, irradiando alegria desde o amanhecer e uma diversidade de insetos. Uma grande família, unida, bonita e engraçada, falava o garotinho exaltado. Muitas histórias imaginárias ele conta do seu lindo pedacinho de céu, encoberto por inúmeras estrelas brilhantes, pela iluminada lua, pelo nascer reluzente do sol e pelas lindas cores do arco-íris. Todo esse cenário embelezava o seu mundo encantado de criança feliz.