Geb - Capítulo IV

FLIDIAS

O Sol acabava de surgir no horizonte. A tenda balançava com o vento suave e um perfume sensual estava impregnado no ambiente. Um corpo quase nu sai de uma tenda, com um andar especial. Seus longos cabelos dourados voavam com a brisa e sua pele branca reluzia a luz do sol. No pulso da mão direita uma cicatriz em forma de F mostrava a sua espécie: Flidias – deusas da floresta.

O seu caminhar era lento e intenso ao mesmo tempo. Muitos animais passavam por ali e se aninhavam em seu abraço carinhoso e ela observava cada curva de árvore com o vento, cada folha que caía do alto, cada raio de sol que atingia o solo e todo o tempo seus olhos claros buscavam algo.

- Vento, onde está Kimari?

Ela caminhava devagar e a cada passo seu, flores nasciam em baixo de seus pés. Muitas plantas se inclinavam ao momento de ela passava e ela transmitia uma face preocupada, onde viu-se uma lágrima rolar de seus olhos.

- Oh mãe! Onde está Kimari? – Passou a mão no rosto retirando a lágrima que rolava. Quando esta cai sob o solo um verde intenso se fez presente e ali nasceu uma linda Lisianthus, que inclinou-se na direção de Nira, a jovem que tanto se preocupava naquela manhã.

- Nira, não chore! – uma outra jovem com as mesmas características se aproxima.

- Kimari, minha irmã! Os ventos lhe trouxeram, nossa mãe não nos deixará longe uma da outra! – A sensual jovem Nira abraçava fortemente sua irmã.

- Nira, estamos prontas! – O olhar de Kimari transmitia força e um desejo de vingança pairou no ar.

Nira caminhou pelo lado oposto da irmã abaixando a cabeça e fechando os olhos.

- Minha irmã, será que esta é a melhor opção?

Kimari sorriu instantaneamente e foi na direção de Nira, abraçou-a e apontou para o lado da tenda.

- Olhe Nira, já temos a isca.

Nira abriu os olhos num repente e olhou para o lado que sua irmã apontava, observou de longe uma pasta negra e se aproximou para certificar-se de que era real.

- Oh céus! Kimari, o que você fez? Isto não é nosso, devolva o quanto antes.

No fundo Nira sabia que a melhor opção era lutar, mas estava confusa e desejava como nunca que as coisas se resolvessem por si só, sem intermédio de suas forças.

- Nira! Não tenha medo minha irmã! Faremos tudo com muito cuidado, e eles irão se render! – O olhar de Kimari era penetrante, via-se uma luz no fundo e sentia-se calafrios só de se aproximar daquele ser.

Nira era mais cautelosa, tinha medo depois de tudo que fora obrigada a agüentar e tentava convencer a irmã de que lutar não era uma boa escolha.

- Kimari, minha irmã, eles são fortes! Eles são poderosos.

- Eles nos pegaram desprevenidas! – Kimari olhou no fundo dos olhos de Nira e puxou a maleta de suas mãos.

- Agora, paremos com esta discussão! Faremos o que é certo fazer! O inicio já foi instaurado, a conexão com estes seres já está realizada! Basta-nos continuar...

Nira abaixou a cabeça, entrou na tenda e ali ficou com sua solidão, indecisa e temerosa, mesmo sabendo que deveriam ter alguma atitude para tentar proteger-se e proteger toda a natureza envolvida.

- Órnio! Venha meu amigo. – Gritou Kimari.

De dentro da floresta surge um unicórnio, cavalgando devagar. Aproxima-se de Kimari e ali se aconchega.

- É meu amigo! Estamos prontas! Enfim, estamos prontas!

O sol se escondeu numa nuvem, os pássaros voaram alto e um vento atravessou o ambiente. Muitas folhas voaram e os olhos de Kimari reluziam um brilho sem igual.

Na tenda uma luz semelhante também se propagou, e o Unicórnio assustado pulou e correu voltando para a floresta.

Braços abertos, Kimari recitava sua oração.

Estamos aqui ventos do leste,

Estamos aqui ventos do oeste...

Viemos para conversar, querida mãe...

Não nos abandone, lua e sol.

Eis nossa força espelhada na luz...

Eis nossa casa na natureza...

Eis nossa fé em algo que existe,

Nossa guerra dentro da paz.

Aconselha-nos, universo...

Proteja-nos estrelas...

Observa-nos... Astros.

Na tenda, Nira acompanhava a oração e os cabelos longos e dourados das irmãs Flidias voavam alto. Nos pulsos a letra F brilhava com uma cor vermelha intensa e as suas roupas leves balançavam com o vento que circulava.

- É chegada a hora! – Diz Kimari no mesmo instante que todo o vento cessa e todo o brilho-luz se apaga.

Nira sai da tenda e para alguns passos atrás da irmã. Somente uma palavra e o estopim de toda a batalha estava feito. Nira, já tomada pela decisão, olha firmemente o horizonte.

- Amém!

Kimari a olha e o sol sai no mesmo momento.

- Que assim seja minha irmã. – Diz Kimari.

- Que assim seja! – Diz Nira.

Continua...