UNS OLHOS VERDES

Elza estava usando um lindo vestido cor-de-rosa, trazia os longos cabelos soltos, um par de brincos delicados, uma pulseira de prata no delicado pulso.

Nos pés, um sapatinho de menina, com um lacinho do lado.

Nenhuma maquiagem no rosto adolescente.

Era toda delicadeza, inocência.

Mal acabara de completar quatorze anos.

A cerimônia de casamento se realizava na igreja matriz da cidade. Uma igreja magnífica. O noivo, um primo irmão que a vira crescer.

Em seu terno cinza, ele aguardava impaciente a entrada da noiva.

Elza a viu aproximar-se e riu-se por dentro. Ouvira a tia comentando que a noiva há havia encomendado um bebê.

Ela observava quietamente a igreja repleta de convidados. Com seus inocentes olhos azuis observava timidamente as pessoas que a rodeavam e abaixava os olhos rapidamente.

De repente seus olhos se cruzaram com os de um rapaz. Ele possuía uns olhos verdes tão incríveis que a fez tremer por dentro.

Ele não demorou o olhar sobre ela mais que alguns segundos, mas foi o suficiente para mexer com ela.

Durante o restante da cerimônia não conseguiu prestar a atenção a mais nada. Elza o olhava e esperava que ele fizesse o mesmo, mas nem por uma vez ele lhe voltou o olhar.

Como haveria uma recepção numa bela fazenda após a cerimônia religiosa, lhe restava a esperança de que lá ele a pudesse notar.

Ao chegarem à fazenda tudo estava maravilhosamente enfeitado e havia muitos adolescentes e jovens bonitos.

Elza descobriu que o rapaz de olhos verdes se chamava Murilo; tinha dezoito anos e era primo da noiva.

Ela pôde notar que ele era mesmo lindo e tinha um sorriso encantador.

Notou logo que a maioria das garotas estava interessada nele, e o pior, notou que ele parecia já ter escolhido uma delas: uma ruiva super maquiada.

A ruiva vestia uma saia muito curta e mostrava pernas grossas.

Aborrecida ela pôde notar que Murilo só tinha olhos para aquela garota. Mas pudera! Com aquelas pernas...

Os garotos vinham puxar conversa, mas ela os achava tão vazios, tão tolos!

Ela não era de se jogar fora com aqueles olhos claros e aqueles cabelos dourados, mas por que só os jovenzinhos da faixa dos treze aos dezesseis se interessavam por ela? Por que não podia ser o lindão de olhos verdes?

Ela o olhava e nada. O rapaz já estava até conversando com a ruiva.

As bandejas passavam e Elza rejeitava. Fugia de Fábio e de Marcos.

Marcos tinha olhos azuis e o rosto repleto de espinhas.

O que fora mesmo que Fábio lhe perguntara? Já nem se lembrava. E Marcos que insistia tanto em falar sobre tratamento para acne. Seria idéia fixa?

Achava aqueles garotos muito maçantes.

Murilo é que devia falar coisas que valeria a pena ouvir, mas ele preferia a outra garota.

Ó não! Estavam tão íntimos os dois já, ele até lhe segurava a mão.

Estavam de beijinhos...

Elza só queria que ele lhe voltasse os olhos, mas sem chance.

Enquanto ela o observava a namorar a ruiva ficava girando a chapinha da pulseira no braço fino.

Talvez nem o visse nunca mais.

Logo teria que deixar a festa, os pais já a chamavam.

De uma coisa tinha certeza: que aqueles olhos verdes por muito tempo povoariam seus sonhos.

Uma semana depois do casamento do primo casualmente ela o viu de novo. Lógico, Murilo nem a notou!

Flertava moças mais velhas.

Ela sabia que não tinha chance, mas quem manda no coração? E o dela transformava-se num tambor cada vez que o via.

Passaram-se dois anos e Elza não o esquecia. Ele não a notava, mas ela nem se importava, contentava-se com o amor que estava sentindo. Que lhe importava que era um amor platônico?

O tempo foi passando e as coisas foram se transformando. Novos acontecimentos vieram trazer novos interesses para sua vida. Finalmente o vento do destino acabou varrendo de vez aquele moço de sua vida e ela foi esquecendo-o aos poucos.

Vivendo uma nova realidade apaixonou-se, casou-se, teve filhos e nem se lembrou mais dele.

Depois de muitos anos ela e o marido participavam de uma comemoração quando ela notou um senhor acompanhado da esposa. Ele tinha uns olhos que a intrigaram. Onde fora mesmo que vira uns olhos iguais àqueles?

Alguém fez as apresentações:

__ Elza, este é o Sr. Murilo...

Só então ela se lembrou e olhando-o mais intensamente se perguntou o que a vida havia feito daquele sorriso sedutor.

Murilo não era nem de longe o mesmo.

Consciente de sua beleza, ela sentiu pena do homem à sua frente, tão acabado estava.

Pôde notar também que a esposa dele era uma mulher feia, sem graça e mal encarada.

Ela o arrastou para longe de Elza, enquanto esta tentava recordar-se o modelo do vestido rosa que usava naquele dia tão distante.

Lembrava-se que era lindo e seus cabelos tão longos, soltos...

Passou a mão pelos cabelos agora mais curtos. Ainda possuíam aquela cor dourada, o mesmo brilho de outrora. O corpo juvenil ganhara carnes e curvas.

O vestido preto que vestia agora lhe caía tão bem. Era o que todos diziam.

Que importância podia haver num vestido rosa que usara há mais de vinte anos?

Quando o marido veio lhe oferecer o braço ela o beijou carinhosamente e admirou seus radiantes olhos castanhos.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 18/12/2007
Reeditado em 24/03/2011
Código do texto: T782957
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