Geb - Capítulo III

O INÍCIO

Ele caminhava devagar, olhava o chão e seus passos. De vez em vez parava e olhava para trás como que tentando convencer-se de que era melhor continuar apesar do desejo de voltar.

Seu chapéu cobria a face e a maleta na mão já lhe mostrava o peso. Entre sussurros ele dizia a si mesmo que não estava sendo racional.

- Onde estou com a cabeça? – questionava-se.

O caminho era de terra vermelha, com pequenas árvores aos lados, alguns répteis circulavam o chão e o céu estava num azul limpo e intenso. O sol estava radiante e queimava sua pele como fogo. No fundo ouvia-se o som dos pássaros que voavam pela manta azul-celeste que lhe cobria e ainda via-se algumas folhas caindo devagar das árvores, numa dança leve e suave voando com o vento rumo à baixo.

Rapidamente ele pára no meio do caminho, coloca a mão no bolso e retira um lenço, passa-o pela face retirando o suor insistente e o dobra ao meio. Com a outra mão ele puxa o chapéu da cabeça, se abana com ele e olha o céu com muita dificuldade – a luz do sol fechava seus olhos sem que ele quisesse.

Parado, ele respirava o ar quente que subia do solo e observava o caminho de ida e o caminho de volta. Pensou muito nas vantagens e desvantagens de continuar a sua caminhada como se nada tivesse acontecido, e recordava o olhar que tanto mexera com ele minutos antes de iniciar a caminhada de volta. Observando o horizonte viu uma arvores charmosa lhe exibindo a sombra que ele tanto necessitava para descansar um pouco. Sem pensar segue pela grama e senta-se ali, ao lado de alguns pássaros que estavam beliscando dejetos da natureza que lhe serviam de alimento. Os pássaros voaram e ele aconchegou-se na sombra, ajeitou o chapéu que cobriu o rosto, abraçou a pasta e adormeceu.

O sono relaxou seu corpo. Era um conjunto de cansaço com o ambiente aconchegante que o fez dormir num repente. Devagar seus braços soltavam e a pasta ia dançando sob seu peito, caindo vagarosamente pelo lado.

O tempo se prolongava e por muitas vezes o sol se escondeu atrás de nuvens e mostrou-se novamente.

- Hã? – ele acorda subitamente e olha ao lado. – Oh Meu Deus! Oh Meu Deus, estou encrencado. – procurava a pasta que havia desaparecido.

Levantando-se rapidamente ele começa mexer no gramado procurando algum vestígio, olha para o alto da árvore, caminha em toda a região e desespera-se ao não encontrar.

- O que vou fazer? – Coloca a mão na cabeça com extrema preocupação. Pensava em Telônios, pensava na confiança que Telônios havia lhe depositado e agora havia falhado.

Engolia seco.

Parou no caminho e novamente olhou a ida e a volta. O horizonte mostrava o céu mais escuro e ele percebeu que a noite em pouco tempo chegaria.

- Ele vai me matar! – resmungava o jovem.

Voltou para a sombra da árvore, recolheu o chapéu que havia caído e colocou na cabeça. Pegou o lenço e colocou no bolso.

Ainda pensava em estar enganado, em talvez ter esquecido a pasta da casa de Doralice e ter imaginado tudo aquilo que lhe acontecera. Pensava loucuras, como em estar sonhando e tentava enxergar a realidade como sendo diferente da qual estava vivendo.

Mas no fundo, sentia que era tudo real.

- Não posso voltar! – Afirmava para si mesmo.

- Não poderei voltar sem o pagamento. Telônios não pode se decepcionar assim comigo. Ele confia em mim.

Ele caminhava para um lado e para o outro e sempre parava no meio. Mãos na cabeça e pernas inquietas. Olhar perdido e pensativo, onde até mesmo algumas lágrimas já apontavam.

A noite se aproximava.

Longe dali, no horizonte, sentada em uma grande rocha um corpo feminino, sensual e exuberante observava o sol se por.

Estampado na face um sorriso malicioso e nas mãos uma pasta negra. Havia um clima diferente no ar.

- E fez-se o inicio, enfim... – A sua boca rosada dizia as palavras junto com o olhar fixo no poente.

Ela se satisfazia e ele longe dali, se preocupava.

Um distante do outro, em espaço e sentimento, porém o destino já estava traçado e a conexão entre ambos já havia sido feita.

Continua...