Flauta, xícara e a senhora no Lago Brogodó
Era domingo. Tarde ensolarada, no Lago Brogodó. Caminhava lentamente pelas calçadas, quando uma senhora, baixa, de vestimentas escuras e envelhecidas, passa por mim e de forma inusitada, se posiciona de frente comigo, pede para que eu abra os braços. Coloca uma flauta em minhas mãos. Quando levanto a cabeça, depois de olhar o instrumento, a senhora estranha desaparece, como fumaça ao vento.
Muito assustado e simultaneamente curioso, toco a flauta na nota de dó, a única que sabia e como um piscar de olhos, encontro-me sentado numa poltrona confortável. Ao olhar para meu lado esquerdo, vejo um calendário no qual marcava 20 anos à frente de meu tempo.
Levanto-me.
Ao andar rapidamente em direção à janela, não vejo nada. Minha visão é escurecida. Tento novamente olhar, mas em vão. Apenas o escuro.
Viro-me.
Vejo dentro daquela sala ou salão, apenas uma xícara no chão, com um líquido amarelo e um bilhete ao lado escrito: "O que é a verdade? Será a razão? Sinto-lhe dizer que a razão é uma invenção. Ela não existe".
Tomo o chá e sinto a senhora me tocar.
Você está bem?
Essa água do Lago Brogodó, tem um cheiro interessante. O que essas pessoas que nos governam tem na cabeça?
Não sei. Finalizo a conversa e caminho desnorteado pela calçada.
Olho para os gansos. Eles bebem aquela água fétida do lago, em xícaras amarela.