O Sapato e o Ronco encantado
Numa floresta encantada havia uma pequena aldeia chamada Sapatolândia, onde vivia um povo que se dedicava a fabricação de sapatos. Era uma comunidade de pessoas alegres, outras ranzinzas, espertas e até misteriosas, inclusive um tal de João Cantiga, que ganhou este nome por causa do cheiro insuportável que exalava dos seus pés.
Certa noite, João chegou em casa, tirou os sapatos, deixou-os debaixo da cama e foi dormir. Estava num sono tão pesado que roncava feito um leitão. De repente, algo incrível aconteceu — um dos sapatos de João saiu de debaixo da cama pulando feito um sapo. Foi o ronco de João Catinga, um ronco encantado que deu vida ao sapato que com uma voz empostada disse:
— Livre, estou livre!!
Meu nome será... hum, já sei! Sapatião.
Após receber vida, presenteada por um ronco mágico, Sapatião saiu pela aldeia proclamando liberdade a todos os sapatos. A magia que o havia encantado foi despertando todos os sapatos e com uma voz grave gritava:
— Liberdade! Liberdade! Venham todos para o centro da aldeia. E foram chegando, chegando e chegando até que se ajuntaram a Sapatião, que disse em tom de grande alegria:
— Sapatos, sapatas, e sapatinhos, a partir de hoje não seremos mais escravos de nenhum pé catinguento. Chega de aguentar mal cheiro, de ser torturado pelos senhores pés.
Então um dos sapatos gritou:
— Viva Sapatião, nosso herói e libertador! E todos clamavam: Viva, viva, viva o nosso herói.
Ao amanhecer, foi um alvoroço tremendo na aldeia. Todos os moradores saíram gritando pelas ruas dizendo que foram roubados, que seus sapatos sumiram. Foi quando Sapatião apareceu e disse:
— Homens de Sapatolândia! Meu nome é Sapatião, fui liberto e ganhei vida própria pelo ronco encantado de João Catinga e esta magia contagiou todos os sapatos. Agora somos livres e vocês devem andar descalços, pois teremos nossa própria comunidade na floresta encantada.
Dito isso, Sapatião saiu pulando e todos os sapatos saíram atrás dele cantando: Eu vou, eu vou, embora agora eu vou, eu vou eu vou, eu vou, eu vou.
Depois desse dia, os moradores de Sapatolândia passaram a andar descalço, porque todos os sapatos que eram fabricados, ganhavam vida por causa do encanto do ronco de João Catinga e seguiam em direção à comunidade dos sapatos libertos pelo herói Sapatião.