Mesolua - Miranda e Prya
Um Jardim De Serpentes e Tenébrios
O Encontro com Miraconda.
Prya e Miranda adentraram o jardim, confiantes de que
aquele extenso labirinto de plantas estranhas e árvores imensas
as levariam a algum lugar...
— Já estamos caminhando a alguns minutos — comentou Prya.
— E?
— Você por acaso percebeu algum tipo de má intenção nas palavras
daquela senhora?
Miranda ergueu um enorme sorriso.
— Sim, ela estava ansiosa para nos matar.
— Então é uma armadilha?
— Bom, eu não acho. Pelo que observei, aquela senhora estava se controlando para
não nos atacar ali mesmo. Era como se ela estivesse sendo obrigada a nos dizer a verdade.
Um pouco de silêncio, Prya pensava algumas coisas. Então Miranda voltou a dizer:
— Não precisa ter medo de nada e nem de ninguém. Eu vou te proteger, eu sou forte.
Além do mais, você pode usar aquela sua magia para se defender também.
— Bom, sobre isso...
— O quê?
— Eu não fiz aquilo de propósito, digo, eu não usei aquela magia de forma consciente.
Eu não sei o que aconteceu realmente aquela hora, é como se a varinha tivesse feito por si mesma.
Prya disse em um tom de voz baixo, relutante e com pouca confiança.
Miranda tentou anima-la, dizendo que provavelmente em breve ela descobriria, pois era inteligente.
Mas a verdade era que Prya se sentia fraca, impotente e boba.
Caso alguma emergência como aquela ocorresse novamente, e ela não conseguisse ajudar Miranda?
Porém a vampira não notou a inquietação de sua amiga, estava muito distraída
com as diversas plantas e animais que se escondiam mata adentro.
— Miranda...
— O que há?
— Sabe.. — Prya disfarçou, desistiu de dizer sobre seus sentimentos, falou outra coisa — Vamos
precisar de luz...
— Deixa comigo!
Miranda pegou um graveto no chão, e juntou com outros. Enrolou um pano na ponta,
e começou a procurar por algo no chão. Achou uma pedrinha preta, parecendo carvão.
Em seguida, extendeu sua mão como um felino e garras pretuberantes apareceram no lugar de suas unhas. Prya se admirava toda
vez que via Miranda fazer aquilo, era um espetáculo a parte.
Então, Miranda começou a raspar a pedra nas suas garras, faíscas saiam como estrelinhas brilhantes
na escuridão, até que o pano começou a fagulhar, esquentou e acendeu com uma pequena chama.
Logo, elas tinham uma tocha improvisada.
— Onde você aprendeu a fazer isso? — perguntou Prya enquanto o fogo iluminava seu rosto claramente impressionado.
— Eu tive um amigo que me ensinou.
— Uaaal, queria conhecer alguém assim...
— Prometo que assim que sairmos dessa floresta, vou te ensinar.
Elas estavam caminhando por quase duas horas, no meio de densa floresta,
seguindo uma trilha que estranhamente não se desmanchava.
Demonstrando um caminho que rodopiava e dava voltas por todo o labirinto de plantas.
Do lado de fora do jardim, em uma pequena casinha escondida de tudo.
Um homem conversava com uma certa senhora...
— Mestre Diardo, as crianças estão se aproximando... Em breve vão se encontrar com ela...
— Perfeito Calimésia. Não tenho mais instruções a te passar. Você pode voltar ao posto,
e esperar por mais visitantes...
— Certo, estou de saída... Porém algo me chamou atenção em uma daquelas garotas.
— O quê?
— A garota de cabelo preto... Bem, por um momento me pareceu que
ela conseguiu sentir minha sede de sangue. Eu tive que me segurar
para não mata-la ali mesmo.
Diardo se levantou de sua cadeira, em direção a uma pequena lamparina. Levantou um copo contendo alguma substância vermelha e viscosa,
e pronunciou após um gole:
— Talvez ela também seja... Não é exatamente raro de se encontrar por esses lugares.
Mas mesmo assim, creio que será divertido para nossa amiga lidar com essas duas meninas.
Sobre o quê falavam, isso nunca se passaria pela cabeça de duas crianças de doze anos.
Mas a sensação que de súbito tomou Miranda quando se aproximava perto de uma interseção da floresta,
a fez querer voltar desesperadamente para a entrada.
Alguma sensação esquisita, como se houvesse algo a observando. Algo que não era humano, ou sequer fosse daquele mundo.
Ela olhou para os lados e não viu nada, fechou os olhos para escutar. E ouviu o barulho das plantas e dos animais assustados,
denunciando o perigo que estava logo a frente.
— Miranda, eu sinto algo estranho. As plantas... elas... — disse Prya olhando para
algumas plantas e flores amassadas de uma forma peculiar. Como se formassem um trajeto.
Miranda manteve o silêncio, não conseguia distinguir o que poderia ser aquilo.
Seja lá o que fosse, era enorme. E parecia sedento para se alimentar.
— Prya, apague a tocha.
— O que? Como assim?
— Vai logo, apaga rápido. Precisamos esconder — bravejou Miranda, nitidamente assustada.
Prya apagou a chama, e largou os gravetos no chão. Antes de perceber,
Miranda já fazia o percurso inverso a segurando pela mão, evitando ao máximo fazer barulho.
— É um troll? — perguntou Prya
— É maior... Está nos seguindo.
Prya se lembrou da época em que se aventurava pela pequena floresta perto de seu vilarejo,
e inventava monstros para assustar as outras crianças. Era como se de alguma forma,
tudo aquilo que ela idealizava como fantasia, estivesse se transformando em realidade.
— Uma árvore! A gente precisa subir em uma árvore... — disse Prya apontando para enormes galhos a frente.
Miranda não refletiu muito, simplesmente seguiu a instrução de Prya.
De alguma forma, Miranda agarrou Prya pela cintura e a jogou para cima, como se fosse uma boneca.
Com a força e a suavidade perfeitamente necessárias para que Prya pousasse em um galho.
Em seguida, a vampira com dois pulos já havia alcançado a mesma altura.
— Você teve uma ótima ideia Prya, um animal enorme não poderia subir em uma árvore.
— Como vamos sair daqui?
— Eu estou pensando... Se você conseguisse usar sua magia!
Prya tirou a varinha do alforje, estava tremendo. A segurou com firmeza, e impotente mirou para o tronco da árvore.
Preparada para atirar em qualquer coisa que se mexesse.
— Vai varinha, por favor me ajude!
Aquela sinistra presença de repente desapareceu. Como se nunca sequer estivesse estado lá.
Miranda contraiu a pupíla como um gato, olhando para todos os lados.
Seu nariz se mexia como se fosse um pequeno pug — como uma criatura da natureza.
— Sua magia fez efeito?
— Não sei, o que aconteceu? — perguntou Prya.
— Aquilo parou de nos seguir. Talvez tenhamos entrado no seu território por engano.
— Será que é por isso que aquela senhora...
— Sim, essa deveria ser a armadilha. Um bixo no meio da floresta para comer os visitantes. — respondeu Miranda, um pouco mais tranquilizada.
Prya perguntou o motivo de Miranda achar que a senhora da porta estava sendo obrigada a contar a verdade,
se no fim realmente se tratava de uma armadilha.
— Também não entendo... A menos que... Tenha alguma outra pessoa por trás disso!
Não deu tempo para conversarem mais. Quando as duas meninas olharam para baixo,
avistaram a figura de uma enorme serpente que aparecia se aproximar da árvore.
As olhando fixamente, serpenteando sua língua, certa de sua vitória.
Prya segurou um grito com a boca. Mal conseguia firmar seus pés para subir um pouco mais.
Estava trêmula, certa da morte que se aproximava.
Miranda parecia irreconhecível, com muitos sentimentos misturados dentro de si,
o único deles que a fez pular em direção áquela serpente, sem dúvidas foi
a sua vontade de proteger Prya.
Ela pousou no chão e sumiu, a serpente não deu confiança. Começou a se enrolar
na árvore mantendo seu olhar fixo em Prya, que estava desesperada, pronunciando
algumas palavras enquanto mantinha a varinha apontada para a serpente.
Miranda reapareceu atrás da serpente, a segurou pelo rabo. Ela deveria pesar toneladas,
e Miranda foi apenas arrastada com o movimento da serpente.
Então de subito, Miranda deu uma mordida forte na cauda da enorme criatura, que reclamou:
— Aiai, meu rabinho!
— Hmã quen binxo estrainho é fésse? — disse Miranda, ainda mordendo a serpente.
A serpente largou Prya de lado, e se concentrou em espantar a pequena formiguinha que lhe mordia.
Abriu a boca e esguichou algo a uma velocidade sobre humana, mas Miranda novamente já havia desaparecido de sua vista.
— Onde está? — repetiu a serpente pela quinta vez.
Uma onda de choque repentinamente lhe atingiu de cima, como se alguém
tivesse lhe atirado uma pedra extremamente quente. A serpente novamente reclamou:
— Aiai, minha cabeçinha...
Ela se virou e viu Prya com a varinha apontada em sua direção, dela saia uma pequena fumaça.
— Shio? — disse a serpente, espantada e de guarda baixa.
— Se você se aproximar eu lhe jogo outra! — blefou Prya.
A serpente lhe perguntou se ela conhecia seu mestre Higel.
— Desculpas, nunca ouvi falar! — respondeu Prya. De repente a atmosfera da batalha houvera
mudado para uma simples conversa corriqueira. A serpente parecia curiosa em vez de faminta.
— Se você não conhece Higel, quem te deu essa varinha?
— Essa varinha é de alguém? Eu a achei enquanto passeava pelo bosque — respondeu Prya, em sua inocência.
— Você deve ser uma bruxa, deu sorte de ter achado isso.
— Senhora Serpente, você sabe como podemos sair desse labirinto?
A serpente alegre, disse que a levaria com prazer para o lado de fora,
se antes ela aceitasse passar uma noite em sua toca.
Antes que Prya pudesse responder positivamente, a serpente novamente reclama de dor:
— Aiai meu rabinho!
— Descunpa... esstou con fõmie — respondeu Miranda dando outra mordida na serpente.