UM DESEJO REALIZADO, A MORTE E A PROFECIA

UM DESEJO REALIZADO, A MORTE E A PROFECIA

POR JOEL MARINHO

Ele nasceu no ano 1100, na França. Veio de uma família nada tradicional, como destino terrível seus pais eram servos, logo de acordo com aquela sociedade estamental ele jamais poderia alcançar a camada nobre por mais que conseguisse dinheiro para comprar um título de nobreza, outro fator impossível.

Mesmo que seu nome fosse Luís ele não nasceu na família nobre, pobre Luís!

Mas ele sonhava com a nobreza, achava lindo aquelas roupas exuberantes as quais estava proibido de usar pela posição de status o qual estava inserido.

Certa vez entrou em uma casa nobre, roubou uma roupa completa e fugiu de seu feudo para um feudo vizinho, lá chegando se apresentou como nobre, logo foi levado a sério conseguindo enganar o próprio senhor feudal. Disse que estava por ali de passagem, pois iria negociar um outro feudo um pouquinho distante dali e assim foi ficando apossado e com toda a pompa de um nobre.

Vendo que ele não iria mais sair de seu feudo o senhor começou a desconfiar daquele desconhecido e passou a investigá-lo sem ele desconfiar.

Em poucos dias depois o senhor descobriu a fraude, então chamou Luís para uma conversa. Ele tentou desconversar, mas diante as pressões não teve como manter a mentira e confessou ser um servo.

Foi a julgamento e em meia hora a sentença já estava decidida, morte por fraude. – No domingo próximo Luís será decapitado, venham assistir ao grande espetáculo de punição a quem ousa ser o que não é, dizia um chamamento público de um homem que gritava a todo pulmão montado em um velho cavalo.

No domingo pela manhã lá estavam todos os habitantes do feudo e alguns convidados de outros feudos vizinhos para assistir o belíssimo espetáculo da decapitação.

Quando o carrasco chegou, acompanhando ele vinha um padre, lógico, nesses espetáculos “belíssimos” do medievo a igreja era a alegoria da desgraça, pois precisaria justificar o sangue derramado em nome de “Jesus”. Se bem que isso não mudou no século 21, mas é melhor deixar isso para lá antes que eu seja jogado na “fogueira incendiária da santa inquisição” pós-moderna.

Ao lado do pobre homem o padre perguntou:

- Meu filho, você se arrepende pelo mal que causou?

Luís permaneceu calado e o padre se alterou.

- Responde, miserável, tu já vai morrer mesmo!

Luís levantou a cabeça e com um olhar de doçura respondeu ao padre:

- Hoje mesmo estará comigo no inferno.

O padre ficou tão irado que fez menção de arrancar a batina, mas em seguida socou o rosto de Luís que não podia fazer nada a não ser mandar o religioso para o inferno.

Diante da multidão Luís andou até o local onde iria ser degolado e lá de cima ele gritou:

- Nasci miserável e jamais entendi a minha sociedade, só queria ser nobre uma vez na vida e fui, morrerei como um homem livre que não teve medo de ousar a ser, vocês matam o ser humano, eliminam o corpo, mas a ideia vocês não matam, um dia surgirá um movimento de liberdade e acabará com essa sociedade indigna a qual eu pertenço.

Colocou o pescoço no local e esperou a lâmina amolada determinar seus últimos momentos.

A cabeça rolou lá para longe enquanto o corpo se debatia. Para completar a cena macabra o sangue esguichava longe e aos poucos foi perdendo força até os últimos movimentos de vida. Aos gritos a população aplaudia aquela cena espetacular enquanto o padre abençoava, segundo a crença, a alma daquele miserável que só queria a oportunidade de ser nobre.

Luís estava morto, mas a sua profecia se cumpriria a partir do século 18.