Geb - Capítulo II
PENSAMENTOS DE DARA.
Uma noite negro-iluminada pelas estrelas e o luar minguante se estendia sob o céu. Na casa as luzes das lamparinas ficavam cada vez mais fracas.
- Dara? O que há minha menina? – Questiona Doralice olhando-a atentamente antes de ir para o seu quarto.
- Nada vó. Estou com sono, vou indo me deitar.
Um beijo nas mãos de Doralice e nada mais. Dara partiu pensativa para seu quarto. Deitou-se em sua cama e olhava o teto sentindo a brisa que entrava pela janela mal fechada. Virou-se para o lado por duas vezes e retornou a ficar encarando o nada. Seus olhos amendoados estavam estalados e seu pensamento ia longe.
- Humm... – sussurrou enquanto levantava e caminhava em direção à janela para fechá-la.
Deitou-se novamente e cobrindo-se fechou os olhos adormecendo rapidamente.
O tempo passava cortando seus sonhos e a manhã a cada segundo se aproximava.
- Bom dia, minha querida! Acorde! – Doralice abre as cortinas deixando os raios de sol penetrar o quarto.
- Hã? Mas já é de manhã vovó? Meu Deus! Tenho a sensação que dormi há alguns minutos.
Doralice sorri ao puxar o cobertor de Dara o dobra cuidadosamente, alisando e alinhando suas dobras.
- Você está muito cansada minha ninfa. Deve ser por isso.
- É... Deve ser. – diz Dara ao levantar-se espreguiçando levemente e passo a passo caminha até Doralice.
- Bom dia vovó. – deu-lhe um beijo no rosto.
Doralice termina a arrumação da cama de Dara e dando-lhe a mão vão juntas para a cozinha.
- Oh Meu Deus, não fiz minha oração aos Silfos. – corre para a janela mais próxima.
“Silfos”
Perdoem-me por esta falha.
Doralice a abraça e a leva para a mesa acalmando-a.
- Querida, os Silfos não se chatearão com isso. Sabem que estás muito cansada.
- Espero que me entendam vovó.
Era doce ver a face tão desapontada de Dara ao pensar na sua oração esquecida. Ela pegava as frutas e levando pedaço a pedaço na boca olhava um ponto fixo no ar sem ao menos piscar os olhos.
Doralice estava na pia, contando um caso antigo relacionado aos Silfos, porém, neste instante Dara não pensava mais neles.
- Está pensativa novamente Dara! – Doralice vira-se para Dara.
Dara assustada larga o pedaço de fruta na mesa e olhando sua “avó” por um instante, pensa nas melhores palavras.
- Não... não é nada. Acho que deve ser o cansaço.
A senhora era uma mulher muito esperta e conhecia Dara como ninguém. Simplesmente fechou a torneira e dando alguns passos olhou-a nos olhos.
- Você me parece pensativa. Seus pensamentos voam mais alto que seu cansaço. Mas não questionarei mais, por que na hora certa você virá me contar.
Dara arregalou os olhos e encolheu-se na cadeira.
- Vovó...
- Não falemos mais sobre isso minha querida. Tudo ao seu tempo.
Dara abaixa a cabeça e sente um arrepio lhe correr a alma. Muitas coisas lhe passaram pela mente e ela como um ser completamente dependente da única pessoa que lhe acompanhava, sentiu medo.
- Estamos tão sozinhas aqui vovó. Apenas... eu e você.
Doralice sorriu estranhamente e voltou-se para a pia abrindo a torneira. A história sobre os Silfos continuou e Dara voltou a observar o nada, agora de cabeça baixa.
A sensação de estar incompleta se fez presente e ela sentiu uma lágrima cair de seus olhos. Mais alguns instantes e ela olhou à sua frente, novamente encarando o “ar”.
Então, um sorriso brotou em seus lábios e um mistério se estabeleceu nas linhas daquele sorriso.
Continua...