Mar Calmo.
Mar Calmo.
Um veleiro repousa em bancos de areias, mas, não era apenas um veleiro qualquer! Não. Era um veleiro de nobres madeiras vindas do Sul, suas amarras, foram confeccionadas por artesãos da Siméria, sua flâmula, com a imagem de dois corações... Esta, ficou gravada no tempo.
O ano era vinte e três, depois de Cristo, o vento soprava uma brisa leve, formando pequenas ondas, que, chocava-se ao casco daquela Nau imponente. Eram quatorze e quarenta e cinco de uma tarde de Junho, o céu apesar de nublado, trazia consigo pingos de um querer autêntico, e, mesmo com curso definido, não tinha ideia do que se apresentaria.
Essa aventureira dos oceanos da vida, já enfrentará várias navegações, das quais tormentas se formaram, e, maremotos quase à afundou. Deixou lembranças por onde atracou, trouxe momentos de dormidas a céu aberto, tendo a lua em sua janela, em numa destas noites, pediu a Selene (lua), para guia-la a sua outra metade perdida, ao um sonho repleto de contos em versos.
Selene, era filha de Hipérios, e, Tea. A deusa, voltada para o amor, de fato, ela era protetora deste, por acreditar em tal sentir, independente da sua forma, e, gênero, resolveu atender tão singelo pedido.
Os deuses por mais pagão que fossem, até mesmo em sua pior ira, deflagra amor na mais pura essência. Vamos então ao Deus único, aquele que monopolizou todas as crenças a seu favor, até ele mesmo, deu seu filho por paixão, para aquelas torturas.
Agora, ancorada a cinco metros da costa, sentindo um desconforto confortável, olhava a praia, gaivotas sobrevoam atenta aquela pirata, ela, tinha o sol sobre si, um olhar castanho sem malícia, maliciosamente camuflado pelo riso, sua face, cansada ao mesmo tempo eufórica, tinha um doce amanhecer. Sua bússola não funcionava naquele Norte, o vento não se direcionava com precisão a lugar nenhum, toda vida daquele lugar suspirava suspiros, enquanto Selene aguardava entrar em cena...
Depois de reconhecer o terreno ao qual pisou, ouvira um chamado. O chamado vinha de longe, a voz lhe parecia familiar, seu tom de velhas cantigas de lendas náuticas. Em todas as suas viagens, nada lhe remeteu a isso. Ela era leitora de vários diários antigos, sentava em seu leito, sobre o recanto daquele canto inviolável. Eram diários datados de tantos cruzadores, amores quase irreal, mas, nada que mencionasse tal voz, contudo, houve um, amarelado pelo tempo, em suas folhas haviam tudo dos anteriores, com uma exceção, a fazia refletir com o coração, com afinidades jamais encontradas nos arquipélago por onde desbravou, então, aquela sensação adentrou o peito como um punhal, cujo um poeta se perguntava... Sou!
Saindo dos seus devaneios, ouviu mais uma vez a voz, que, como a do mar, convidava-a a navegar em solos Nortenhos. Ela se virou, sem crer no que virá, aquele homem meio criança, meio adulto, a olhava; em seu olhar, longe de ter pudor, a abraçou. Os dias foram maravilhosos, as noites foram esplêndidas, nas poucas vezes em que trocaram palavras, havia um possível retorno, na ânsia dos dois corações, que, naquele fim de tarde se fazia despedida, um coração na chuva caminhou...
Velas içadas, vento favorável, mar calmo, hora de singrar, deslizando na flor d'água zarpava um veleiro carregado de carinhos, vinhos, e, doces momentos, o céu azul límpido, era um oceano sobre os dois, que, alimentava a esperança de voltar a se ver. Selene, cumprira o desejo daquela corsária em busca de versos além mar.
Dizem as lendas, que, o veleiro, hoje encalhado nos bancos de areias, espera pacientemente a maré cheia para de novo avançar em direção aquele horizonte, onde, ira buscar, nem versos, nem contos, e sim, contar ao homem o que ele sempre se pergunta...
Bom turma.
Se perguntem por um só instante. Quem de vocês cruzariam um mar calmo, sem saber se na volta não enfrentaria tormentas?
Sou Osvaldo Rocha Jr., arqueólogo, e, aventureiro.
Texto: Mar Calmo.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 26/06/2023 às 19:07