Torre de Intrígas - Capitulo II: No coração do Castelo
Alex e Brayan deixaram a cozinha do castelo, mal tendo aproveitado seus cafés da manhã devido à discussão ocorrida pouco antes na grande mesa.
A missão deles era crucial: entregar uma carta importantíssima para Stephen e Lility. Marley havia deixado uma bolsa de suprimentos para eles, que agora precisavam passar no quarto de Kiara para pegá-la.
Admitidos na guarda real há pouco tempo, Alex e Brayan não eram nativos do castelo; na verdade, eram intrusos. Havia apenas um mês que haviam saído do quarto onde os invasores se escondiam. Desde então, tentavam se adaptar à nova vida no castelo, com a ajuda de Marley, que viu potencial neles e lhes deu uma chance na guarda real.
No entanto, esse era um segredo guardado apenas por Marley. Se os outros habitantes do castelo descobrissem a origem deles, certamente não reagiriam bem, e ninguém sabia o que seriam capazes de fazer.
Enquanto percorriam o corredor principal do castelo em direção ao quarto de Kiara, o clima estava tenso e os murmúrios e comentários sobre a discussão na grande mesa ecoavam por todo o corredor. A notícia da discussão havia se espalhado rapidamente, alcançando até mesmo aqueles que não estavam presentes na hora.
O corredor principal era uma das áreas mais movimentadas do castelo, conectando a cozinha, a sala de estar e a escadaria. Suas paredes eram pintadas de vermelho, com tochas penduradas para iluminar o caminho, e um carpete vermelho cobria o chão. Era um local frequentado por muitos, e ali estavam Alex e Brayan, claramente desconfortáveis com a atenção que recebiam.
Os habitantes que cruzavam o corredor lançavam olhares desconfiados para os dois, já que eram desconhecidos e considerados possíveis intrusos.
Finalmente, eles chegaram ao quarto de Kiara e Alex bateu três vezes na porta.
- Entrem. - Respondeu Kiara prontamente.
Ao abrir a porta, Alex e Brayan se depararam com o quarto de Kiara, que tinha uma atmosfera estranhamente confortável e sombria ao mesmo tempo. As paredes estavam pintadas de preto e vermelho, e a iluminação era baixa, proporcionada por velas, o que dava ao ambiente um toque ligeiramente assustador. Estantes repletas de livros ocupavam as paredes.
Kiara estava sentada em uma poltrona, absorta na leitura de um livro estranho de capa preta e sem nome aparente.
- A mochila de suprimentos que Marley deixou está em cima da mesa, peguem e vão. - Disse Kiara, apontando para a bolsa.
Alex e Brayan se aproximaram da mesa e pegaram a mochila, que continha comida suficiente para um dia inteiro, já que estavam indo para a parte do castelo conhecida por ser tensa devido à presença dos intrusos.
Quando estavam prestes a sair, Kiara os interrompeu abruptamente.
- Esperem aí. - Gritou Kiara.
Alex e Brayan ficaram petrificados, olhando para Kiara, que permanecia sentada em sua poltrona.
- Vocês... São intrusos, não são? - Indagou Kiara, um sorriso malicioso aparecendo em seu rosto.
A revelação de Kiara deixou Alex e Brayan sem palavras. Alex tentou se defender, mas Kiara o interrompeu.
- Eu já sei que são. Marley não sabe guardar segredo, nunca soube. - Kiara disse com um ar de superioridade. - Mas... Olha aqui, como conseguiram entrar para a guarda real, sendo... Intrusos?
Os dois se entreolharam, sem saber como explicar a situação. Finalmente, Brayan decidiu falar, escolhendo suas palavras com cuidado.
- É uma longa história. Na verdade, nós não começamos como parte da guarda real. Fomos trazidos aqui por um motivo específico, que Marley conhece. Não estávamos realmente cientes do que ele tinha em mente quando chegamos, mas acabamos nos tornando membros da guarda real. - Brayan tentou explicar a situação da melhor maneira possível, embora ainda estivesse nervoso com a revelação.
Kiara parecia intrigada com a explicação, mas também cautelosa.
- E vocês aceitaram? Não tinham dúvidas sobre se juntar a nós, considerando... bem, a história entre o castelo e os intrusos?
Alex tomou a palavra desta vez.
- No começo, tínhamos nossas dúvidas e suspeitas, é claro. Mas Marley e outros membros da guarda nos convenceram de que havia uma chance real de reconciliação e paz. Além disso, queríamos uma oportunidade de provar que poderíamos ser confiáveis, e que nem todos os intrusos são tão... Ruins quando parecem. - Alex explicou, com a esperança de que suas palavras pudessem dissipar algumas das preocupações de Kiara.
Kiara os estudou por um momento antes de falar novamente.
- Bem, seja qual for a história, vocês estão aqui agora e aparentemente têm uma tarefa importante a cumprir. Levar essa carta para Stephen, certo?
Alex e Brayan assentiram em concordância.
- Sim, é isso mesmo. - Confirmou Brayan.
Kiara expressou seu ceticismo e preocupação com os intrusos em voz baixa, mas Alex e Brayan conseguiram ouvir suas palavras. Alex tentou assegurá-la, mas Kiara a interrompeu com impaciência.
- Está bem, está bem. Chega de ouvir vocês falarem - disse ela irritada. Depois, suspirou e continuou, - Muito bem, entreguem a carta e façam o que for necessário. Mas saibam que estarei de olho em vocês. - Ela fez um gesto com a mão, indicando que podiam ir embora.
Alex e Brayan saíram do quarto de Kiara, agradecidos por sua aprovação e, ao mesmo tempo, conscientes de que estavam sob escrutínio constante. Com a carta em mãos, eles se dirigiram para a próxima etapa de sua jornada, determinados a cumprir a missão confiada a eles e, assim, ganhar a confiança dos habitantes do Castelo 215.
Os dois saíram da área onde ficava o quarto de Kiara, alcançando as escadarias, e soltaram suspiros de alívio.
- Foi por pouco. - Suspirou Brayan.
- Realmente, agora teremos que ter cautela com ela, pois qualquer coisa que aconteça pode ser usada contra nós - disse Alex enquanto desciam as escadas com Brayan - Você conhece as histórias, não é? Sabe como a Kiara é.
- Sem dúvida. - Concordou Brayan - Bom, seja o que ela saiba, ou se Marley contou algo ou não, pelo menos não está ciente do motivo que nos trouxe aqui. Portanto, não devemos compartilhar nossos segredos com Marley.
Alex e Brayan tinham um motivo específico para estar ali que ninguém além deles e Marley sabia, sorte que Kiara ainda não tinha descoberto.
No meio da multidão que subia e descia as escadarias, a atenção de Alex foi capturada por um homem parado no meio dos degraus enquanto Brayan falava. O homem, aparentando ter cerca de 50 anos, era careca e ostentava uma barba grisalha. Ele vestia um colete de couro e cortava uma maçã com uma faca afiada, fixando um olhar frio diretamente neles. A situação parecia suspeita, e Alex e Brayan trocaram olhares preocupados.
À medida que desciam as escadas, o homem estranho desapareceu de sua vista, e eles chegaram diretamente ao grande salão, situado ao lado das escadarias.
O grande salão era um local movimentado, frequentado por todos os habitantes do castelo. Era ali que se encontrava a imensa porta de madeira maciça, a única saída para o hostil mundo lá fora, tornando-o o epicentro do castelo.
Suas altas paredes eram pintadas de vermelho e branco, alcançando o teto, enquanto o chão era revestido com um carpete amarelo. No interior do salão, era possível notar diversas atividades comerciais, tornando-o um excelente lugar para iniciar um negócio.
Era apenas a terceira vez que Alex e Brayan adentravam o salão, e ficaram surpresos com tudo o que encontraram. Enquanto percorriam os corredores, depararam-se com uma clínica de medicina e experimentos extremamente peculiar. O que mais chamou a atenção deles foi o fato de Marley sair da clínica com uma expressão de desconfiança, segurando um envelope nas mãos.
Ao notar a presença dos dois, Marley congelou, sua expressão denunciando que algo estava errado. Com pressa, tentou esconder o envelope nos bolsos, mas sua ação não passou despercebida por Alex e Brayan.
- Ah... olá, olá, soldados - Marley cumprimentou-os com um sorriso forçado e nervoso, continuando a tentar esconder o envelope - Vocês... Já entregaram o que pedi?
Alex e Brayan estavam claramente desconfiados, observando as ações suspeitas de Marley, como esconder algo de importante em seu bolso.
- Estamos indo fazer isso agora, sen... Marley - respondeu Alex, com um olhar inquisitivo - Inclusive, já pegamos a bolsa com Kiara.
Brayan, reunindo coragem, decidiu questionar por que Marley estava ali.
- Mas o que faz aqui a essa hora, Marley?
Marley, visivelmente nervoso e sem saber como explicar sua presença ali, tentou esboçar um sorriso constrangido, enquanto pensava rapidamente em uma desculpa.
- Eu... Eu vim apenas pegar alguns documentos que... me pediram - Marley gaguejou, com um sorriso forçado e ansioso.
Logo em seguida, Marley enfatizou ainda mais ao guardar apressadamente o envelope em seu bolso, lançou um rápido olhar para o relógio.
- Bem, estou atrasado. Preciso estar na sala de estar do castelo às 13h00. Tenho que ir, e... Não se esqueçam de entregar a carta para Stephen.
À medida que Marley subia as escadarias em direção à sala de estar do castelo, deixava Alex e Brayan profundamente desconfiados sobre o que ele estava escondendo e por que estava visitando aquela clínica estranha naquele momento do dia.
- Depois dizem que nós, intrusos, somos estranhos. - Brayan fez um comentário leve
Alex ponderou por um momento e sugeriu:
- Você... Quer segui-lo?
- Acho melhor não. Marley é quem nos deu a oportunidade e a confiança de estarmos aqui. Deixemos que ele tenha um pouco de privacidade. - Respondeu Brayan com cautela - Se ele descobrir que o seguimos, poderíamos ser expulsos da guarda real, e voltar para aquele quarto onde vivemos por anos não seria uma opção, concorda?
Alex concordou, lembrando-se dos dias difíceis antes de entrarem na guarda real.
- Com certeza, não.
- Bem, então vamos entregar o que ele nos pediu - completou Brayan.
Antes de finalmente deixarem o grande salão, Alex e Brayan fizeram uma pausa para comer algumas provisões da bolsa que Marley havia deixado para eles. Marley havia se empolgado tanto que havia colocado comida para cerca de três dias na bolsa, deixando-os com um excedente considerável.
Enquanto saboreavam a refeição, Alex não pôde deixar de notar a figura misteriosa que os observava nas escadarias do castelo: o homem careca com o colete, cujo olhar era enigmático. Agora, ele estava sentado em uma mesa próxima, encarando-os e desviando o olhar ao mesmo tempo. Segurava a mesma faca que usara para cortar a maçã.
Percebendo a presença constante desse estranho, os dois decidiram recolher rapidamente suas coisas e seguir em frente em sua missão, ansiosos para chegar ao esconderijo dos invasores e cumprir a tarefa que Marley lhes confiara.
Saindo do grande salão do castelo, Alex e Brayan caminharam pelos corredores e quartos do castelo, ainda desconfiados e olhando para trás, com a sensação de que estavam sendo perseguidos pelo homem com o colete.
Após alguns minutos, finalmente chegaram ao esconderijo dos invasores. Diante deles, encontrava-se uma porta de metal maciça, protegida por várias fechaduras para garantir que ninguém indesejado pudesse entrar.
- Ah... Lar doce lar - disse Brayan em tom irônico.
Alex, então, realizou uma sequência de batidas na porta de maneira específica: três toques rápidos, seguidos por dois toques mais lentos e, por fim, mais três toques rápidos, como se fosse um código de entrada secreto conhecido pelos habitantes do esconderijo.
Após alguns momentos, eles ouviram o som das fechaduras sendo desativadas e, finalmente, a porta se abriu. Diante deles estava um homem negro alto, de porte robusto, cabelos longos e cacheados, olhos castanhos e uma aparência amigável, com um grande sorriso no rosto.
- O que estão esperando? Entrem! - convidou o homem, abrindo espaço para que Alex e Brayan entrassem no esconderijo.
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Contínua.
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